As lojas autônomas, aquelas que não necessitam de funcionários e os pagamentos são feitos por cartão ou aplicativo, parecem ter virado uma tendência nos EUA. Há unidades espalhadas por diversos lugares, mas isso não é visto como uma evolução para algumas pessoas. Quando o vereador Bill Greenlee, da cidade da Filadélfia, ouviu que uma cafeteria e um restaurante de saladas perto da prefeitura não aceitavam dinheiro, ele achou que isso era muito injusto.
“Eu posso pagar meu café e bolinho, mas a pessoa atrás de mim, que tem a unidade monetária dos Estados Unidos, que sempre foi aceita na Filadélfia, não pode?”, ele disse em uma entrevista. “Apenas me pareceu errado.”
Com isso em mente, em outubro de 2018, Greenlee fez parte da criação de um projeto de lei exigindo que empresas que tenham lojas autônomas passem a aceitar dinheiro. Em março deste ano, o prefeito Jim Kenney assinou a lei.
As lojas autônomas estão começando a surgir no cenário do varejo mundial, mas elas estão enfrentando muitos obstáculos de legisladores em cidades e estados de diversos lugares. Esses governos estão preocupados com o fato de que, o que alguns veem como inovação tecnológica, pode realmente ampliar as diferenças sociais entre aqueles que têm acesso a serviços financeiros e aqueles que não têm.
A preferência das pessoas por não utilizar mais cédulas de dinheiro tem sido anunciado por décadas. O uso do cartão é visto como uma maneira mais rápida e segura para pagar por coisas. Afinal, você não pode perder uma carteira digital da mesma maneira que você perde uma real. Caso você perca seu cartão, por exemplo, basta apenas ligar para seu banco e solicitar seu bloqueio.
Mesmo assim, o dinheiro ainda é a forma mais utilizada para pagamentos, representando um total de 30% de todas as transações. Essa forma de pagamento também é a preferida daqueles que realizam compras com valores baixos, o que representa um total de 55% das operações.
O que o vereador defende é que, enquanto você pode optar por pagar por uma garrafa de água com cartão em vez de dinheiro, ainda há uma faixa da população que não tem essa escolha. Aproximadamente 8,4 milhões de lares nos EUA foram considerados “sem banco” em 2017, segundo dados levantados por uma pesquisa nacional. Isso significa que ninguém nesses domicílios tinha acesso a uma conta corrente ou poupança.
Filadélfia não é o único estado
Também em março, o governador de Nova Jersey, Phil Murphy, sancionou um projeto de lei que proibia lojas autônomas em seu estado. O deputado Paul Moriarty, que foi o principal responsável pelo projeto, citou diversas razões para a proibição, sendo a principal delas seria a desvantagem dos pobres, dos jovens e até mesmo daqueles que só não querem fazer parte disso. Enquanto isso, lugares como San Francisco, Nova York e Washington consideram fazer algum tipo de regulamentação nessas lojas.
O outro lado
Nem todo mundo concorda com essas proibições. Mike Wallace, vice-presidente de assuntos governamentais da Associação Empresarial e Industrial de Nova Jersey, vê a legislação banindo essas lojas como uma imposição do governo aos donos de empresa dizendo o que eles devem fazer.
Ele observou que existem razões pelas quais as empresas podem não querer aceitar dinheiro, como reduzir os riscos de segurança decorrentes de manter grandes quantias em espécie nos estabelecimentos. Em outras palavras, ele disse que ninguém iria querer roubar uma loja sem uma caixa registradora. Wallace teme que a lei sufoque a inovação e evite que as empresas venham para Nova Jersey.
O jornal Philadelphia Inquirer informou que a Amazon, que lançou uma cadeia de lojas de conveniência sem a necessidade de dinheiro, chamada de Amazon Go, estava tentando ser isenta da lei local. Mas, em abril desse ano, a empresa disse que suas lojas passariam a aceitar dinheiro. Sua primeira unidade a aceitar essa forma de pagamento abriu este mês, em Manhattan. A empresa planeja adicionar esse recurso às suas outras 11 lojas existentes.