O ano de 2017 marca o décimo aniversário do primeiro iPhone, o telefone celular que começou a mudar nossa relação com a tecnologia e nossa percepção do que é um smartphone. É com isso em mente que a Apple lançou nesta semana o iPhone X, seu celular mais inovador em anos.
Essa “inovação” alardeada pela empresa, porém, se limita à sua própria linha de produtos. O iPhone X é diferente de tudo o que a Apple já fez até hoje, incluindo a etiqueta de US$ 1.000, o que o torna o celular mais caro já produzido pela Maçã. Mas não é diferente de tudo o que há no mercado.
Afinal de contas, dez anos após o lançamento do primeiro iPhone, boa parte da concorrência da Apple se adiantou em trazer novidades à indústria, com recursos que só chegaram agora ao iPhone. A empresa de Cupertino disse no evento de lançamento que o iPhone X é “o celular do futuro”, que vai ditar as regras do setor pelos próximos dez anos. Mas, na prática, há muita coisa ali que já existe há tempos no mercado.
Confira, portanto, cinco motivos pelos quais o iPhone X não é tão inovador ou “revolucionário” quanto a Apple quer que você acredite.
Tela “infinita”? Desde 2016
O principal destaque do iPhone X é o display que a fabricante chama de “Super Retina”, um painel de 5,8 polegadas que cobre quase toda a parte frontal do aparelho. O que pode ser novidade em termos de iPhone não é novidade em termos de celulares em geral.
Quem acompanha o mercado sabe que a chinesa Xiaomi foi a primeira a apresentar ao mundo um celular quase sem bordas, o Mi Mix, no ano passado. Em seguida veio a LG com o G6, um smartphone que também usa um painel bem mais amplo, e, mais recentemente, a Samsung popularizou o termo “tela infinita” com o Galaxy S8 e com o Galaxy Note 8. Ou seja, não há nada de realmente novo na tela quase sem bordas do iPhone X.
Navegação só por gestos: ideia do Android
Para dar espaço à nova tela, a Apple teve que sacrificar o botão Home no iPhone X. Isso fez com que toda a navegação do iOS tivesse que ser repensada, o que resultou num novo conceito focado unicamente em gestos. Para ir à tela principal, basta deslizar o dedo para cima a partir da base da tela, por exemplo.
O que pode ser novidade para quem só usou iPhones a vida inteira não é novidade para usuários de Android. Embora a Samsung tenha apostado em botões de início físicos ao longo dos anos, o código-base do sistema operacional do Google funciona muito bem sem eles. Como nos smartphones da Motorola, LG e os do próprio Google, como o Pixel e a linha Nexus, que nunca tiveram um botão Home.
A Central de Controle e o painel de notificações do iPhone X são acessíveis agora por um deslize de cima para baixo no topo da tela. Sempre foi assim no Android, que guarda tanto as funções de controle quanto as notificações num mesmo painel acessível pelo mesmo gesto.
Face ID: tecnologia nova, conceito antigo
Outra novidade do iPhone X é o Face ID, um scanner facial que desbloqueia o smartphone com base no rosto do usuário. A aplicação é nova, já que o sistema usa uma série de sensores para criar um mapa tridimensional da face do usuário, tudo acompanhado por uma rede neural que torna o software mais inteligente e rápido com o passar do tempo.
Mas o conceito, em si, não é novo. Na verdade, o Android já oferece um modo de desbloqueio por reconhecimento facial há anos. Só que o sistema do Google reconhece traços do rosto do usuário e não faz uma captura em 3D, de modo que é fácil enganar esse reconhecimento facial com uma foto do rosto cadastrado, por exemplo.
Neste ano, a Samsung também estreou uma tecnologia que parte do conceito de “olhe para a tela e o celular se desbloqueia”. No Galaxy S8, principal fonte de inspiração para o iPhone X, há um leitor de íris que destrava o celular com base nos olhos do usuário. O único problema é que o sistema não é tão intuitivo quanto o que a Apple promete, e também pode ser enganado com uma foto.
Carregamento sem fio: novidade há dois anos
Graças à sua traseira de vidro, o iPhone X – assim como o iPhone 8 e o iPhone 8 Plus – é compatível com carregamento de bateria sem fio através do protocolo Qi. O sistema até pode ser novidade na Apple, mas, no mercado como um todo, já não é mais novidade pelo menos desde 2015.
O Galaxy Note 5, por exemplo, lançado há mais de dois anos, já era compatível com essa mesma tecnologia. Hoje, carregamento sem fio pode ser encontrado no Galaxy S7, S8, Note 8, LG G6 e na linha Moto Z, da Lenovo, que abusa do carregamento sem fio com seus acessórios modulares, os Moto Snaps.
OLED substituindo LCD? Já era hora
O iPhone X é o primeiro celular a trocar o LCD pelo OLED em sua tela, algo que diversas outras fabricantes de smartphones já têm feito há anos. Esse tipo de tecnologia oferece tons escuros mais realistas, maior ângulo de visão, cores mais vivas e maiores níveis de contraste.
Mas a principal vantagem do OLED sobre o LCD talvez seja a economia de energia. Com esse novo painel, cada pixel na tela oferece uma fonte de luz própria, de modo que os pixels pretos são apenas fontes de luz apagadas. Enquanto isso, no LCD, uma grande fonte de luz suga energia da bateria constantemente até mesmo para iluminar pixels pretos.
A Apple também foi uma das últimas – se não a última – a embarcar nessa tendência de design que vem sendo seguida por outras fabricantes há anos. O motivo para a demora, ninguém sabe.