Aos 69 anos o inventor norte-americano Dean Kamen, mais conhecido como criador do patinete Segway e do braço biônico Luke Arm, tem um novo projeto: desenvolver a infraestrutura necessária para que órgãos humanos possam ser produzidos em série, levando a uma potencial revolução na medicina.

Segundo levantamento da Health Resources & Services Administration (HRSA), parte do Departamento de Saúde do Governo dos EUA, todos os anos 111 mil pessoas no país precisam de transplantes, mas o total de órgãos compatíveis ou disponíveis é bem menor.

Para resolver este problema Kamen usou US$ 80 milhões de um contrato com o Departamento de Defesa dos EUA para criar em 2016 a Advanced Regenerative Manufacturing Institute (ARMI), uma organização sem fins lucrativos que reúne 170 empresas que compartilham recursos e pesquisas com o objetivo de produzir tecidos e órgãos humanos sob demanda.

Kamen não quer produzir os órgãos propriamente ditos. Em vez disso, ele quer criar as máquinas, ferramentas e técnicas necessárias para que isso possa ser feito em linhas de montagem de alta tecnologia, da mesma forma como smartphones são produzidos. Isso inclui impressoras 3D capazes de imprimir tecidos vivos, biorreatores para cultivar células-tronco e equipamento para medir e monitorar em tempo real o desenvolvimento destas células até que se transformem em um órgão funcional.

Nas instalações da ARMI em Manchester, New Hampshire, várias equipes de empresas participantes do consórcio tem laboratórios de pesquisa e trabalham em conjunto. Uma delas, a STEL Technologies, está produzindo Ligamentos Cruzados Anteriores (LCA), um dos quatro principais ligamentos do joelho, que comumente é danificado por excessos em atividades esportivas.

A STEL usa um biorreator desenvolvido por outra empresa participante da ARMI, a BioFabUSA, que usa células-tronco colhidas da medula espinhal do paciente para produzir um novo ligamento em 45 dias. A máquina, automatizada, não requer a atenção de técnicos ou instalações especiais, o que reduz tanto o custo de produção quanto as chances de erros.

Segundo Tom Bollenbach, Chefe de Tecnologia (CTO) da ARMI, equipes do consórcio estão trabalhando em linhas de pesquisa para produção de músculos, ossos, células beta e ilhotas pancreáticas, sendo que as duas últimas são cruciais para a produção de insulina e podem ser a chave para a cura do diabetes. A ARMI também está trabalhando com o Instituto do Coração do Texas para a produção de um coração infantil, que será sua primeira tentativa de criação de um órgão inteiro.

Tudo isso parece coisa de ficção científica, mas Kamen está confiante que os resultados não irão demorar a aparecer. “Em 10 anos ter um órgão, ou parte de um órgão, defeituoso substituído será tão comum quanto muitas das práticas padrão na medicina que vemos hoje”, afirma.

Fonte: OneZero 
Foto: Jason Gessner / Wikimedia Commons (CC-BY-SA 2.0)