O governo do Canadá anunciou ontem que vai contratar uma empresa de pesquisa de mercado para monitorar as redes sociais em busca de padrões de comportamento que podem estar relacionados a tendências suicidas. O anúncio foi feito por meio da publicação de um contrato (pdf) entre o governo do país e a empresa responsável pela tarefa, chamada Advanced Symbolics Inc.
Para buscar esses padrões, a empresa disse à rede canadense CBC que usará uma amostragem de 160 mil contas de redes sociais de cidadãos do país. Analisando os posts públicos feitos por essas contas, a empresa pretende conseguir perceber padrões relacionados a grupos ou a usuários que têm uma probabilidade mais alta de cometer suicídio. A ideia é que a empresa consiga avisar com dois ou três meses de antecedência quando um pico de suicídios pode ocorrer em determinado grupo ou região.
Entender para prevenir
Segundo a CBC, suicídio é a segunda causa de morte mais comum entre canadenses com idades de 10 a 19 anos. No ano passado, o país teve dois picos de suicídios em locais diferentes: em junho, três adolescentes cometeram suicídio na ilha de Cape Breton. Em outubro, na região de Saskatchewan, foram seis meninas que tiraram as próprias vidas em menos de um mês.
Esses picos de suicídios, “por mais infelizes que sejam, eles nos permitem aprender padrões”, disse à CBC o diretor de pesquisa da Advanced Symbolics, Kenton White. A ideia, segundo White, não é que os dados da empresa sejam usados para permitir que o governo entre em contato direto com pessoas específicas. Os dados serão usados para orientar a Agência de Saúde Pública do Canadá (PHAC na sigla em inglês) a tomar atitudes preventivas nas regiões em que o risco de um pico de suicídios for detectados.
De acordo ainda com o noticiário canadense, a empresa de White é a única que foi capaz de prever os resultados das eleições canadenses de 2015, as eleições estadunidenses de 2016 e a votação na qual o Reino Unido saiu da União Europeia. Em todos esses casos, o método usado foi o mesmo: a análise de uma ampla amostragem de posts públicos de usuários nas regiões envolvidas.
Contrato
Inicialmente, o trabalho conjunto da empresa com o governo canadense vai durar seis meses, até o fim de junho de 2018, como um “programa piloto”. Ao fim desse período, o governo poderá decidir se pretende continuar o trabalho com a empresa, podendo renovar o contrato com ela por mais um ano, até cinco vezes seguidas.
Numa declaração enviada por e-mail, a PHAC disse que “para ajudar a prevenir suicídios, desenvolver programas eficientes e reconhecer maneiras de intervir mais cedo, precisamos primeiro entender os vários padrões e características de comportamentos relacionados ao suicídio” – por isso o contrato com a empresa.
No Brasil, a principal linha de prevenção ao suicídio é o Centro de Valorização da Vida (CVV). Ele oferece atendimento 24 horas por meio do número de telefone 141, e também oferece outras opções de atendimento por meio de seu site oficial, que pode ser acessado clicando neste link.