Intel chega aos 50 anos em meio a um dos maiores desafios de sua história

Redação17/07/2018 15h35, atualizada em 18/07/2018 11h00

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Foi em 18 de julho de 1968, há exatos 50 anos, que Gordon E. Moore e Robert Noyce, depois de deixarem a Fairchild Semiconductor, fundaram uma das mais importantes empresas da história da tecnologia: a NM Electronics. O nome não soa familiar? Pois foram precisos apenas alguns dias para Moore e Noyce mudarem de ideia e rebatizarem sua companhia para Intel, uma abreviação de integrated electronics — ou eletrônicos integrados. Reconheceu agora?

Pioneira do segmento de microprocessadores, a marca ainda hoje domina uma parcela considerável do mercado no segmento. A liderança, no entanto, ficou para trás no ano passado. Atualmente, a empresa, que até alguns anos atrás mal tinha concorrência para encarar, enfrenta dificuldades para acompanhar os rivais no desenvolvimento de processadores. Atrasada na redução dos nanômetros, envolvida em polêmicas de segurança, prestes a perder uma de suas principais parceiras (a Apple) e de fora do mundo dos celulares, a Intel completa meio século de vida em meio a um dos maiores desafios de sua história: como continuar relevante?

Da esquerda para a direita: Andy Grove (terceiro funcionário da Intel e CEO em boa parte das décadas de 80 e 90), Robert Noyce e Gordon Moore (Foto: Intel Free Press)

Uma breve história da Intel

A Intel não nasceu dedicada aos microprocessadores, mas já veio ao mundo com potencial para ser gigante. Noyce, um dos dois fundadores, é um dos criadores do primeiro circuito integrado, ou pura e simplesmente “microchip”. Já Moore idealizou e deu nome à famosa lei que regeu o desenvolvimento de chips pela própria empresa até alguns anos atrás e que ainda hoje influencia a indústria: a Lei de Moore. De acordo com ela, a cada dois anos, o número de componentes em um circuito integrado (transistores, resistores, entre outros) dobra — o que, em resumo, torna os processadores cada vez mais rápidos. Não é pouca coisa.

A Intel dedicou os primeiros anos de sua história à fabricação de memórias DRAM, SRAM e ROM. Foi apenas em 1971, com a criação do Intel 4004, que a empresa entrou no ramo de processadores. A companhia o desenvolveu para a Busicom, uma fabricante de calculadoras eletrônicas, e foi a primeira — junto com a também norte-americana Texas Instrument — a apresentar um microprocessador para o mercado.

Um Intel 4004, primeiro microprocessador da Intel (Foto: Thomas Nguyen)

Porém, os chips só foram se tornar o negócio principal da marca na década de 80, com a ascensão do computador pessoal e da IBM. E na primeira década de vida dos PCs populares, a Intel começou seu domínio com o 386 e o 486, sendo praticamente a única fornecedora de processadores para as máquinas mais vendidas no mercado. A predominância da empresa seguiu na década de 90 e início de 2000 com os Pentiums, e a marca até conseguiu se manter isolada na liderança com as primeiras gerações da linha Core, a partir de 2006. Mas aí os smartphones começaram aos poucos a tomar o espaço dos computadores.

As dificuldades nos smartphones — e nos computadores

Não dá para dizer que a Intel não tentou entrar no ramo dos celulares. Ainda que sofressem no consumo de bateria, seus chips Atom ofereciam bom desempenho e equiparam modelos populares de smartphones, como o Asus Zenfone 5 lançado em 2014. Mas a entrada da empresa no segmento se deu tarde demais, e faltou força para tomar um mercado já dominado pela Qualcomm. Sua “aventura” no mundo dos dispositivos móveis foi encerrada em 2016 por não render o retorno financeiro o esperado. A da rival, porém, está aos poucos se expandindo para além dos smartphones.

Os anos perdidos pela Intel, no entanto, foram muito bem aproveitados por outros concorrentes da marca além da Qualcomm. No período em que a empresa tentou e falhou, Apple e Samsung conseguiram evoluir suas soluções de system-on-a-chip nos smartphones. Os sul-coreanos cresceram tanto no ramo de processadores que tomaram o lugar da gigante norte-americana no mercado em 2017, enquanto a fabricante dos iPhones está cada vez mais independente na produção de chips — e deve até mesmo deixar a Intel de lado nos Macs nos próximos anos.

As dificuldades no mobile também não deixaram intactas as iniciativas da Intel no mundo dos computadores pessoais. De 2016 para cá, a empresa abandonou a Lei de Moore e seu modelo Tick-Tock, que consistia em reduzir a tecnologia de fabricação antes de lançar uma nova microarquitetura. A empresa ainda está com dificuldades para sair dos 14 nanômetros usados desde a linha Broadwell, lançada entre 2014 e 2015. E isso tudo sem contar as falhas de segurança Spectre e Meltdown, que afetam praticamente todos os modelos de chip e a reputação da empresa.

Enquanto isso, a AMD, uma rival de longa data da Intel que por pouco não caiu na irrelevância, praticamente renasceu com os novos Ryzens e Threadrippers. A Qualcomm, antes mais dedicada aos celulares, começou a dar seus passos nos notebooks. E a TSMC – que fabrica os chips da Apple – e a Samsung chegaram aos 10 nanômetros, com os coreanos indo além e planejando entrar nos 5 nm já em 2019.

Um chip Core i7 6700K, da linha Skylake (2015), sucessor dos Broadwells e último processador a seguir o modelo Tick-Tock da Intel. Depois dele, vieram os Kaby Lakes, que mantiveram o processo de fabricação de 14 nm introduzido em 2014 (Foto: Eric Gaba)

Como se manter relevante?

O cenário de curto prazo não é dos melhores para a Intel quando falamos de processadores para os consumidores finais. Já há indícios de que a nona geração de seus chips Core vai manter os 14 nanômetros, o que significa que a empresa ainda não conseguiu massificar o uso do processo de fabricação de 10 nm. Rumores também apontam para a Apple abandonando peças da marca até mesmo nos iPhones — o que parece ter interrompido o desenvolvimento de modems 5G pela fabricante de chips. Mas se por um lado a companhia está com problemas, engana-se quem pensa que ela está perdida.

A companhia de Moore e Noyce já é forte e ainda está crescendo no ramo da Internet das Coisas. A concorrência também é pesada no segmento, com presença forte da própria Qualcomm, mas a demanda tem tudo para ser enorme nos próximos anos. A expectativa da consultoria IHS é de que existam mais de 75 bilhões de dispositivos conectados no mundo até 2025. Os resultados financeiros para a Intel já são favoráveis: a área de IoT da empresa gerou uma receita de 804 milhões de dólares no primeiro trimestre de 2018, um crescimento de 17% em relação ao mesmo período de 2017.

Outros setores da gigante também têm garantido bons números. A receita gerada pelo grupo de data centers da companhia no primeiro trimestre deste ano foi 24% maior do que o mesmo período do ano passado, e a crescente avalanche de dados gerados por empresas na linha de Facebook e Google pode render alguns bons frutos para a Intel num futuro próximo.

A empresa também viu sua área de soluções de memória não-volátil (responsável pela tecnologia Optane) crescer 20% em receita no comparativo os primeiros trimestres deste ano e do ano passado. O setor de soluções programáveis (da Altera, de sistemas para a internet das coisas) foi outro que deu um salto em receita: 17% entre 2017 e 2018 no número.

Os bons resultados não mudam muito o fato de que a Intel ainda precisa reverter a situação no ramo dos processadores, mas ao menos dão segurança à empresa para executar os planos que têm em mente para o setor. O processo de fabricação de 10 nanômetros ainda deve levar alguns meses para se popularizar de vez, mas a companhia já anunciou neste ano seus chips com GPUs da AMD integradas e também processadores com cada vez mais núcleos — o que não deixa de ser uma evolução.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital