A implementação de conceitos da indústria 4.0 traz uma série de desafios. É necessário investir para não perder o compasso da inovação. E mais importante do que ser inovador, é preciso se adaptar às exigências dos consumidores, de competidores, do ambiente regulador e de novos modelos de negócio.

estudo da LNS Research, que elenca alguns destes desafios, mostra que a velocidade, confiabilidade, segurança e qualidade não são diferenciais, mas pré-requisitos. Além disso, os custos de produção estão diminuindo, a indústria está virando um commodity e a busca por diferenciação passa pela unificação de processos, tecnologias e pessoas. 

De acordo com o estudo, indústrias em todo o mundo, incluindo no Brasil, devem incorporar a manufatura inteligente, uma arquitetura operacional e as melhores práticas de IIoT (Internet das Coisas Industrial), com foco em análise de dados para além das métricas.

Mas como colocar isso em produção? De acordo com um paper da Deloitte, por meio da união entre sociedade, estratégia, tecnologia e talento. A consultoria acredita que o conceito de indústria 4.0 conecta o mundo físico e virtual, usando dados para maximizar as operações fabris, gerar insights e criar valor aos consumidores. 

O processo é importante

O termo manufatura inteligente é utilizado por empresas que lidam com tecnologias emergentes como robótica, Impressoras 3D, IIOT e Analytics para se transformarem. Mas é bom lembrar que o processo para chegar até lá é igualmente importante. 

De acordo com a LNS Research, não existe uma transformação industrial sem a arquitetura operacional. Ela é que define os componentes digitais críticos e como eles se comunicam por toda a empresa, do chão de fábrica até o último andar. O intuito é conciliar os objetivos operacionais com a estratégia da organização.

As boas práticas falam sobre a colaboração entre equipes, ter uma comunicação aberta, segura e eficiente. Aderir a computação na nuvem para ter a capacidade de analisar dados estruturados e não estruturados. Ter uma visão analítica para gerenciar e interpretar dados de parceiros, dos concorrentes, do mercado e dos bilhões de dispositivos da Internet das Coisas Industrial já instalados. 

Estes movimentos vemos que a indústria brasileira já está fazendo. Mas o que vem pela frente?

Dados são hoje uma parte vital do negócio

Muitos de nós, executivos de tecnologia, estamos familiarizados com os conceitos de Business Analytics e Análise Preditiva. O primeiro significa coletar, medir e analisar dados, para ter ganhos de produtividade. O Analytics necessita do acompanhamento de métricas e de ações corretivas, se for o caso. 

Já a Análise Preditiva é um passo à frente, combinando o aprendizado de máquina e a inteligência artificial para prever a sua posição futura. Assim, é possível saber como serão as vendas do trimestre seguinte, como se deve estimar produção do próximo período, quando se deve fazer a manutenção preventiva de máquinas. 

Estamos assistindo agora uma terceira fase, que ainda não é tão conhecida. A Análise Prescritiva não só antecipa o que vai acontecer e quando vai acontecer, mas também a razão pela qual vai acontecer. Trata-se de uma evolução das tecnologias anteriores. Esta análise pode sugerir quais são opções que um executivo tem para agarrar oportunidades, mitigar riscos, mostrando ainda os prós e contras de cada decisão. 

Um conceito que antecipa um futuro onde as fábricas poderão ser autônomas.

Não existe resposta correta

Claro, todas estas mudanças da indústria 4.0 vão ecoar na sociedade. Um TED Talk do consultor do Boston Consulting Group (BCG) Olivier Scalabre aprofunda quais serão os impactos. Ele projeta um maior crescimento econômico, uma melhor distribuição de renda, que as fábricas vão ficar mais próximas dos centros consumidores, vão causar menor impacto ambiental e permitir a personalização de produtos manufaturados em larga escala. 

É importante ressaltar que quando surge uma tendência – com potencial disruptivo – o mercado vai ser inundado de dezenas de soluções, metodologias e abordagens para resolver as mesmas questões. A Análise Prescritiva é apenas uma delas. No fim do dia, a minha experiência mostra que não existe uma única resposta correta. 

Mas vejo que estes novos conceitos de gestão industrial convergem no uso consciente dos recursos ambientais, no foco em mudanças de processos e da cultura organizacional, na potencialização do talento humano e, não menos importante, que os dados serão o cerne de toda essa transformação.

Concordo com o que diz o CEO da TomTom, Harold Goddijn e também fico espantado ao ver tudo que aconteceu nos últimos dez anos, seja a velocidade da inovação ou nos ciclos dos produtos, cada vez mais curtos. “É desafiador para executivos e colaboradores acompanharem este ritmo. Isso requer pessoas diferentes, novos conjuntos de habilidades, e, por vezes, transições dolorosas”, sentencia.

É preciso ter coragem para agir de maneira decisiva neste novo ambiente complexo e instável, implantar as tecnologias necessárias, treinar a força de trabalho com novas habilidades e se sobressair na quarta revolução industrial. 

O lado positivo é que estamos apenas no começo desta jornada.