Ian Burkhart, um estudante de produção de vídeo na Universidade de Ohio foi com um grupo de amigos para o litoral da Carolina do Norte durante o verão de 2010. Em um acidente no mar, bateu em um banco de areia e perdeu os movimentos das pernas, das mãos e quase completamente a sensação de toque.
Após anos se adaptando à sua nova realidade, Burkhart se inscreveu em um programa experimental a fim de implantar um pequeno chip em seu cérebro e usá-lo para ampliar os movimentos dos braços e recriar artificialmente o senso de toque. “Era muito a considerar, mas a paralisia não era algo com que eu estava pronto para viver”, afirmou. Agora, seis anos após o início do estudo, ele não apenas é capaz de sentir, como possui movimento para jogar uma versão adaptada do jogo Guitar Hero.
A interface cérebro-computador (BCI) de Burkhart foi implantada cirurgicamente em 2014 e, mesmo sendo pouco maior que um grão de arroz, monitora os sinais elétricos do seu córtex motor primário. Uma lesão grave na medula, como a do estudante, impede que os sinais elétricos cheguem no cérebro, impedindo os movimentos.
Porém, estudos recentes mostraram que, mesmo em lesões “completas” de medula, alguns fragmentos da fibra espinhal sobrevivem. “Mesmo esse pequeno contingente de fibras pode levar um sinal razoável ao cérebro”, afirmou o neurocientista Patrick Ganzer. Ainda assim, esses sinais são fracos demais para uma pessoa paralisada perceber automaticamente, fazendo com que não sintam nada e não consigam se mexer. E é nesse ponto que o chip entra.
Interface cérebro-computador
O BCI capta os sinais e os envia, através de um cabo, para um computador. Lá, um programa decodifica os sinais correspondente à sensação de toque e ao movimento, que são direcionadas a eletrodos enrolados no braço de Burkhart. Primeiro, o movimento foi restaurado, mas, sem a sensação do toque, era algo que exigia toda a sua atenção. “Era realmente desafiador, especialmente se eu quisesse pegar algo atrás de mim ou em uma bolsa”, contou.
O passo dois foi acrescentar o senso de toque, o que se mostrou mais complicado do que o esperado. Essa sensação é registrada em outra parte do cérebro, o que dificultava a percepção do chip. Após uma série de exames, conseguiram encontrar um sinal fraco criado pelo toque, o que significava que um programa de computador poderia convertê-los em vibração e direcioná-los aos eletrodos do seu braço, fazendo com que soubesse que estava tocando algo.
Apesar do sucesso laboratorial, Ganzer e sua equipe querem melhorar o sistema para uso diário. Os pesquisadores já reduziram os eletrônicos usados para uma caixa, do tamanho de uma fita VHS, que pode ser montada na cadeira de rodas de Burkhart. O sistema de eletrodos foi reduzido a uma luva, e o estudante já foi capaz de controlado através de um tablet em sua casa. “Meu objetivo é colocar isso nas mãos de outras pessoas com paralisia e ver até onde podemos levar a tecnologia. A maior coisa que me motivou foi essa esperança para o futuro”, concluiu Burkhart.
Via: Wired