No dia 15 de outubro, diversos brasileiros acordaram antes da hora e perderam uma hora de sono à toa. Menos de uma semana depois, no dia 21 de outubro, aconteceu de novo, mas a ocorrência deixou ainda mais vítimas e gerou um caos ainda maior.
Tudo isso aconteceu graças a uma falsa atualização para o horário de verão. Relógios de painéis públicos, PCs, TVs por assinatura e principalmente smartphones foram automaticamente adiantados em uma hora, embora o horário de verão deste ano só comece em 4 de novembro.
O que não ficou claro até agora é: de quem é a culpa? E conforme nos aproximamos de mais um fim de semana, muita gente se pergunta: há risco de isso acontecer de novo? O Olhar Digital foi atrás das respostas diretamente com as empresas responsáveis pelos relógios digitais do Brasil inteiro.
Quem escolhe o horário do seu celular – e como?
Todo smartphone, seja Android ou iOS, oferece configurações para o ajuste de data e hora do sistema operacional. Você pode definir o horário manualmente ou pode deixar as escolhas de data e hora e a de fuso horário automáticas.
Se você opta pela data e hora automática, a informação vem da sua operadora. Se você escolhe pelo fuso horário automático, a informação vem de uma aplicação inserida no sistema operacional pela fabricante do celular, como Samsung, Motorola, LG ou Apple, por exemplo.
No caso do iOS, essa aplicação é de responsabilidade da Apple. No caso do Android, as “sementes” deste software são plantadas juntamente com o código-fonte básico do sistema operacional fornecido pelo Google, mas compete à fabricante desenhar a função que vai aparecer na versão final do celular.
Ou seja, a responsabilidade pela hora que aparece no seu celular é, em parte, da operadora, e em parte da fabricante do aparelho. Por isso, procuramos as quatro principais provedoras do país – Claro, Tim, Vivo e Oi – para saber o que elas têm a dizer.
O que dizem as operadoras
Todas as operadoras procuradas disseram que quem vai se pronunciar sobre o assunto em nome delas é o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviços Móvel Celular e Pessoal, o Sinditelebrasil, que representa o setor. Ao Sinditelebrasil, encaminhamos as seguintes perguntas:
- Como é feita a atualização automática de relógios? Em qual relógio oficial as operadoras se baseiam?
- O que deu errado para que os relógios de tantas pessoas fossem alterados por engano?
- Há risco de que os relógios sejam alterados acidentalmente de novo?
A resposta que recebemos foi, basicamente, de que as operadoras não são culpadas pela bagunça. Eis o posicionamento do Sinditele na íntegra:
“O Sinditelebrasil reforça que a alteração no relógio no último dia 21 não ocorreu nas plataformas de rede das operadoras, e sim em aplicativos externos instalados nos aparelhos, fora do domínio de controle das operadoras. As empresas reforçam que programam o horário de suas plataformas de rede e serviços de acordo com o calendário oficial, reprogramando sua rede quando há alteração. Além disso, realizam o monitoramento online nas datas de mudança para se certificarem de que a alteração ocorreu conforme o esperado.”
O que as fabricantes têm a ver
As operadoras dizem que não têm culpa, e que a reponsabilidade é do sistema de cada aparelho. Para definir o horário do dispositivo, tanto o Android quanto o iOS utilizam um banco de dados fornecido pelo IANA (Internet Assigned Numbers Authority), uma organização que faz parte da Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números (ICANN, na sigla em inglês). O banco de dados em questão é o tzdatabase.
O tzdatabase é uma compilação de dados de código aberto usado pela maioria dos sistemas informatizados, incluindo o Android, o iOS e o Windows. Os dados de fuso horário que se encontram ali são fornecidos por governos e voluntários. Alterações como a do Horário de Verão devem ser fornecidas por e-mail ao IANA com pelo menos um ano de antecedência.
“Com menos de um ano de antecedência, há uma boa chance de que alguns relógios baseados em computador operem incorretamente após a alteração, devido a atrasos na propagação de atualizações de software e dados”, diz o IANA no seu site oficial. “Quanto menor o tempo de aviso, maior a probabilidade de que problemas com relógios apareçam”.
Nós procuramos o ICANN, responsável pelo IANA, e perguntamos se uma alteração incorreta nos dados do tzdatabse podem ter causado o problema. “Uma resposta curta seria sim”, disse o órgão, por meio da sua assessoria de imprensa. Leia a resposta na íntegra:
“Tipicamente, [as alterações] vêm do banco de dados do fuso horário da IANA. Normalmente, esses tipos de problemas ocorrem porque os fornecedores de software não estão atualizados com a versão mais recente [do tzdatabase] ou porque os governos mudaram as regras de fuso horário com pouca antecedência.”
Pode acontecer de novo?
Até o fechamento desta reportagem, o ICANN não forneceu detalhes a respeito de um histórico de alterações no tzdatabase que possa ter afetado os horários de tantos smartphones. Já as operadoras, corresponsáveis pelo relógio do seu celular, dizem que não têm culpa pela confusão dos últimos dias 15 e 21.
Então, afinal, há chance de acontecer de novo? A possibilidade é pequena, mas existe. O caso do primeiro falso update ocorreu na madrugada do dia 14 para o dia 15 de outubro, mesma data em que o horário de verão do ano passado foi instaurado, o que explica essa primeira confusão.
Tradicionalmente, o horário de verão no Brasil começa no terceiro domingo de outubro – por isso o segundo falso update caiu no dia 21. Graças a uma mudança sancionada pelo presidente Michel Temer em 2017, foi feita uma exceção para este ano.
Portanto, há pouca chance de que um novo falso update ocorra no próximo domingo (28), já que não existe motivo para que essa data seja escolhida para o horário de verão. O que pode acontecer, porém, é que os relógios não se adiantem automaticamente no dia 4 de novembro, quando começa de verdade o horário de verão.
No dia 4, vale a pena ficar de olho no relógio do seu celular e mudar o horário manualmente se for necessário, caso o update correto não seja liberado pelo sistema operacional ou pelas operadoras. Veja aqui como corrigir a hora errada do seu aparelho.