História mostra que acelerar produção de vacina pode ser desastroso

Dados sobre programas de vacinação que fracassaram nos Estados Unidos mostram que pular etapas na aprovação de uma vacina pode ter efeitos graves e duradouros
Redação02/09/2020 16h44, atualizada em 02/09/2020 19h23

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Um debate está gerando muita discussão nos Estados Unidos, sobre qual deve ser a atitude dos órgãos sanitários frente à urgência de uma vacina para a Covid-19. Apesar de o vírus ter causado mais de 180 mil mortes até o começo de setembro no país, a imunização ainda parece distante.

No entanto, uma aprovação precipitada da vacina poderia trazer consequências gravíssimas, segundo estudiosos das universidades de Washington e de Michigan. O aviso foi dado pois existe a possibilidade real de aprovação de uma vacina, mesmo sem o cumprimento de todos os testes e procedimentos recomendados. O órgão que cuida da liberação de medicamentos e drogas no país é a FDA (Food and Drug Administration).

O sinal amarelo acendeu quando um encarregado da FDA – órgão que cuida da liberação de medicamentos e drogas no país – disse ao Financial Times que a FDA poderia utilizar um mecanismo chamado emergency use authorization (autorização de uso emergencial, na tradução).

shutterstock_1633674832.jpgCentro da FDA em Washington. Imagem: Shutterstock

Existe a possibilidade de se liberar o uso de um medicamento ainda não totalmente testado quando não há nenhuma outra alternativa disponível. Entretanto esse tipo de autorização não significa aprovação completa e pode ser revista e suspensa à luz de novas evidências.

É o caso da hidroxicloroquina e da cloroquina, que foram autorizadas dia 28 de março, mas tiveram a licença revogada em junho após comprovações de que causavam efeitos colaterais perigosos.

Vale lembrar que, para uma vacina ser aprovada pela FDA, cientistas têm que ter acesso a dados a respeito de testes clínicos realizados em voluntários para que se prove que a vacina é realmente efetiva e segura, ou seja, que não gere efeitos colaterais. Este processo pode levar meses ou até anos.

Incidentes com vacinas

Em 12 de abril de 1955, o governo americano anunciou o programa de vacinação para a poliomielite, doença que acometia de 13 a 20 mil crianças todos os anos. Em questão de dias, laboratórios produziram milhares de doses, mas lotes de uma empresa, a Cutter Labs, continham o vírus vivo. Devido a esse erro na produção, milhares de crianças foram infectadas com o vírus da poliomielite e algumas perderam a vida.

Apesar dos erros com a vacina da poliomielite, de 1955 a 1963, entre 10% e 30% das vacinas da doença estavam contaminadas com o simian vírus 40 (SV40). Esse vírus chegou aos Estados Unidos por meio de macacos importados da Índia, animais que tinham seus tecidos usados para produzir a vacina da poliomielite.

shutterstock_237449083.jpgSimian vírus (SV40). Imagem: Shutterstock

Outro caso é o da epidemia da gripe suína de 1976, que nunca aconteceu, apesar da previsão de cientistas na época. O presidente em exercício, Gerald Ford, tomou a decisão de fazer a imunização compulsória, depois de ouvir os alertas de alguns especialistas.

O programa foi tão precipitado que, em sete meses, 40 milhões de pessoas foram vacinadas. Mais tarde ligaram a vacina a um problema neurológico chamado de síndrome de Guillain-Barre. O Centro de Controle de Doenças disse que o risco da síndrome cresceu na ordem de um caso adicional para cada 100 mil habitantes.

Com base em tantos exemplos precipitados que não deram certo, não há dúvidas de que é primordial que a vacina para a Covid-19, não apenas nos Estados Unidos, respeite os estágios de desenvolvimento de maneira adequada.

Fonte: CNN

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital