O Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovações (MCTI) anunciou em evento que os estudos que conduziu com o vermífugo nitazoxanida, conhecido pelo nome comercial Annita, conseguiu reduzir a carga viral em casos de Covid-19, o que poderia ter efeitos positivos no tratamento de doentes. No entanto, nenhum dado que sustente essa afirmação foi apresentado.

O ministro Marcos Pontes defendeu o sigilo sobre os dados afirmando que o artigo foi encaminhado a uma revista científica internacional, que exige o ineditismo do conteúdo para publicação. Apesar da afirmação, durante toda a pandemia, não faltaram pre-prints circulando abertamente antes de serem revisados e publicados em canais formais, o que permitiria a apresentação das informações sem que elas deixem de ser inéditas.

Durante a apresentação, Pontes explicou que a aplicação da nitazoxanida no combate à Covid-19 não teria fins profiláticos ou preventivos, mas sim para a utilização nos primeiros sintomas, visando potencialmente evitar o desenvolvimento de uma forma grave da doença. Em entrevista ao programa de rádio A Voz do Brasil, o ministro ressaltou que foi percebida uma inibição da carga viral em 95%.

Sem dados, o governo apresentou apenas uma animação com um gráfico apontando para baixo, supostamente para representar a redução da carga viral. Pouco tempo após o evento, foi descoberto que o vídeo era, na verdade, comprado do banco de imagens Shutterstock, e não tinha qualquer ligação com o estudo.

As pesquisas com a nitozaxanida patrocinadas pelo MCTI tiveram seu pontapé inicial em abril. Na ocasião, Marcos Pontes havia anunciado que um medicamento havia demonstrado 94% de eficácia em testes in vitro para conter o coronavírus. Na época, o ministro tentou manter o nome do medicamento em sigilo, para evitar a correria desenfreada para as farmácias e automedicação, como se viu com a hidroxicloroquina. No entanto, depois de um dia já se sabia a qual droga o ministro se referia.

Apesar da promessa de um resultado positivo da nitazoxanida pelo governo, já existem alguns estudos que apontam no sentido oposto. Estudos da USP divulgados em julho, por exemplo, rejeitaram tanto o medicamento quanto outro vermífugo, a ivermectina, que não apresentaram resultados satisfatórios em experimentos in vitro.