O Google e a NASA adquiriram em 2013 um dos supostos computadores quânticos produzidos pela D-Wave. Contudo, cientistas jamais chegaram a uma conclusão definitiva sobre se, de fato, o dispositivo se baseava em mecânicas da física quântica para realizar cálculos. A empresa anunciou esta semana, porém, que finalmente tem provas de que possui o primeiro computador quântico do mundo.
Enquanto computadores convencionais usam bits em 0 ou 1 para resolver problemas e executar tarefas, seguindo as leis da física que conhecemos há séculos, computadores quânticos seriam, teoricamente, capazes de realizar as mesmas funções com “qubits”, que existiriam tanto em 0 quanto em 1 e até em 2. Se forem reais, esses dispositivos seriam até 3 mil vezes mais rápidos do que um supercomputador.
O fato é que se sabe tão pouco sobre o reino da física quântica que fica difícil determinar o que é necessário para construir um computador quântico. Contudo, uma publicação feita pela equipe do Google esta semana afirma ter provas de que seu aparelho de fato se beneficia de efeitos da física quântica para resolver problemas de forma muito mais rápida.
Para isso, os cientistas do laboratório de pesquisa do Google colocaram dois computadores – um regular e um quântico – para solucionar um problema de arrefecimento (técnica da ciência da computação que usa conceitos da termodinâmica para gerar resultados probabilísticos).
O computador comum, com apenas um núcleo, teve que usar uma técnica conhecida como “arrefecimento simulado” (ou “simulated annealing”), enquanto o suposto computador quântico teve que executar a mesma tarefa usando o chamado “arrefecimento quântico” (“quantum annealing”). A expectativa era de que o segundo dispositivo fosse extremamente mais rápido do que o primeiro.
“Nós descobrimos que, para problemas envolvendo quase 1.000 variáveis binárias, o arrefecimento quântico superou significativamente sua contraparte clássica, o arrefecimento simulado. Ele foi mais de 108 vezes mais rápido”, descreveu o Google em sua publicação. Ao final do experimento, o tempo total para o computador quântico finalizar o processamento foi 100 milhões de vezes mais rápido do que um computador comum, disseram os pesquisadores.
No entanto, a publicação do Google não é prova definitiva de que temos o primeiro computador quântico do mundo. A pesquisa ainda precisa passar por análises e revisões de outros cientistas antes de ser comprovada.
O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), por exemplo, já chegou a apontar para o fato de que o computador comum usado no experimento pode ter sido prejudicado na comparação ao usar um código ultrapassado para resolver o problema, enquanto uma solução alternativa poderia tê-lo feito superar seu colega quântico em termos de velocidade.
Além disso, o resultado da pesquisa ainda está longe de provocar mudanças no mercado. Enquanto o Google trabalha para construir o próprio computador quântico, John Giannandrea, vice-presidente de engenharia da empresa, declarou que “é possível que se leve anos até que esse estudo faça alguma diferença para os produtos do Google”.
No entanto, o executivo afirma que o desenvolvimento de computadores quânticos é uma peça fundamental para uma mudança brusca na história da tecnologia. “Nós já temos encontrado problemas na criação de nossos produtos que são impossíveis de solucionar com os computadores existentes”, disse. “E nós temos muitos deles.”