Geleiras na Antártida derretem mais rápido que o previsto, alertam estudos

Pesquisas conduzidas pelos EUA e Reino Unido mostram que as geleiras tem sido afetadas por mudanças climáticas na superfície e embaixo da água
Redação16/09/2020 09h43, atualizada em 16/09/2020 13h40

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Imagine um pedaço de gelo do tamanho do estado do Paraná. Essa foi a área estudada por pesquisadores financiados por Estados Unidos e Reino Unido em um investimento de cerca de US$ 50 milhões. O objetivo? Determinar a estabilidade das geleiras da porção oeste da Antártida e a velocidade com que elas estão derretendo.

O projeto, que prevê uma duração de cinco anos, já lançou duas publicações na revista científica Cryosphere com resultados alarmantes.

O primeiro texto, assinado pela geofísica Kelly Hogan, analisou a velocidade com que as geleiras tem derretido em sua parte submersa por conta da circulação de águas quentes. Para isso, o navio em que estava utilizou uma sonda montada embaixo da embarcação para mapear a superfície oceânica com imagens de sonar, criando um mapa 3D. O mapeamento mostrou que grandes correntes de água quente estão se movendo na base da geleira.

Geleiras na Antártida derretam mais rápido do que o previsto, de acordo com estudos publicados na revista Cryosphere. Foto: elmvilla/iStock

Hogan comenta que a geleira Thwaites, nome da área estudada, é muito vulnerável e sofre grande interferência das mudanças climáticas. Ainda, “um dos fatores é ter água quente chegando por baixo da parte flutuante e acelerando o derretimento.” E se trata de um evento que se alimenta, já que as correntes quentes derretem a base da geleira mais rápido, permitindo que mais água quente entre em contato com ela.

Mas esse foi apenas o primeiro estudo. O segundo, liderado por David Porter, utilizou uma aeronave para sobrevoar toda a região, equipados com um radar com capacidade de penetrar a superfície da geleira e registrar informações do que há embaixo do gelo, além de um equipamento utilizado para detectar alterações gravitacionais na geleira, que revelou a densidade da plataforma continental embaixo do gelo.

Até onde vai o problema

Porter utilizou as informações das alterações gravitacionais para criar um mapa da forma da geleira e do fundo do mar. Na primeira pesquisa, os dados obtidos “mostraram que existem grandes caminhos que permitem águas quentes se moverem na costa, pela plataforma continental e entrar em contato com o gelo.”

Esses canais chegam a cerca de mil metros de profundidade e alcançam uma área entre 25 e 40 quilômetros, e que essa é uma das razões para as Thwaites estarem mudando. Ainda que essas e outras geleiras não estejam a beira do colapso por serem muito grandes, esses são sinais preocupantes de que um aceleramento de seu derretimento pode elevar os níveis do mar em todo o mundo.

Continente antártico possui diversas bases científicas espalhadas pela parte continental e em suas geleiras. Imagem: Dvougao/iStock

Os primeiros sinais de problema, no entanto, vieram de outro estudo, financiado pelos Países Baixos, França e EUA, onde imagens de satélite mostraram fendas e fraturas nos blocos de gelo. Os resultados indicam que essas falhas estruturais criaram um efeito repetitivo que acelera a criação de mais falhas e o derretimento da geleira.

Além disso, Stef Lhermitte, um dos líderes da pesquisa, juntamente com seu grupo, foi capaz de criar um modelo computacional para prever o futuro das geleiras da Antártida e o aumento do nível do mar por meio da movimentação desses blocos que se soltam da plataforma continental.

Lhermitte diz que “estes são gigantes adormecidos” e defende um acompanhamento de perto das geleiras e suas alterações na tentativa de encontrar sinais de mudanças bruscas que podem levar a uma catástrofe ambiental.

Fonte: Wired

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital