Funcionários da Amazon veem vídeos de câmeras de segurança de usuários

Segundo a Amazon, conteúdo só é analisado por olhos humanos quando o usuário decide reportar algum erro
Renato Santino11/10/2019 00h18, atualizada em 11/10/2019 00h25

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Recentemente, as empresas de tecnologia receberam críticas quando foi descoberto que suas assistentes virtuais, como Google Assistente, Siri e Alexa, gravavam áudio que era analisado por ouvidos humanos, o que não ficava claro para os usuários. Agora, a Amazon se vê em uma nova polêmica relacionada a privacidade de seus usuários, envolvendo seu serviço de câmeras de segurança.

A plataforma Cloud Cam utiliza inteligência artificial para analisar as imagens geradas pela câmera, o que ajuda a selecionar clipes que sejam importantes para o usuário, ou para detectar se alguém está tentando entrar na sua casa sem a devida permissão. No entanto, a inteligência artificial às vezes erra, e para melhorar a tecnologia, terceirizados na Índia e na Romênia são pagos para revisar as imagens e catalogá-las, de modo a evitar que erros se repitam.

A Amazon se defende afirmando que todos os clipes enviados para análise de forma voluntária pelos usuários. Caso contrário, os vídeos permaneceriam examinados apenas pela inteligência artificial. No entanto, a Bloomberg, que teve contato com pelo menos cinco pessoas que trabalharam nessa função de revisão, relata que não era incomum que chegassem para análise vídeos que usuários muito provavelmente não gostariam que fossem vistas por olhos humanos, inclusive com imagens de sexo em alguns casos mais raros.

Segundo a publicação, um dia típico no trabalho dessas pessoas consistiria em analisar cerca de 150 gravações com duração de 20 a 30 segundos. Quando um vídeo considerado inapropriado chegava para análise ele era marcado como tal e descartado pelo funcionário para que não fosse usado para treinar a inteligência artificial.

Ainda assim, a Amazon não deixa explícito em qualquer momento que pessoas reais verão os vídeos enviados para análise pelo usuário. Uma página de perguntas e respostas sobre o Cloud Cam tenta apresentar essa situação, mas nunca afirma com todas as palavras que seres humanos terão acesso aos vídeos se os clientes optarem por enviar o material para análise. “Somente você ou pessoas que tenham informações da sua conta podem ver seus clipes, a menos que você escolha enviá-lo para nós diretamente para solucionar problemas. Consumidores também podem escolher compartilhar clipes via email ou mídias sociais”, diz o texto. Ao Gizmodo, a Amazon informa que o usuário normalmente opta por enviar esses dados para análise quando percebe algo de errado, como um clipe que não tem nenhum movimento sendo apontado como um possível movimento suspeito, ou uma quando percebe uma gravação resolução insatisfatória. O representante também explicou que os usuários que decidem fazer isso recebem um aviso de que as imagens “serão usadas para

Essa também foi a reclamação que fez com que as empresas de tecnologia fossem alvo de queixas quando foi exposto que funcionários ouviam solicitações de usuários que utilizavam assistentes digitais. Existe uma falta de transparência grave na forma como os dados são tratados, e é provável que muitos usuários optassem por não fornecer determinadas informações se tudo fosse colocado 100% às claras.

Também é preocupante uma acusação de que alguns desses funcionários estariam compartilhando esses vídeos enviados para análise com pessoas de fora do círculo restrito de acesso. A Amazon, no entanto, ressalta que essa prática é completamente proibida, e até mesmo celulares são vetados na área em que essas pessoas trabalham, com uma série de medidas de segurança para impedir que informações de usuários vazem.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital