Foto da Playboy tem sido pilar da tecnologia por anos; entenda

Registro da modelo Lena Söderberg para a revista foi usada durante anos para testar novas tecnologias de imagens
Redação26/11/2019 12h31, atualizada em 26/11/2019 13h06

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Em 1972, uma sueca chamada Lena Söderberg aceitou um trabalho de modelo com o fotógrafo Dwight Hooker. A jovem de 21 anos havia acabado de chegar aos Estados Unidos. Sem dinheiro, o nome da revista para qual posava, Playboy, não significava muito para ela, mas o cachê para o ensaio, sim. “Era dinheiro, e eu não tinha muito disso” afirmou a modelo em entrevista ao The Wire, no começo desse ano.

Na imagem mais famosa da sessão, Söderberg fica apenas de chapéu, nua em frente a um espelho de corpo inteiro, olhando por cima do ombro. A fotografia foi a principal da edição de novembro de 1972.

Reprodução

No ano seguinte, uma equipe de engenheiros do Instituto de Processamento de Sinais e Imagens da Universidade do Sul da Califórnia procurava uma imagem para testar um novo software de compactação de imagem. Um homem no laboratório ofereceu sua cópia da Playboy. Era início dos anos 70 e, em um laboratório apenas com homens, levar uma revista masculina para o trabalho era algo comum de se fazer.

Um colega cortou a foto dos ombros para cima e passou a imagem de Lena, como ficou conhecida, pelo conversor. Funcionou. O laboratório distribuiu cópias de sua imagem editada com sucesso aos visitantes, e outros programadores usaram a foto para testar seus próprios algoritmos e comparar resultados com os outros.

A imagem de Lena era ideal para algoritmos de processamento de imagem, com ricos contrastes, cores e detalhes ancorados nos contornos familiares de um rosto humano. Outras imagens possuíam as mesmas qualidades, mas esta atraía o setor de processamento de imagens predominantemente masculino. Ondas, compressão, reconstrução, redução de ruído. Qualquer que seja a tecnologia, a foto de Lena foi usada para testá-la. Faça o download de uma das muitas cópias de uso gratuito de Lena disponíveis na internet e você vai obter um arquivo JPEG, formato desenvolvido com o uso da imagem da modelo.

Mesmo quando a tecnologia e os engenheiros que trabalhavam com ela envelheceram e mudaram, a imagem continuou ali. Ela persistia nos laboratórios como se fosse uma parte inalterável da mobília e não o resultado de uma escolha individual feita em uma era totalmente diferente.

No auge da popularidade da Lena, o argumento mais forte a favor para o uso da imagem na pesquisa era o de que tantos outros haviam feito o mesmo. Tirada do seu contexto original, a imagem era simplesmente um padrão reconhecível de pixels que poderia ser manipulado, compactado e depois comparado com os resultados de outras compressões da mesma imagem.

“Era usada em tudo, de jornais a livros didáticos”, disse Deanna Needell, professora de matemática da UCLA. “Durante muito tempo, não participei de uma única conferência em processamento de imagens em que ela não apareceu na palestra”.

As implicações da vida real de uma página central da Playboy dos anos 70, sendo apresentada como uma imagem neutra, eram frequentes em 2014, por exemplo. Maddie Zug, na época estudante do ensino médio, era uma das poucas garotas de uma classe de inteligência artificial, da maioria masculina, a usar a imagem de Lena em uma tarefa de classe de codificação.

O professor instruiu enfaticamente a turma a não procurar a imagem completa no Google, o que é claro que todos fizeram prontamente. Instantaneamente, Zug viveu a desajeitada experiência de ser uma das poucas garotas em uma sala de adolescentes rindo de uma foto de uma mulher nua.
Política de gênero à parte, a principal razão para abandonar Lena é a tecnologia. O smartphone comum tira fotos com exponencialmente mais pixels do que uma digitalização de uma revista da década de 1970.

É o ambiente em torno da imagem, nem tanto a própria Lena, que é o tema de “Losing Lena”, um pequeno documentário que foi lançado nos EUA na semana passada.

Enquanto a imagem era o assunto principal no início do processo de filmagem, conforme as entrevistas continuavam, ficou claro que “não era apenas a questão da imagem de Lena”, disse a produtora Francesca Walker. “Foi um problema de imagem que se expandiu além do gênero”, acrescentou.

O filme, com meia hora de duração, está disponível no Facebook Watch. O documentário começa e termina com entrevistas da própria Lena, agora uma avó com cabelos brancos que vive em Sodertalje, na Suécia.

Via: One Zero

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital