Fornecedora da Apple é acusada de expor funcionários a materiais tóxicos

Redação17/01/2018 11h32, atualizada em 17/01/2018 12h25

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Um relatório publicado pela agência chinesa de fiscalização de trabalho China Labor Watch (CNL) sobre a Catcher Technology, uma das principais fornecedoras de peças para os iPhones e MacBooks da Apple, revelou que a empresa comete uma série de violações quanto a leis trabalhistas. Elas incluem desde horas extras obrigatórias não remuneradas até exposição dos trabalhadores a materiais tóxicos sem proteção.

Funcionários da empresa trabalhavam em condições perigosas sem proteção adequada, o que chegou a causar problemas respiratórios, de visão e de audição para alguns deles. O treinamento, que a empresa alegava ser de 24 horas de duração, era feito em apenas uma hora; no final, os funcionários recebiam provas para completar, mas o próprio examinador dizia as respostas que deveriam ser preenchidas.

De acordo com o The Verge, o salário dos trabalhadores da fábrica era de US$ 302,84 (cerca de R$ 978) por mês. No final dos turnos de trabalho, que chegavam a ser de dez horas por dia seis vezes por semana, os trabalhadores iam para quartos apertados e sujos. Em cada um deles, oito trabalhadores dividiam quatro beliches, sem aquecimento adequado, segundo a Bloomberg.

Quando um repórter do site visitou a fábrica da empresa, em janeiro, as temperaturas externas estavam próximas de 0ºC, e os funcionários mantinham as janelas fechadas como única forma de aquecimento. Uma foto do quarto pode ser vista abaixo:

Reprodução

Casos de abuso

O investigador da CNL suspeita que uma das funcionárias da Catcher chegou a sofrer um aborto por causa das más condições de trabalho. Essas más condições incluem turnos inteiros em pé e exposição a altos níveis de ruído e cheiros fortes sem proteção. Após o aborto, a moça e seu marido solicitaram dispensa da fábrica para poder voltar a sua cidade, que ficava a dez horas de ônibus no local da fábrica.

Mas a Catcher aprovou apenas a dispensa da moça. Segundo o setor de recursos humanos, não havia motivo para que o marido deixasse de trabalhar. Se ele saísse, não receberia seu salário, quanto menos a rescisão e os direitos relacionados. A empresa manteve essa decisão mesmo após ele explicar que o estado de saúde de sua esposa exigia que ela viajasse acompanhada durante as dez horas no ônibus. A dispensa dele só teria sido aprovada após a própria moça ligar e passar mais de meia hora no telefone insistindo.

Em outro caso, um funcionário que trabalhava no setor de moldagem da fábrica sofreu casos repetidos de rinite, mesmo após buscar tratamento. O problema seria causado pela poeira de metálica que fica no setor; a filtragem do ar é feita com regularidade insuficiente, para economizar energia da fábrica, o que coloca em risco a saúde dos trabalhadores. As máscaras que a Catcher oferece não são proteção suficiente e a empresa, sabendo disso, supostamente distribuía máscaras mais resistentes quando sabia que uma inspeção estava próxima.

Houve também casos de mulheres que desenvolveram sintomas de labirintite, como tontura e rejeição a ambientes lotados, por causa do barulho excessivo às quais elas eram expostas sem proteção. Segundo o inspetor da CNL, os trabalhadores que operavam máquinas de corte na fábrica não recebiam óculos de proteção; isso lhes causava dor e irritação nos olhos, além de problemas de visão, que persistiam mesmo meses após eles deixarem de trabalhar lá.

Relatos

Uma funcionária da empresa disse à Bloomberg que suas mãos ficavam brancas e dormentes no fim de cada dia de trabalho. Outro funcionário, de 25 anos e pai de dois filhos, relatou que “é necessário trabalhar constantemente, sem pausa” para cumprir a meta de produzir 1.450 unidades de dispositivos eletrônicos a cada 12 horas. Outros funcionários também demonstraram preocupações com sua saúde e segurança por causa da falta ded equipamento de proteção que recebiam.

“Eu cheguei a pedir protetores auriculares muitas vezes, mas eles não tinham. O barulho alto das máquinas fazia minha cabeça doer e me deixava tonto”, relatou outro trabalhador. As luvas de borracha dadas pela empresa também não duram sequer um dia, segundo trabalhadores ouvidos pelo site, o que leva alguns dos operários a comprar luvas de cozinha descartáveis para se proteger melhor.

“Após poucas horas, as luvas incham e amolecem, como se estivessem corroídas. Os dedos ficam expostos”, disse outro funcionário. O cheiro forte dos materiais usados na montagem também é uma reclamação constante: “Nos primeiros dias de trabalho, quando eu abria o compartimento, o cheiro me deixava enjoado”, disse outro trabalhador.

Resposta

Numa declaração enviada à Bloomberg, a Apple disse que enviou uma equipe para investigar a fábrica. A equipe teria feito uma auditoria no local e entrevistado 150 pessoas, e não encontrou nenhum indício de violações trabalhistas. Segundo o relatório de responsabilidade de fornecedores que a empresa publicou em 2016, a Apple realizou 705 auditorias desse tipo em 2016.

Por outro lado, a CNL considerou que os estabelecimentos que ela visitou violavam 14 pontos do documento de responsabilidade de fornecedores da Apple. Entre outros pontos, o documento reforça que os fornecedores “devem providenciar e manter um ambiente seguro”, “os trabalhadores devem ser tratado com o máximo de dignidade e respeito” e “devem ter o direito de recusar trabalho inseguro e relatar condições perigosas de trabalho”.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital