Um estudo realizado por Jenny Radensky, especialista em desenvolvimento comportamental pediátrico do hospital infantil C.S. Mott, em Michigan, nos Estados Unidos, indica que fatores socioeconômicos interferem no nível de violações de privacidade e uso de dados de crianças em apps.

Os resultados da pesquisa demonstraram que crianças com pais sem formação universitária possuem três vezes mais chances de terem seus dados recolhidos e vendidos para terceiros.

A maioria dos países possui leis que proíbem a coleta de informações de crianças menores de 13 anos sem aprovação parental, mas as regras parecem estar sendo descumpridas por boa parte dos desenvolvedores.

“Nosso estudo sugere que violações das leis de privacidade digital infantil são comuns e que fatores socioeconômicos influenciam quais grupos de crianças correm mais riscos de transgressões”, afirmou Radensky.

Para a especialista, a consciência de uma pessoa sobre os riscos à privacidade no mundo digital está correlacionada com o seu nível de educação formal, o que pode ser uma das explicações para essa disparidade.

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Pesquisa indica que pais com formação universitária consguem proteger melhor os filhos de violações de privacidade em aplicativos. Créditos: Skynesher/IStock

Método de pesquisa

Para chegarem aos resultados, Radensky e sua equipe analisaram 450 aplicativos utilizados por 124 crianças de 3 a 5 anos de idade. Dois terços dos apps analisados mostraram constantes identificadores digitais com conexões para grandes bases de dados de terceiros, como o Facebook Graph, principal ferramenta para coletas de informações, dentro ou fora da plataforma da rede social.

Para cada aplicativo, os pesquisadores calcularam um número único de transmissões de data detectadas e de domínios de terceiros envolvidos. A maioria das informações foi coletada por motivos publicitários.

“Consumidores muitas vezes não sabem que seus dados estão sendo coletados ou compartilhados com terceiros, o que dificulta uma decisão consciente de aplicativos para suas crianças”, disse a pesquisadora

É injusto, no entanto, que toda a culpa recaia sobre os pais. Para Radensky, desenvolvedores e empresas precisam fazer sua parte para criar um ambiente digital mais seguro para as crianças.

“Não é justo monitorar o comportamento infantil para criar propagandas específicas, com objetivo de monetizar o que para elas é uma brincadeira. Brincar não deveria ser uma ação vigiada. Crianças têm o direito de se divertir sem obstáculos publicitários motivados pelo dinheiro”, concluiu a pediatra.

Fonte: EurekAlert