O Facebook jura de pés juntos que não vende dados de seus usuários, mas documentos internos confiscados pelas autoridades britânicas indicam que a possibilidade ao menos passou pela cabeça dos executivos da companhia no passado, especialmente em uma época que a empresa apresentou dificuldades de monetizar sua audiência na época da abertura de capital entre 2012 e 2014.
Os e-mails trocados por funcionários foram censurados no documento, mas não foi difícil desvendá-los: bastava passar o mouse sobre o conteúdo, copiar e colá-lo em um editor de texto comum para ter acesso completo ao material, que revela algumas das ideias que, ao que se sabe hoje, nunca entraram em vigor.
Em uma das situações, o Facebook teria cogitado a possibilidade de favorecer empresas que gastassem muito dinheiro com a plataforma. A ideia seria permitir acesso privilegiado a dados do público apenas aos aplicativos que gastassem ao menos US$ 250 mil por ano na plataforma. Os outros teriam o acesso completamente bloqueado à ferramenta Graph API, que permanece gratuita até os dias atuais.
Hoje, o que a empresa faz é fornecer direcionamento de anúncios com base nos dados que coleta do público. Isso significa que, por exemplo, um anunciante pode procurar atingir apenas usuários de 25 a 30 anos que morem e São Paulo e gostem de alpinismo, mas não tem como ter acesso direto aos dados individuais de uma pessoa. A única forma de obter essas informações é por meio de um aplicativo conectado à plataforma; neste caso, o usuário está cedendo seus dados em troca do uso de um serviço. A ideia do Facebook era cobrar para que fosse possível ter acesso a essa plataforma para aplicativos, mas hoje ela é amplamente acessível.
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Em outro momento, discutiu-se a possibilidade de permitir ao Tinder, o popular aplicativo de relacionamentos, acesso privilegiado aos dados dos usuários. A oferta teria como contrapartida a permissão para que o Facebook utilizasse a marca “Moments”, que pertence ao grupo Match, dono do Tinder e outros apps do tipo. No fim das contas, o caso foi resolvido por outras vias, e as empresas envolvidas negam que qualquer acerto envolvendo informações do público tenha acontecido.
O problema desse modelo de negócios é que o Facebook afirma com toda a veemência que não vende dados de usuários. Mark Zuckerberg chegou a reforçar algumas vezes este ponto durante o interrogatório com congressistas dos Estados Unidos. Se tivesse colocado em prática os planos revelados nos e-mails, as coisas poderiam ser bem diferentes.
O Facebook não nega que essas discussões todas de fato aconteceram. “Nós estávamos tentando descobrir como criar um negócio sustentável. Tivemos muitas conversas internas sobre como poderíamos fazer isso”, disse ao Wall Street Journal um representante da companhia.