Ex-funcionário acusa YouTube de usar Inteligência Artificial para viciar usuários

Guillaume Chaslot trabalhava no algoritmo de recomendação do YouTube e explica as motivações do Google por trás do "erro proposital"
Cesar Schaeffer14/06/2019 14h45

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A moderação de conteúdo é um desafio grande para o YouTube. A gente sempre pode se deparar com algum vídeo mais ofensivo ou perturbador. Mas, segundo um ex-funcionário do Google que trabalhava especificamente no algoritmo de recomendação do YouTube, o problema maior não são os vídeos que a gente vê por acaso, mas sim as recomendação automáticas da plataforma. Guillaume Chaslot, criador de um projeto que luta por mais transparência nas plataformas online – como o YouTube – acusa a rede de vídeos do Google de usar a Inteligência Artificial com um único propósito: viciar o usuário.

Chaslot diz que o algoritmo de inteligência artificial usado no YouTube faz tudo, menos ajudar você a chegar onde quer. “Ela foi desenvolvida para deixar você viciado no YouTube. Recomendações foram projetadas para desperdiçar seu tempo”, declarou o ex-funcionário. Segundo ele, a métrica que o algoritmo usa para determinar as recomendações “bem-sucedidas” é o tempo de exibição. O método pode ser maravilhoso para uma empresa que tenta vender anúncios no YouTube, mas não reflete necessariamente o que o usuário deseja encontrar.

Efeitos colaterais

Em uma palestra feita no mês passado sobre o tema, Chaslot disse que o tipo de conteúdo mais recomendado é o sensacional, como teorias da conspiração, notícias falsas (sim, recomendadas pelo próprio Youtube) e vídeos mais simples. Além da acusação, o ex-funcionário diz estar preocupado que esses tipos de recomendações levem as pessoas a extremismos “à força”; tudo porque o YouTube, diz ele, quer nos manter com os olhos na tela o máximo de tempo possível. Faz algum sentido…

“É preciso perceber que as recomendações do YouTube são tóxicas e pervertem as discussões cívicas”, diz Chaslot. “No momento, o incentivo é criar esse tipo de conteúdo que beira as políticas da rede social e são extremamente envolventes, mas não proibidos.” Basicamente, quanto mais estranho o conteúdo, maior a probabilidade de manter as pessoas assistindo, o que consequentemente tornará mais provável que seja recomendado pelo algoritmo. Resultado: mais dinheiro no bolso do criador e, claro, do YouTube também.

Duvida?

E para provar o que está dizendo, Chaslot, depois que saiu do Google, criou a AlgoTransparency, uma ferramenta que promete mostrar às pessoas uma visão geral do que realmente está sendo recomendado no YouTube. A solução tenta descobrir quais vídeos estão sendo compartilhados pela maioria dos canais para fornecer uma visão geral que você não pode obter por meio de sua navegação pessoal. 

Quer uma recomendação? 

Por enquanto, o YouTube não permite que o usuário controle as recomendações recebidas. Você pode, no máximo, bloquear alguns canais. Ainda assim, Chaslot lembra que o algoritmo teimoso ainda pode te levar a conteúdos bem semelhantes aos bloqueados. Então, o que fazer? O ex-funcionário do Google diz que a saída para evitar essas recomendações “tóxicas”, em seus palavras, é uma só: excluir a função de recomendação do YouTube.

E aí, você também já reparou nisso alguma vez? Conta pra gente!

Fonte: TNW

Redator(a)

Cesar Schaeffer é redator(a) no Olhar Digital