Entre meados do século XIX e até o início do século passado, a cocaína era usada como analgésico, e estava até nas primeiras fórmulas da Coca-Cola. A Bayer vendia heroína como tratamento para gripe e a morfina usada em produtos que induziam o sono em crianças. Até que o efeito nocivo dessas substâncias foi estudado e elas passaram a ser drogas ilegais. Mas um estudo britânico sugere que a inclusão de substâncias psicoativas na água pode ajudar a prevenir suicídios.
A substância, no caso, é o carbonato de lítio – geralmente é prescrito como estabilizador de humor, e até já fez parte da fórmula do refrigerante 7Up até 1948. A substância também é usada na fabricação de baterias, mas em outro formato. Os cientistas sugerem que colocar o medicamento no suprimento de água das comunidades de alto risco pode salvar vidas. O estudo foi publicado no British Journal of Psychiatry.
“É promissor que níveis mais altos de traço de lítio na água potável possam exercer um efeito de prevenção ao suicídio e ter o potencial de melhorar a saúde mental de uma comunidade”, afirma o pesquisador de Epidemiologia e Saúde Pública da Escola de Medicina de Brighton e Sussex (BSMS) e autor do estudo, Anjum Memon.
Em todo o mundo, mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, e o suicídio é a principal causa de morte entre pessoas de 15 a 24 anos. “Nestes tempos sem precedentes de pandemia de Covid-19 e o consequente aumento da incidência de condições de saúde mental, é cada vez mais importante acessar formas de melhorar a saúde mental da comunidade e reduzir a incidência de ansiedade, depressão e suicídio”, completa o cientista.
O lítio é usado como medicamento para o tratamento e prevenção de episódios maníacos e depressivos, estabilizando o humor e redução do risco de suicídio em pessoas com transtornos do humor. De acordo com o estudo, suas propriedades calmantes podem ajudar a “reduzir a impulsividade, a agressão, o comportamento criminoso violento e o abuso crônico de substâncias”.
Essa ideia pode ter apelo no papel, mas na prática é bem diferente. Para começar, as experiências que podem validar essa sugestão envolvem “testes comunitários randomizados” que basicamente implicariam colocar lítio no suprimento de água de algumas comunidades com altas taxas de condições de saúde mental ou mortes por suicídio sem que as pessoas saibam. Além disso, os pesquisadores não sabem a concentração ideal lítio no sangue para que os efeitos sugeridos de proteção ao suicídio ocorram.