Parece até roteiro de filme de terror, mas foi tudo pela ciência: um grupo de pesquisadores da Universidade de Viena, na Áustria, observou a evolução de uma bactéria dentro de um hospedeiro, tornando-se cada vez mais infecciosa sob condições específicas. O objetivo era entender justamente como as bactérias se tornam tão perigosas.
O estudo foi publicado na revista PNAS, e utilizou paraclamídias, um gênero ambiental da clamídia que é encontrada no solo e na água e não é capaz de infectar humanos, em um hospedeiro unicelular durante 14 meses. Por serem dependentes de seus hospedeiros para obter nutrientes, as paraclamídias aperfeiçoaram mecanismos para invadir e se reproduzir dentro de outros organismos.
As bactérias foram divididas em dois grupos para que fossem verificadas teorias sobre a evolução da infectividade. Enquanto um grupo precisava infectar novos hospedeiros constantemente para sobreviver, o outro podia se multiplicar indefinidamente em um único organismo, durante um período de 500 gerações (o equivalente a 15 mil anos para seres humanos). Ao fim do processo, o primeiro grupo conseguiu se tornar muito mais eficiente em infectar novos hospedeiros.
Células (rosa) foram infectadas com paraclamídias (amarelo e azul). Crédito: Patrick Arthofer
“Nossos resultados revelam que se as bactérias permanecerem em uma célula hospedeira e garantirem a sobrevivência nas células filhas do hospedeiro quando a célula hospedeira se dividir, sua infectividade não muda. No entanto, as bactérias ficam cada vez mais infecciosas quando elas têm que mudar de uma célula hospedeira para outra para sobreviver”, explicou Paul Herrera, um dos autores do estudo.
“Parentes distantes”
A comparação entre os genes das bactérias do início do estudo e das resultantes após 500 gerações mostrou diferenças significativas em 1.162 sítios. No final, o grupo que se movimentava entre células hospedeiras ficaram mais eficientes na infecção e na sobrevivência fora dos hospedeiros. “O aumento da infectividade observado se baseia em uma variedade de diferenças genéticas e mudanças drásticas na expressão gênica”, concluiu o microbiologista Matthias Horn.