Especialistas temem que robôs sexuais alterem nossa percepção sobre consenso

Redação05/07/2017 09h07

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A Foundation for Responsible Robotics, organização que analisa a ética por trás de um setor que vem se desenvolvendo cada vez mais ferozmente, arquitetou um estudo para para tentar compreender qual será o impacto dos robôs sexuais na sociedade, e o trabalho trouxe algumas conclusões animadoras e várias assustadoras.

Na parte positiva, especialistas acreditam que esse tipo de máquina será útil para idosos, pessoas que tiveram experiências sexuais traumáticas e homens em quadros como disfunção erétil ou ejaculação precoce.

“Se estamos falando sobre indivíduos que não são apenas inválidos, mas que tenham sido traumatizados, de certa forma, esse poderia ser um instrumento benéfico para manter seu processo de cura [sexual]”, disse ao The Guardian a doutora Aimee van Wynsberghe, que é cofundadora da FRR e professora-assistente de ética e tecnologia na Technical University of Delf.

Há um aspecto que marca a virada do lado bom ao ruim: o uso de robôs sexuais como válvula de escape para pessoas com histórico de assédio. Tem quem acredite que seja possível aliviar desejos obscuros em máquinas, descontando, por exemplo, a pedofilia em um boneco que tenha feições infantis. Existe até uma empresa no Japão que provê esse tipo de produto, a Trottla, e ela é tocada por um pedófilo autodeclarado que, em entrevista concedida ao The Atlantic em 2016, disse que o uso do recurso o ajudaria a se manter longe de crianças reais.

A lógica se aplica a casos de estupro em geral, outra questão que gera preocupação para quem analisa o setor. Há, por exemplo, o caso da RoxxxyGold, uma empresa do ramo que possui um modelo de robô com personalidade “reservada e acanhada”. A descrição do produto diz que, “se você tocá-la em uma área privada, é mais do que provável que ela não aprecie muito a sua iniciativa” — o que levantou preocupação de que o robô fosse um simulador de estupro, a exemplo do que retrata a série “Westworld”, da HBO.

“Algumas pessoas dizem: ‘Ora, é melhor que eles estuprem robôs do que pessoas reais.’ Este é um dos argumentos… você pode ter [sexo] proveitoso com a sua esposa — tudo bem —, mas, quando se trata de estupro, [se] você tem uma fantasia de estupro, vai lá e estupra um robô”, destrincha Noel Sharkey, outro cofundador da FRR e professor emérito de robótica e inteligência artificial na University of Sheffield, que ressalta: “Mas há outras pessoas dizendo que isso vai apenas encorajar mais os estupradores.”

Patrick Lin é um desses. Diretor de ética e ciências emergentes na California Polytechnic State University, ele traçou um paralelo entre o uso de robôs para alívio sexual com racismo: “Tratar pedófilos com crianças-robôs sexuais é ao mesmo tempo uma ideia dúbia e repulsiva. Imagine tratar racismo deixando que um intolerante maltrate um robô negro. Isso funcionaria? Provavelmente não.”

Há ainda o temor de que, em vez de “aliviar” estupradores, essas máquinas acabem servindo de gatilho para aflorar o problema em níveis mais brandos, já que a falta de ação dos bonecos poderia mudar a percepção humana em relação a consentimento. Sem contar que, embora os robôs sexuais estejam sendo feitos nos dois sexos, a versão feminina é toda moldada em padrões da indústria pornográfica, o que pode contribuir para aumentar a objetificação da mulher.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital