Enviar dinheiro para outro país pode ser tão rápido quanto mandar uma mensagem

Setor de transferências internacionais é um dos primeiros a usar blockchain para solução de problemas
Liliane Nakagawa23/08/2019 20h38

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Vivemos em um mundo onde a instantaneidade é a regra. Acessamos informações e falamos com pessoas a milhares de quilômetros de distância em segundos. Podemos ouvir a nossa música preferida ou assistir ao filme que quisermos com apenas alguns toques no smartphone.

O avanço tecnológico proporcionou uma revolução na forma como vivemos e afetou também as operações bancárias. Há muitas transações que hoje podem ser solicitadas pelo aplicativo ou internet banking e liquidadas em segundos. Podemos, inclusive, abrir uma conta sem nos deslocarmos até uma agência.

No entanto, ainda existem alguns gargalos, como as transferências internacionais de recursos que, em sua maioria, permanecem praticamente no mesmo estágio de décadas atrás.

Quem já precisou receber ou mandar dinheiro para outro país conhece essa dor: as transações demoram dias para serem concretizadas – quando são – e custam caro. O custo de enviar pequenas quantias, como R$ 500 para um filho que está estudando fora, é inviável. Ou melhor: era.

Já existem empresas comprometidas a modernizar o envio e o recebimento de valores entre fronteiras e que têm atuado junto de instituições financeiras para implantar tecnologias que possam substituir as atualmente utilizadas, as quais remetem há 40 anos, antes do nascimento da própria internet. Além disso, o modelo operacional está defasado, pois sempre exigiu intermediários, tornando a experiência de pagamento em algo ruim, pois é caro, lento e suscetível a erros, os quais podem chegar a 10% do total das transações.

Em uma época em que o desenvolvimento tecnológico e a desintermediação têm trazido inúmeras vantagens aos consumidores e aos negócios, criar uma “disruptura” nesse processo é o caminho para trazer uma experiência mais confiável, rápida e sem entraves em se tratando de pagamentos internacionais. Uma das soluções é o blockchain, uma tecnologia que já vem sendo utilizada em diversas indústrias, em especial no setor financeiro.

Por meio do blockchain, empresas como a Ripple têm atuado junto aos bancos, corretoras e provedores de pagamentos para que a experiência de enviar dinheiro ao redor do mundo seja tão rápida e eficiente quanto mandar uma mensagem pela internet: uma verdadeira “Internet de Valores”. Isso já é uma realidade, pois existem centenas de instituições financeiras de pequeno a grande porte realizando remessas ao exterior em segundos, por uma fração do custo da antiga tecnologia e de forma muito mais confiável.

Enviar dinheiro para outro país pode parecer algo um pouco distante da realidade da maioria das pessoas, mas o seu impacto é considerável. Com custos menores de operação, pequenos bancos e corretoras podem expandir seus serviços, passando a atender mercados onde agora a demanda justifica o investimento. O consumidor final ou as empresas beneficiam-se ao poder agora fazer pequenas remessas e pagamentos internacionais de baixos valores, sem arcar com tarifas que podiam chegar até a 10% do valor das transações.

Aqui no Brasil já temos casos concretos de diversas empresas, como a BeeTech, que, após conectarem-se à rede da Ripple, puderam reduzir tarifas de remessas para outros países na ordem de 90% e passaram a observar um aumento expressivo do volume de transações em sua operação.

Imigrantes

Entre os beneficiados por essa transformação da infraestrutura está uma parcela de pessoas muitas vezes esquecida: os milhões de imigrantes que enviam dinheiro para seus familiares no país de origem. Estimativas do Banco Mundial indicam que cerca de 800 milhões de pessoas dependem de recursos vindos de fora para sua sobrevivência.

No balanço dos países de baixa e média renda, exceto a China, as remessas ultrapassaram o volume do investimento direto internacional em 2018, dado que revela a importância desses valores para as famílias e a economia local. No Nepal, as remessas correspondem a nada menos que 30% do PIB (aproximadamente US$ 6,6 bilhões). Outro exemplo está “aqui ao lado”. Estimativas apontam que mais de 4 milhões de venezuelanos vivem nos países da América Latina, o que já intensificou de forma relevante o fluxo de remessas financeiras para as famílias que ficaram na Venezuela. Por estarmos falando de alto volume de transações de baixo valor, sem dúvida o custo de remessa passa a ter inclusive importância “social”.

O volume recebido pelo Brasil também é considerável: foram US$ 2,7 bilhões em 2017, segundo dados do Pew Research Center. Os principais países emissores foram Estados Unidos, Japão e Portugal. Por outro lado, os brasileiros enviaram US$ 1,7 bilhão para Portugal, Espanha e Japão, entre outros destinos.

Nossa expectativa é que, dada a velocidade com que estamos avançando na disseminação dessas tecnologias, em pouco tempo, a longa espera e os altos custos associados às remessas de recursos entre países fiquem definitivamente para trás em todo o mundo e as pessoas possam, enfim, enviar dinheiro com a mesma facilidade com que assistem a um filme em seus smartphones.

Liliane Nakagawa é editor(a) no Olhar Digital