Entenda por que a Apple não se importa se você acha o iPhone muito caro

Renato Santino02/11/2018 20h22, atualizada em 03/11/2018 00h00

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Todo mundo sabe que a Apple faz produtos caros. É parte da estratégia da empresa desde sempre, e o problema não é só aqui no Brasil, onde os custos são exacerbados; as reclamações sobre os preços praticados pela companhia são globais.

Recentemente, no entanto, os preços da empresa deram uma disparada. A transição começou de 2016 para 2017, quando o iPhone mais barato passou de US$ 650 para US$ 700. De 2017 para 2018, o valor subiu para US$ 750, com a chegada do iPhone XR. Já em 2017, o iPhone mais caro chegou à casa dos US$ 1.150, e em 2018 o preço máximo bateu na casa dos US$ 1.450. A curva ascendente é óbvia, e também pode ser vista no Brasil de forma mais acentuada, especialmente devido à crise enfrentada no país, o que nos permitiu chegar à gloriosa marca de um modelo de iPhone custando R$ 10 mil.

Os preços estão altos demais? Talvez para uma parte do público, e tem sido possível observar isso nos resultados trimestrais da Apple. Nos últimos anúncios, a empresa não conseguiu apresentar um aumento sólido no número de aparelhos vendidos, o que é uma estatística que, quando olhada de forma individual, mostra que as coisas poderiam não caminhar muito bem para a Apple.

No entanto, o número de unidades vendidas de iPhones é só um dos dados apresentados pela Apple. Outra informação muito mais importante é quanto a empresa fatura com as vendas destes aparelhos; de um ano para outro, as receitas com iPhone subiram de US$ 28,8 bilhões no terceiro trimestre de 2017 para US$ 37,2 bilhões no mesmo período de 2018, com um aumento de 29% no faturamento mesmo com um aumento de praticamente 0% na quantidade de aparelhos vendidos, subindo apenas de 46,68 milhões para 46,89 milhões.

Ou seja: a Apple pode não estar mais conseguindo aumentar o volume de vendas de iPhones, mas está ganhando muito mais por iPhone vendido, e isso tem compensado a estagnação nas vendas do celular da Apple. Na prática, isso significa que a empresa não tem tido motivos para se preocupar se um ou outro consumidor deixou de comprar um iPhone porque os preços ficaram altos demais: ela ainda fatura pesado porque suas margens de lucro estão aumentando.

É questionável se essa estratégia será sustentável a longo prazo. O mercado de smartphones dá sinais cada vez mais óbvios de saturação, e talvez neste momento tentar extrair o máximo de cada aparelho vendido seja uma ideia interessante do que aumentar o número de unidades vendidas, mas a Apple também apresenta alguns números preocupantes. Cada vez mais a empresa é dependente das vendas de iPhones, e quase 60% de todo o faturamento vem dos seus celulares. iPads, Macs, outros produtos e serviços dividem os outros 40%.

Neste momento, a indústria inteira de tecnologia tenta se preparar para um futuro pós-smartphones, embora a resposta para a pergunta do que vem por aí em seguida ainda não esteja muito clara. As empresas estão atirando para todo lado buscando diversificação: relógios inteligentes, caixas de som e fones equipados com assistentes virtuais e inteligência artificial, internet das coisas… até o momento, nenhuma dessas ideias realmente colou. Quando o mercado encontrar a tecnologia que pode vir a substituir o smartphone como novo paradigma da computação pessoal, a Apple pode sofrer se continuar tão dependente do iPhone. Para o bem da empresa, é importante que ela consiga encontrar o caminho antes das concorrentes.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital