O cientista chinês que afirma ter ajudado na gestação dos primeiros bebês geneticamente modificados defendeu o experimento em meio a críticas da comunidade científica. Ele também diz que novas gestações estão em andamento, ao mesmo tempo que autoridades chinesas começaram a investigar o seu trabalho.
He Jiankui, o pesquisador que no começo da semana surpreendeu o mundo ao alegar ter modificado geneticamente bebês gêmeos que já teriam nascido na China, participou de uma conferência na Universidade de Hong Kong e defendeu a pesquisa. O cientista diz ter conduzido um experimento com uso da técnica CRISPR para remover o gene CCR5, a porta de entrada para o vírus HIV no corpo humano, o que garantiria aos bebês proteção contra a AIDS.
He reconheceu que o experimento não foi aprovado por nenhuma instituição oficial, mas disse se sentir orgulhoso do resultado. O pesquisador garantiu que os pais das crianças sabiam dos riscos do experimento, embora reconheça não saber dizer se as crianças podem enfrentar problemas no futuro.
O pesquisador respondeu a algumas das críticas que vem sendo feitas pela comunidade científica desde que o estudo foi revelado na segunda-feira, 28. A pesquisa até agora não foi revisada por nenhum outro cientista independente, mas He garante que ela foi enviada para uma revista científica para análise – embora ele não tenha especificado qual seja a publicação.
Em relação a questões éticas envolvendo o processo, He pareceu meio confuso ao tentar explicar seu posicionamento. Ele afirma que o uso da tecnologia para ajudar pessoas com doenças genética foi movido por “compaixão”. “Essa gente precisa de ajuda e temos a tecnologia,” continuou, dizendo também que “embora haja progressos nos tratamentos com o HIV, as novas infecções seguem sendo um problema para muitos países, especialmente nos menos desenvolvidos.”
Comunidade científica reage
Pesquisadores da área de edição genética se mostraram bastante chocados com o estudo e se posicionaram contra a continuidade das pesquisas de He. “Esse é um desenvolvimento inaceitável”, disse Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia em Bekeley, uma das pioneiras das técnicas de edição genética como o CRISPR usado pelo cientista chinês.
“Não acredito que seja aceitável que seja para uma necessidade médica. Estamos tentando entender as implicações deste trabalho”, continuou a cientista.
Willian Hurbult, um dos pesquisadores consultados por He ao longo dos últimos dois anos, e que não sabia qual seria o uso dos estudos do pesquisador chinês, também se posicionou contra o experimento. “Eu desafiei ele de todas as formas, e não aprovo o que ele fez.”
Um grupo de 120 acadêmicos da comunidade científica chinesa assinou uma declaração contra tentativas de modificação genética em embriões humanos, considerando o experimento “uma loucura” que representa “um alto risco” para os bebês.
China abre investigação
A reação negativa também veio do governo e das instituições chinesas. A Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul, em Shenzhen, onde He trabalha, anunciou a abertura de uma investigação sobre o caso, acreditando que ele possa ter violado leis ou regulações internas.
Em uma nota, representantes da universidade afirmaram se sentir “profundamente comovidos com o caso”, que representa “uma grave violação da ética e dos padrões acadêmicos.”
Autoridades ligadas ao governo chinês também estão debatendo como lidar com o caso. A China tem como objetivo de tornar uma líder global em tecnologias do século 21, incluindo inteligência artificial e edição genética. Apesar disso, o ministro de ciência e tecnologia Xu Nanping disse que o uso desses métodos para fins de fertilidade são ilegais no país desde 2003.