Em um e-mail enviado aos funcionários e obtido pela Reuters e o site Electrek, Elon Musk, CEO da Tesla afirma que a empresa ficará sem dinheiro em cerca de 10 meses, a menos que corte de custos “hardcore” (ou radicais, se preferir) sejam feitos. Ainda segundo o executivo, as medidas de redução são necessárias, mesmo com a companhia tendo levantado US$ 2,7 bilhões no início de maio.
Musk e o CFO (diretor financeiro) da Tesla revisarão “todas as despesas de qualquer tipo, em qualquer lugar da palavra, incluindo salários, despesas de viagem, aluguel e, literalmente, todo pagamento que deixa nossa conta bancária”, segundo o mesmo e-mail.
A Tesla terminou o primeiro trimestre de 2019 com US$ 2,2 bilhões em caixa. Mas a empresa perdeu US$ 702 milhões em despesas diversas e, por isso, Musk afirmara em abril que a montadora teria que ter uma “dieta espartana” em relação aos eus gastos. Com isso, ela precisou levantar US $ 2,7 bilhões para manter a cabeça fora d´água.
“Isso é muito dinheiro, mas, na verdade, só nos dá cerca de 10 meses para atingir o ponto de equilíbrio (breakeven)”, escreveu Musk na quinta-feira. “Isso é hardcore, mas é a única maneira de a Tesla se tornar financeiramente sustentável e ter sucesso em nossa meta de ajudar a tornar o mundo ambientalmente sustentável”.
Não é a primeira vez que Musk anuncia uma reforma financeira na Tesla, nem a primeira vez que ele abraça o microgerenciamento – ou o “nano” – como ele disse ao The Wall Street Journal em 2015.
Há pouco mais de um ano, Musk enviou um e-mail informando aos funcionários da Tesla que ele estava fazendo o departamento financeiro “conter todas as despesas em todo o mundo, não importando o quão pequena ela fosse, e cortar tudo que não tivesse uma justificativa de valor forte”. Ele afirmara que estava “desapontado em descobrir” quantas empresas contratadas a Tesla estava usando para aumentar a produção do Modelo 3, comparando a estrutura a uma boneca russa.
Pouco depois, Musk pôs abaixo0 a estrutura organizacional da Tesla e prometeu remover as “cracas” dos contratados, como parte de uma “reestruturação de toda a empresa”. A empresa demitiu 9% de sua força de trabalho em junho do ano passado . Musk disse em um e-mail que a Tesla estava “tomando essa decisão difícil agora para que nunca mais tenhamos que fazer isso novamente”.
Todas essas mudanças estavam acontecendo como pano de fundo do “inferno da produção”, uma vez que a Tesla tentou aumentar a produção do Modelo 3 para milhares por semana, a fim de atender a uma carteira de mais de 400.000 pedidos antecipados. Com a ajuda de uma tenda gigante no estacionamento da sua fábrica em Fremont, na Califórnia, a Tesla finalmente melhorou sua taxa de produção o suficiente para tornar o Modelo 3 o carro elétrico mais vendido de 2018 e conquistar o primeiro período lucrativo da companhia.
Mas essas medidas de corte de custos não foram suficientes para manter a Tesla lucrativa; o primeiro trimestre de 2018 foi outro prejuízo. A empresa demitiu outra rodada de trabalhadores – desta vez 7% – em janeiro.
A Tesla também anunciou em fevereiro que estava fechando a maioria de suas lojas e demitindo algumas equipes de vendas para economizar dinheiro. Isso foi para que a empresa pudesse finalmente vender a versão de US$ 35.000 do modelo 3 há muito tempo prometida. O problema é que, originalmente, a montadora planejava chegar ao modelo mais barato por meio da eficiência de seu projeto de fabricação. Musk disse, em maio de 2018, que havia atrasado o lançamento do modelo de US$ 35 mil para que a empresa não morresse e, em novembro de 2018, ele admitiu que “a Tesla estava a semanas da falência“.
A empresa mudou seus planos apenas duas semanas depois: a Tesla anunciou que muitas de suas lojas, de fato, permaneceriam abertas. A Tesla também elevou os preços de seus carros para compensar. Essas mudanças tiveram seu próprio impacto internamente também – na mais recente carta trimestral da Tesla para os acionistas , o documento afirma que da perda total de US$ 702 milhões, US$ 121 milhões s vieram de mudanças nos preços dos modelos S e X apenas.
Ao anunciar esses primeiros lucros consecutivos em janeiro passado, Musk e Ahuja escreveram que 2018 foi o “ano mais crucial” da história da Tesla graças ao Modelo 3. A empresa mais que dobrou sua produção total em comparação a 2017 e puxou mais receita – US $ 21,4 bilhões – do que nunca.
Mas enquanto Musk previra que o Modelo 3 ajudaria a empresa a se tornar rentável a partir do terceiro trimestre de 2018, a grave perda do primeiro trimestre em 2019 aparentemente provocou uma reestruturação. Em fevereiro, antes do anúncio dos resultados do primeiro trimestre de 2019, Musk disse aos repórteres em uma chamada que ele não esperava que a Tesla tivesse lucro no segundo trimestre.
Agora, em seu mais recente e-mail para toda a empresa, Musk admite que medidas radicais são necessárias apenas para manter o problema de caixa da empresa sob controle. A Tesla tem queimado imensas pilhas de dinheiro e mesmo um ano recorde de receita e entregas, ainda não foi suficiente para apagar o fogo. 2018 pode ter sido um ano crucial para os esforços de fabricação da empresa. Mas Tesla ainda enfrenta uma crise existencial quando se trata de dinheiro, e a solução de Musk parece ser o mesmo microgerenciamento, olhando com microscópio todas as despesas
“Se você está lutando uma batalha, é muito melhor se você está na linha de frente. Um general atrás das linhas vai perder ”, disse ele ao The Wall Street Journal em 2015.
Fonte: The Verge / via Reuters