2+2=5 e mídias sociais orwellianas

Neste post selecionei três elementos centrais do livro de Orwell os quais acredito estão presentes em nosso cotidiano on-line.
Redação17/11/2017 13h54

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Reprodução


“Você ficará vazio. Nós vamos espremê-lo até esvaziá-lo e então vamos preenchê-lo com nós mesmos.” 1984 – George Orwell (Escritor inglês, 1903-1950)

Se há um livro sobre o qual podemos traçar paralelos com nosso momento atual hiper-tecnológico, 1984 de George Orwell é certamente um deles. Neste breve post selecionei três elementos centrais do livro de Orwell os quais acredito estão presentes em nosso cotidiano on-line. Embora o romance de Orwell, tenha o foco narrativo na crítica aos regimes totalitários e não nas tecnologias digitais (1984 foi publicado em 1949 e computadores estavam em sua infância), é incrível como diferentes elementos usados para criar o futuro distópico de 1984 estão em sintonia com os tempos de hoje. Vejamos.

O Grande Irmão

O Grande Irmão (Big Brother) nunca aparece, somente por meio de cartazes e nas teletelas como um rosto e a frase: “O Grande Irmão está observando você”. Ele é uma entidade omnisciente, a qual representa poder e sabe da vida de todos, como um deus. Em nossa era digital, o Grande Irmão é líquido (como diria Zygmunt Bauman), diluído em todos nós, principalmente quando vestimos nosso avatar nas mídias sociais. Observamos a vida dos outros que também nos observam. Este Grande Irmão fragmentado é mais poderoso e destrutivo do que o concebido por Orwell, como Hidra de milhões, bilhões de cabeças, a qual estabelece regras, comportamentos e num segundo transfigura-se em juiz implacável. Quem já sofreu bullying conhece bem isso.

Teletelas

Teletelas são artefatos tecnológicos, parecidos com uma televisão, mas também capazes de capturar imagens. Teletelas não podem ser desligadas e foram concebidas para monitorar todas as atividades dos cidadãos. Os dispositivos que hoje cumprem muito bem esse papel são nossos celulares, os quais nós não desligamos, porque hoje isso representa “deixar de existir”. Celulares são nossa porta de entrada para as mídias sociais e com eles capturamos a vida alheia e também a nossa (selfies), ao mesmo tempo que temos nossa geolocalização, hábitos de compra e conversas com amigos registrados na nuvem. Se teletelas eram armas de vigilância do “Partido” aqui são armas para monitorar e capturar nossos dados para os donos/titãs das mídias sociais. Não há privacidade em

“Oceania” (um dos superestados de 1984), assim como não há privacidade em nosso mundo digital.

O Ministério da Verdade

O Ministério da Verdade tinha por objetivo “fabricar mentiras”. O prédio, uma pirâmide colossal, abrigava funcionários responsáveis por reescrever a história de acordo com os desejos do Partido. Quando observamos o fenômeno da pós-verdade, o absurdo dos falsos perfis e das notícias mentirosas que inundam as mídias sociais, parece que estamos cercados por milhares de ministérios virtuais da verdade, agências especializadas em falsificação de notícias, imagens e fatos, para de acordo com seus interesses, influenciar e manipular os cidadãos conectados.

2+2=5

Enquanto em 1984 havia um Partido centralizador, detentor de todo poder, as mídias sociais em sua estrutura descentralizada e aberta parece exatamente o oposto. Mas somente na superfície. Nosso eu virtual é mais uma peça do mosaico chamado Grande Irmão, somos mais e mais dependentes de celulares e começamos a acreditar nas fabricações dos ministérios virtuais da verdade. O Partido de 1984 insistia no direito de impor suas mentiras aos cidadãos. Seu poder era tal que chegava ao ponto de alterar a realidade objetiva dos cidadãos, fazendo-os crer que 2+2=5. Mídias sociais são orwellianas mas 2+2=4, ao menos por enquanto.

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