Um dos precursores da comunicação em rede, o filósofo canadense Marshal McLuhan já destacava, nos anos 1960, a importância da diversidade para a construção do conhecimento. A razão é simples: aprendemos mais confrontando diferentes visões de mundo do que em ambientes nos quais há uma consonância de ideias.
Muitas das teorias que inspiraram as inovações tecnológicas recentes enfatizam a importância da pluralidade de vozes e saberes. As “árvores de conhecimento” de Pierre Levy questionavam hierarquias e abriam espaço para o trabalho colaborativo. A teoria dos laços de Mark Granoveter demonstrava que conexões fortes dão consistência às nossas redes sociais, mas a dinamicidade, as novas ideias, as possibilidades criativas estão ligadas aos “laços fracos” – aqueles conhecidos que circulam em outros espaços, contam com outras referências ou perspectivas de mundo.
Há outros benefícios associados a ambientes corporativos plurais: equipes mais diversas tendem a apresentar maior resistência à corrupção, percebem com mais rapidez as mudanças de cenário e possuem empatia com clientes de perfis variados. Ou seja, tornam empresas mais lucrativas.
Mas, embora esteja comprovada a importância da diversidade para a inovação e para a produtividade das empresas de hoje, a área de tecnologia amarga péssimos índices em termos de representatividade dos diferentes grupos sociais. O estudo “Powering The Digital Revolution. State of Black America 2018”, elaborado pela National Urban League dos Estados Unidos, mostrou que apenas 8,2% das pessoas negras que se formaram em universidades americanas entre 2015 e 2016 eram de áreas STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática). O mercado de trabalho é ainda mais restritivo: apenas 5,8% dos negros no país tinham ocupação na indústria da tecnologia, informam os pesquisadores.
Não há dados sobre o número de pessoas negras atuando no setor de tecnologia brasileiro. Mas um relatório divulgado no início deste ano alertava para outra forma de desigualdade: a de gênero. No País, mulheres correspondem a apenas 17% do total de programadores – isso significa que elas estão fora de uma das carreiras mais promissoras em TI. Os dados fazem parte do estudo “Por um Planeta 50-50: Mulheres e meninas na ciência e tecnologia”, realizado pela ONU Mulheres, Unesco Brasil e Serasa Experian.
As mulheres representam 33,1% dos graduados em ciências, tecnologia e matemática nas universidades brasileiras e 29,5% dos formados em engenharia. Mas os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD/IBGE) mostram que apenas 20% dos profissionais que atuam no mercado de TI são mulheres.
O setor de tecnologia gera mais de 1,3 milhão de empregos no Brasil. Mas, segundo dados da Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex), possui um déficit de mais de 48 mil profissionais. Se essa lacuna não for suprida, estima-se uma perda de receitas da ordem de R$ 115 bilhões até 2020. Ainda assim, muitas mulheres são afastadas dessas vagas por causa do preconceito – de acordo com análises do site de recrutamento Catho, realizado com cerca de 400 mulheres que atuam em TI, 51% delas disseram já ter sofrido discriminação de gênero em seu ambiente de trabalho.
As desigualdades de gênero e étnico-raciais representam um problema para as empresas em geral – e ainda mais para aquelas que buscam soluções criativas para se destacar no mercado. Inteligência coletiva, conhecimento e inovação, insistem os grandes teóricos, são conceitos que resultam da pluralidade de ideias, perspectivas e visões de mundo. Investir em equipes mistas e multifacetadas é um imperativo para aqueles que querem se antecipar às tendências e construir o futuro – afinal, é para essas pessoas versáteis, diversas e multicoloridas que as tecnologias são criadas.