Cursos, pirataria e pornografia: saiba o que encontramos no Telegram

Redação06/07/2017 20h12, atualizada em 10/07/2017 14h40

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Nota atualizada em 08/08/2017 com o posicionamento do Telegram; ver abaixo

Desde que foi lançado, em 2013, o Telegram não tem a mesma popularidade do WhatsApp. Por outrolado, embora o app do Facebook domine o mercado das mensagens com ampla vantagem, é o Telegram que costuma inovar em termos de recursos. Ao contrário do rival, ele já tem, por exemplo, supergrupos com até 10 mil membros (no WhatsApp, o máximo é de 256 pessoas) e capacidade de enviar arquivos de até 1,5 GB (contra 100 MB do WhatsApp).

Estes dois recursos, aliados à rede de dispositivos conectados, funcionalidades de criptografia e estrutura descentralizada do Telegram, fazem com que ele se torne um canal ideal para a distribuição de todos os tipos de conteúdo. Especialmente aqueles que transitam numa espécie de “zona cinza” entre o legal e o ilegal.

Canais

Além dos supergrupos, o Telegram também conta com “Canais”, que são ainda maiores, mas têm menos opções de interação. Apenas os criadores e administradores podem postar mensagens e arquivos, mas eles podem chegar a milhões de inscritos. É fácil imaginar, portanto, que sejam meios extremamente potentes de se espalhar arquivos ou mensagens.

Se você faz uma busca rápida no Google por “Telegram channels”, encontra sites como o tchannels.me e o tsear.ch, que permitem buscar por canais no aplicativo. Dá para aplicar diversos filtros para buscar por línguas ou categorias, e aí já aparece o primeiro aspecto “notável” dos canais: cerca de 30% do que é coletado no tchannels.me são voltados para a disseminação de conteúdo adulto. A imagem abaixo mostra a distribuição dos canais do site por categoria:

Reprodução

E se conteúdo adulto é a principal categoria dos canais do Telegram, sua principal língua é o árabe. O tsear.ch, que possibilita organizar os canais por idioma, revela que a maioria dos canais com muitos membros está em árabe – o maior deles tem 3,3 milhões de inscritos. E o primeiro canal que não está neste idioma só aparece no número 81.

O que se compartilha por lá?

Nem só de pornografia vivem os canais do Telegram. Há uma variedade imensa de assuntos em torno dos quais os usuários do app criam meios de veiculação, e a maioria deles é relativamente inócuo. Há vários que se dedicam a divulgar ofertas de comércio online, alguns focados em determinados ramos, outros menos específicos.

Notícias também são um interesse comum entre muitos desses grupos. Se houver algum assunto sobre o qual você tenha um interesse particular (tecnologia, por exemplo), provavelmente há um canal do Telegram dedicado a ele. Mesmo tópicos de interesse relativamente restrito, como indústria farmacêutica, cinema iraniano e o mangá “One Piece” têm canais dedicados.

Outro uso comum do Telegram é educação. Há canais, até mesmo em português, que se dedicam a disponibilizar gratuitamente cursos sobre assuntos diversos, como física de ensino médio, LIBRAS (linguagem brasileira de sinais), massagem, torno mecânico, a linguagem de programação C# e contabilidade.

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Línguas diferentes e seu aprendizado são outro tema comum entre esses cursos. Há inúmeros canais dedicados ao compartilhamento de livros e dicas para aprender inglês, por exemplo. Alguns deles também disponibilizam livros nos formatos .pdf, .mobi e .epub (esses dois últimos para leitura em aparelhos como Kindle e Kobo), e é aí que o eles começam a ficar mais obscuros.

“Pirataria”

Alguns dos livros que se compartilha nos canais do Telegram são restringidos por leis de monopólio intelectual, e, portanto, seu compartilhamento pode ser considerado uma violação dessas leis – estamos falando de “pirataria”. De fato, alguns canais compartilham também arquivos de livros recém-lançados (ou links para serviços que armazenam esses arquivos) ou outras publicações que ainda não estão disponíveis em domínio público.

Isso nas plataformas voltadas a livros. Música e filmes também possuem canais dedicados nos quais álbuns musicais e produções audiovisuais são compartilhados. Como é possível disseminar arquivos de até 1,5 GB, isso é suficiente para que a maioria dos filmes seja compartilhada até mesmo em qualidade Full HD. Um exemplo é o filme “Alien: Covenant”, que mal saiu dos cinemas e já circula por lá.

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No caso de música, é ainda mais fácil. O rapper Jay Z lançou recentemente seu álbum “4:44” exclusivamente pelo Tidal, serviço de streaming do qual ele é dono. A ideia é que as pessoas assinem o serviço para ter acesso ao primeiro mês grátis e, em seguida, mantenham a assinatura. Mas, se você estivesse inscrito no canal do Telegram certo, poderia ter baixado o álbum para seu celular ou computador assim que ele foi lançado.

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E tem mais

Voltando aos cursos: há canais dedicados ao ensino de diversos assuntos, e um deles é cibersegurança. Não é à toa: trata-se, de fato, de um assunto de extrema importância nos dias de hoje, e a distribuição de material educativo sobre ele é algo positivo. A questão é que o caráter “educativo” de alguns dos materiais que se distribui nos canais do Telegram é questionável:

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O documento acima, por exemplo, fala sobre Cross-Site Scripting (XSS), um tipo comum de vulnerabilidade de computadores encontrado em aplicações na rede. Informar-se sobre XSS pode ser uma boa maneira de se proteger; por outro lado, também pode ser uma maneira de aprender a usar essa técnica com fins maliciosos.

Outros canais também têm questões ainda mais obscuras. Em alguns deles, por exemplo, são disponibilizados vários pares login-senha para contas de serviços como Spotify, Netflix e Uplay. A maneira como essas informações são obtidas não fica clara, mas o nome do canal que as compartilhava sugeria tratar-se técnicas como phishing.

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Só o que vemos

Tudo isso pode ser encontrado com relativa facilidade no Telegram. Os sites de busca de canais listados no começo do texto, por exemplo, foram suficientes para que todos esses conteúdos fossem encontrados. É provável, porém, que os canais do Telegram contenham muito mais coisas.

Isso porque o aplicativo também permite a criação de canais privados. Não se pode encontrá-los por meio de ferramentas de busca; para acessá-los, é necessário que o administrador lhe acrescente ou mande um convite. Esse recurso confere, obviamente, mais privacidade às conversas e às mensagens transmitidas. Mas é fácil imaginar também que ele pode representar uma via extremamente eficiente de disseminação de conteúdos nocivos ou ilegais.

Atualização 08/08/2017

A assessoria da imprensa do Telegram entrou em contato com o Olhar Digital para falar sobre alguns dos assuntos abordados nessa matéria. Segue abaixo o posicionamento da empresa:

“A missão do Telegram é oferecer uma maneira de comunicação segura que funcione em todo o planeta.

Qualquer usuário pode reportar conteúdo que seja inapropriado e sempre que o Telegram recebe um contato por meio do abuse@telegram.org ou dmca@telegram.org sobre a ilegalidade de conteúdos públicos (pacotes de stickers, bots e canais), são realizadas as verificações legais pertinentes e o conteúdo é retirado do ar quando necessário – alguns exemplos são pacotes de stickers que violam propriedade intelectual ou bots de pornografia.

Essa política não se aplica a restrições locais sobre liberdade de expressão, o Telegram não aceita ser parte de qualquer censura motivada pela política. Isso vai contra os princípios do aplicativo. Enquanto canais e bots ligados a grupos terroristas como o Estado Islâmico são bloqueados, qualquer pessoa que expresse suas opiniões pacificamente não será bloqueada.”

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital