Crescimento rápido do comércio online coloca em risco gestão de grandes cidades

Aumento de compras pela Internet obriga empresas a desenvolver modelos de distribuição sustentável para evitar impactos ambientais, excesso de centros de estocagem e mais congestionamentos
Redação13/02/2019 18h47, atualizada em 13/02/2019 21h20

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O comércio eletrônico não para de crescer. Dados da Comissão Nacional de Mercados e Concorrência (CNMC) mostram que o mercado online de produtos tradicionais, móveis e computadores, atingiu um crescimento de 27,2% ano após ano. O número tende a aumentar com o surgimento de novas fórmulas de compra, como a voice commerce – procura de produtos via comando de voz em aplicativos assistentes pessoais. Por isso, especialistas alertam que, no futuro próximo, serão necessárias medidas de regulação para evitar o colapso das cidades.

A expansão desenfreada do comércio online faz com que grandes centros urbanos enfrentem problemas para gerir questões como lotação das cidades com locais de estocagem, mais tráfego, maior congestionamento e aumento do impacto ambiental.

As necessidades de mais centros de logística e distribuição nas metrópoles bateu um novo recorde no ano passado. Em 2018 foi registrado crescimento de 2% na aquisição de novos espaços de depósito de mercadorias em relação ao ano anterior.

Pegando a Espanha como exemplo, só no ano passado, 935 mil metros quadrados foram comprados em Madri para construção de CDs. Em Sevilha, a Amazon começou obras em um terreno de 35,3 mil metros quadrados ao lado de outro grande centro da Decathlon.

“Se o crescimento das compras online acompanhar os últimos anos, chegaremos a um ponto em que não haverá espaço urbano suficiente e ocorrerá um colapso”, alerta Josep Maria Català, professor de Economia e Estudos de Negócios da Universidade Aberta da Catalunha.

Sobre o congestionamento do tráfego, para o professor a distribuição na última milha (os últimos 1,5 metros) é o principal problema. Ele explica que isso acontece porque os clientes querem cada vez mais que suas experiências de compra sejam imediatas e isso significa ter o material o mais perto possível dos principais centros populacionais. “Os clientes também usam mais dispositivos a cada dia, compram [no mercado online] bens perecíveis (como alimentos) e rejeitam entregas atrasadas ou depois de uma terceira tentativa”, complementa o economista.

“A velocidade é um fator-chave nas cadeias de suprimentos atuais”, acrescenta seu colega Xavier Budet, que alerta sobre a disponibilidade limitada de edifícios industriais em lugares onde a demanda é mais alta, como Barcelona e Madri.

À complicação da distribuição, somam-se as restrições que as cidades estão impondo ao tráfego de veículos poluentes.  Acresenta-se a essas limitações o trânsito excessivo, o que para os dois especialistas significa que mais pontos de coleta são necessários. “Teremos que procurar alternativas que sejam mais respeitosas com o meio ambiente, dizem os economistas. Eles apontam alternativas como veículos elétricos e drones.

Por isso, eles acreditam que a solução seja tecnológica. Para Català, a concentração e a especialização de pontos de distribuição menores e regionais, ao invés de grandes centros de armazenamento, são essenciais e, com a ajuda da inteligência artificial, permitem a alta rotação dos produtos.

Centros de retirada também são uma opção. “É a solução que se adapta a todos, porque as empresas otimizam custos e rotas e os consumidores não precisam estar cientes do momento em que o produto será entregue, podendo buscá-lo quando for melhor para eles”, explica Catalá.

“Um estudo de dados macro poderia ser uma solução para a falta de espaço logístico, permitindo conhecer antecipadamente as necessidades dos usuários e a especialização das lojas de acordo com a vizinhança onde estão e fatores como renda per capita, volume comprado, tempo de reposição ou produtos mais pedidos por área, horas e tipo de comprador”, complementa o economista.

Ele sugere ainda soluções como oferecer descontos em produtos menos vendidos ou transferência deles para depósitos fora da cidade. O objetivo seria priorizar o armazenamento dos produtos mais procurados pelos clientes.

A Amazon já testou em um bairro de Seattle, nos Estados Unidos, um pequeno robô elétrico chamado Scout. A máquina é encarregada de fazer as entregas dos pedidos nas casas dos consumidores.

Compartilhamento de espaços entre as empresas também são uma possibilidade de solução. “Cada vez mais vemos colaborações entre diferentes empresas para consolidar e compartilhar infraestruturas e veículos para fazer entregas”, diz Budet.

Outras companhias também começaram a usar depósitos escuros – locais em centros urbanos fechados ao público para preparar e enviar pedidos -, centros temporários ou entregas colaborativas, em que consumidores também entregam produtos a outros compradores.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital