Não é só de prêmios Nobel que vive a comunidade científica. Todos os anos, pesquisadores do mundo todo também são contemplados com um troféu um pouco mais divertido: o prêmio Ig Nobel, que contempla as pesquisas mais bizarras, porém úteis, submetidas no ano. Em 2018, é claro, não foi diferente, e a cerimônia foi realizada nesta última quinta-feira, 13.
Dez troféus foram entregues a grupos de pesquisadores, em categorias de medicina e química a economia e antropologia. E como nos anos anteriores, as pesquisas premiadas não decepcionaram: na medicina, por exemplo, o Ig Nobel ficou nas mãos de uma dupla que avaliou a relação das montanhas-russas com a eliminação de pedras nos rins. Na literatura, por sua vez, a pesquisa premiada mostrou que as pessoas realmente não leem manuais de instruções.
Confira todos os vencedores a seguir:
Na medicina
Quem levou foram os pesquisadores e urologistas Marc Mitchell e David Wartinger, ambos norte-americanos. Depois de ouvirem relatos de pacientes, eles testaram o efeito de passeios em uma montanha-russa na velocidade de saída de pedras nos rins — e descobriram que, em alguns casos, a força-G pode ajudar mesmo.
Os testes deles foram realizados com 60 modelos que simulavam pacientes com diferentes tamanhos de cálculos renais, e os passeios foram feitos na Big Thunder Mountain Railroad na Disney de Orlando, na Flórida. Explicando de forma resumida, as viagens nos bancos da frente não foram tão bem-sucedidas, com apenas 4 das 24 pedras nos rins saindo. Já as feitas nos bancos de trás surpreenderam: 23 dos 36 cálculos renais passaram com sucesso.
Na antropologia
Os vencedores foram Tomar Persson, Gabriela-Alina Sauciuce e Elainie Madsen, que conseguiram provas em um zoológico de que não só os seres humanos que imitam chimpanzés: o contrário também acontece com frequência. E as imitações são até boas, na avaliação dos pesquisadores. O estudo foi conduzido no Zoológico de Furuvik Zoo, na Suécia, e publicado em agosto do ano passado depois de 52 horas de observação.
Na biologia
O grupo que levou era composto por Paul Becher, Sebastien Lebreton, Erika Wallin, Erik Hedenstrom, Felipe Borrero-Echeverry, Marie Bengtsson, Volker Jorger e Peter Witzgall, de cinco países, incluindo Alemanha e Colômbia. Eles provaram que os enólogos — especialistas em vinhos — são realmente bons no que fazem e conseguem identificar, com boa dose de certeza, a presença de uma mosca em uma taça só pelo cheiro. A pesquisa foi feita com a ajuda de oito especialistas da área de Baden, na Alemanha, todos responsáveis por garantir a qualidade dos vinhos produzidos na região.
Na química
Você já parou para pensar em quão eficaz é lamber algo sujo para limpar? Bem, os portugueses Paula Romão, Adilia Alarcão e César Viana já, e levaram o prêmio na categoria de química por terem medido isso. O estudo é antigo, datando do começo da década de 90, e ajudou a descobrir que sim, as enzimas do “cuspe” até ajudam em superfícies mais frágeis.
No ensino médico
A colonoscopia não é exatamente fácil, mas o japonês Akira Horiuchi levou o prêmio por fazer exames do tipo em si mesmo. Os achados foram compartilhados por ele no relatório médico “Colonoscopy in the Sitting Position: Lessons Learned From Self-Colonoscopy”, ou, em uma tradução livre, “Colonoscopia Sentado: Lições Aprendidas a partir da Auto-Colonoscopia”. O pesquisador é médico e encabeça a área de doenças digestivas no Hospital Geral de Showa Inan, em Nagano, no Japão. Em entrevista ao Japan Times, no entanto, ele não recomenda que ninguém tente fazer isso em casa.
Na literatura
Você muito provavelmente não lê o manual de instruções e sabe que muita gente também não o faz. E agora você tem provas disso, graças à pesquisa de Thea Blackler, Rafael Gomez, Vesna Popovic e M. Helen Thompson, que levaram o prêmio por documentar que a maioria das pessoas que usa um produto complicado de fato não lê o manual.
O estudo, intitulado “A Vida é Muito Curta para Ler a **** do Manual: Como Usuários se Relacionam com a Documentação e Excesso de Recursos em Produtos” (tradução livre), foi publicado em 2014.
Na nutrição
O pesquisador James Cole levou o Ig Nobel por uma pesquisa sobre canibalismo. Ele calculou que o ingestão de calorias em um dieta canibal é significativamente menor do que a de outras dietas baseadas em carnes. Ou seja, comparando por peso, comer um bife de vaca é mais nutritivo do que um bife feito a partir de uma pessoa. A pesquisa, apesar de estranha, ajudou a provar que as dietas canibais do passado não eram motivadas exatamente pelo valor nutricional, e sim por algum tipo de ritual mesmo.
Na paz
O trânsito pode ser estressante, e os pesquisadores Francisco Alonso, Cristina Esteban, Andrea Serge, Maria-Luisa Ballestar, Jaime Sanmartín, Constanza Calatayud e Beatriz Alamar, da Colômbia e da Espanha, foram descobrir o quanto ele faz as pessoas xingarem.
Eles levaram o prêmio por medir a frequência, a motivação e os efeitos de gritar e reclamar no volante. A pesquisa descobriu que esse tipo de comportamento é muitas vezes motivado não apenas por estresse, mas também por fadiga e motivos pessoais. O estudo também notou que, ainda que representem um risco, há um certo grau de tolerância social aos xingamentos no trânsito, justamente por serem comuns.
Na medicina reprodutiva
Os selos de cartas não têm lá muitas utilidades, mas só John Barry, Bruce Blank e Michael Boileau parecem ter pensado em colá-los ao redor de um órgão sexual masculino. O objetivo? Testar o funcionamento dele. É isso mesmo. Eles levaram o prêmio na categoria pelo relato no estudo “Monitoramento da Tumescência Peniana Noturna com Selos” (título em tradução livre), publicado ainda em 1980.
A ideia dos pesquisadores era relacionar ereções noturnas (que acabavam por rasgar o pedaço de pedaço) com doenças mais graves. Eles descobriram que quem acordava com o papel inteiro — 18 dos 37 pacientes impotentes analisados — tinham neuropatia diabética mais séria, tendências à depressão, perda de libido e fumavam bem mais.
Na economia
Sabe aqueles bonequinhos de vodu? Os pesquisadores Lindie Hanyu Liang, Douglas Brown, Huiwen Lian, Samuel Hanig, D. Lance Ferris e Lisa Keeping levaram o prêmio por analisar a eficácia deles nas mãos de funcionários querendo se vingar de chefes abusivos. Eles descobriram que machucar os bonecos não provoca o mesmo nos chefes, mas ao menos ajuda a aliviar a tensão. No entanto, só funciona no curto prazo. No longo, é melhor discutir a relação com a gerência mesmo.