Se encontrar com um destes besouros na rua, vá em frente, pise nele e verá que nada acontece. Experimente passar com um carro por cima do inseto para se surpreender mais uma vez: ele continuará intacto. Essa força toda é resultado de seu exoesqueleto, que, mesmo tão pequeno, é um dos mais resistentes de todo o reino animal. Agora, um grupo de cientistas parece ter entendido o porquê de tamanha resistência. O estudo acerca do caso foi publicado ainda nesta quarta-feira (21) na revista científica Nature.

Para quem observa o batizado “diabólico besouro de ferro” pela primeira vez, o inseto é curioso o bastante: seu exoesqueleto escuro e irregular parece uma rocha carbonizada. No entanto, para os pesquisadores que foram além, o animal possui maravilhas estruturais, construídas durante a evolução da espécie.

Muitas espécies de besouros podem voar com suas asas envoltas em um éltra, algo como uma casca que serve para proteção. Nestes casos, voar é o mecanismo de defesa. Contudo, os diabólicos besouros de ferro não possuem asas e contam com o exoesqueleto para protegê-los.

De acordo com David Kisailus, professor de Ciência dos Materiais da Universidade da Califórnia Irvine, nos Estados Unidos, e coautor do estudo, o diabólico besouro de ferro é “um besouro terrestre, por isso não é leve e rápido, mas construído mais como um pequeno tanque”. Para se ter uma ideia, o exoesqueleto do inseto é tão resistente que os cientistas encontraram problemas para exibi-lo, já que não foram capazes de inserir um alfinete no animal.

Foi o pesquisador Jesus Rivera quem capturou os besouros e os levou ao laboratório. O grupo de acadêmicos então observaram o inseto usando uma técnica de imagem 3D chamada tomografia microcomputada, que funciona como uma radiografia para todo o organismo. Desta forma, descobriu-se que o animal é capaz de suportar cerca de 150 newtons de força, o equivalente a 39 mil vezes o seu peso corporal. Outras três espécies de besouros terrestres já estudados apresentaram apenas metade da resistência do diabólico besouro de ferro.

Com as observações, os cientistas notaram que a força está concentrada no éltra, aquele mesmo que protege as asas de besouros voadores. Ainda que os diabólicos besouros de ferro sejam terrestres, eles também possuem um éltra porque evoluíram de uma espécie de besouro que podia voar. Sendo assim, a antiga asa e o éltra se fundiram e criaram o característico exoesqueleto sinuoso.

Além de aprofundar o conhecimento acerca do diabólico besouro de ferro, o grupo aproveitou para analisar como a geometria de exoesqueleto do inseto pode permitir o desenvolvimento de materiais mais resistentes. Inclusive, os pesquisadores criaram algumas peças de fibra de carbono para testar a resistência mecânica em uma aplicação do mundo real.

“Este trabalho mostra que podemos deixar de usar materiais fortes e frágeis para outros que podem ser fortes e resistentes, dissipando energia à medida que se quebram”, disse Pablo Zavattieri, engenheiro civil da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, e também coautor do estudo.

Via: CNET