Um dos grandes feitos astronômicos dos últimos tempos, com certeza, foi o surgimento da primeira imagem de um buraco negro. A foto foi resultado da junção de sinais de oito telescópios espalhados ao redor do mundo. Ela foi divulgada na última semana e causou uma grande movimentação em toda a comunidade científica. E para além do registro, nós temos mais um motivo para nos orgulhar: uma das cientistas envolvidas no projeto é brasileira. Lia Medeiros, de 28 anos, se mudou para os EUA ainda criança e faz parte da equipe responsável pela imagem e por sua divulgação.
Em entrevista ao G1, Lia disse que cresceu perto de diversas pesquisas científicas, já que seu pai é um professor de aeronáutica na Universidade de São Paulo. Sua paixão por matemática surgiu ainda na infância, quando ela percebeu a semelhança na linguagem dos números nos diferentes países em que morou. “Quando era criança, percebi que, mesmo que a leitura e a escrita fossem completamente diferentes em países diferentes, a matemática era sempre a mesma”, declarou Lia.
Lia ainda falou um pouco sobre como se deu conta de que queria trabalhar com a matemática e com suas vertentes. “No ensino médio, eu estudei física, cálculo e astronomia ao mesmo tempo e finalmente entendi o real significado da matemática. Eu fiquei maravilhada e atônita que nós, seres humanos, conseguimos criar uma linguagem, a matemática, que não é só capaz de descrever o universo, mas pode inclusive ser usada para fazer previsões”.
Ela também disse que ficou impressionada com os buracos negros, e decidiu que era nisso que sua carreira seria focada: “Eu fiquei especialmente maravilhada pelos buracos negros e a teoria da relatividade geral. Eu decidi então que queria entendê-los. Eu me lembro que perguntei a um professor que curso eu precisava estudar na faculdade para trabalhar com buracos negros. Ele disse que provavelmente daria certo com física ou astronomia. Então fiz as duas.”
Ao falar sobre os dias após a revelação, Lia disse que eles foram “emocionantes, divertidos, vibrantes e um pouco avassaladores”. Além acha que esses resultados podem inspirar a próxima geração de cientistas que querem saber mais sobre o universo ao seu redor.
Lia é especialidade em testar teorias da física nas condições extremas do espaço e encontrou no Evento Horizont Telescope (EHT), o projeto ideal para o seu trabalho. Como parte da equipe que reconstruiu a imagem, ela trabalhou no time que realizou as simulações teóricas também no grupo responsável por construir a foto do buraco negro. Os pesquisadores usaram diversos algoritmos para definir os pedaços da imagem, para poder juntá-los.
Segundo a pesquisadora, o resultado do projeto foi obtido graças ao trabalho de mais de 200 pessoas. Porém, o foco que está sendo dado às mulheres envolvidas é muito bom, já que pode acabar com o estereótipo de que apenas homens podem ser cientistas. “É importante que garotas e jovens mulheres saibam que essa é uma opção para elas, e que elas não estarão sozinhas se optarem por uma carreira científica.”
Ao ser questionada sobre seu futuro, Lia comentou que ganhou uma bolsa de pós-doutorado em astronomia e astrofísica da Fundação Nacional de Ciências, que é um programa de três anos que inclui um salário e um fundo para auxiliar em suas pesquisas. Ela também recebeu uma oferta para participar do Instituto de Estudos Avançados, e disse que pretende conciliar os dois cargos. “Vou levar minha bolsa para o Instituto de Estudos Avançados e, depois dos três anos iniciais, vou continuar como membro do Instituto.
Para entender como funciona um buraco negro, fizemos um artigo bem completo sobre o assunto e você pode lê-lo aqui. Para conhecer outra cientista envolvida na descoberta dessa imagem, é só clicar aqui.
VIA: G1