Conectar centenas de sensores a um painel de controle na web é suficiente para gerar valor a partir da Internet das Coisas? Obviamente, não é. Os dados ficam lá na tela, sem gerar valor algum. O que mais pode ser feito? Como gerar valor para os negócios? Vou discutir a seguir uma ideia que tenho trabalhado que se alinha com novas tendências resultantes da evolução tecnológica acelerada, dentre elas: economia compartilhada, servitização e mercado das coisas.
Imagine que você tem que fazer um projeto de iluminação inteligente de um condomínio. O modelo de projeto tradicional (que costumeiramente me refiro como top-down) consiste em levantar os requisitos, projetar a solução, comprar os dispositivos, instalar e fornecer alguma garantia ou manutenção do parque instalado. Nesse modelo, o cliente (condomínio) compra uma solução turn key de uma empresa, tipicamente integradora de soluções, que resolve exatamente o problema apontado. Nada mais. A empresa integradora vende a solução para cada condomínio e desaparece (brincadeira). O sistema funciona exatamente para aquilo que foi projetado.
É possível fazer diferente? Ou melhor, porque alguém faria algo diferente? Bom, existe um outro modelo que me refiro em minhas palestras como bottom-up. Me dei conta dele ao falar sobre mercado das coisas em uma palestra. Funciona da seguinte forma. O condomínio especifica sua demanda da mesma forma que no modelo tradicional. O projeto é feito para atender essa demanda, mas deixa em aberto outras possibilidades de uso do parque que será instalado. Por exemplo, outros sensores dos nós IoT. Fazendo um parênteses, sabemos que muitos nós já possuem muitos outros sensores, que tipicamente não serão utilizados para o problema de iluminação inteligente do condomínio. O modelo pode deixar em aberto inclusive a plataforma de software que será usada, para que outros programas possam ser desenvolvidos ou conectados via cloud computing à plataforma de iluminação do condomínio. Dessa forma, cria-se um ambiente expansível, criativo. Os donos dos sensores compartilham sua solução para terceiros, monetizando-os. Gerando receita. Funciona semelhante a um Airbnb ou Movida (compartilhamento de veículos).
É claro que existem problemas de segurança. Mas, no modelo bottom-up a solução implantada pode ter usos não pensados de antemão. Por exemplo, pode ser que um moleque em uma garagem (do referido condomínio) crie uma solução genial com os outros sensores instalados. De temperatura por exemplo. Ou de pressão atmosférica. Pode ser que alguma solução na China precisa de medidas de temperatura no Brasil, exatamente onde fica o condomínio. Os sensores instalados poderiam fornecer essas medidas mediante algum pagamento. Essa é a chamada economia das coisas.
A vantagem é que a solução criada se vende várias vezes, para vários usos diferentes. O integrador da solução pode inclusive ajudar na monetização da solução que será instalada. O modelo bottom-up baseia-se na ideia da auto-organização de pequenas partes para criar grandes sistemas. Visa resolver problemas via comportamentos auto-emergentes que resultam da interação social entre dispositivos, programas de computadores (serviços) e pessoas/inteligências artificiais.
Se quiser saber mais sobre um projeto que já implementa estas ideias de auto-organização bottom-up para IoT, veja o Projeto NovaGenesis (www.inatel.br/novagenesis). No próximo artigo, vou abordar outros exemplos de soluções para o chamado mercado das coisas, onde a capacidade de medição de sensores é monetizada e acessada como um serviço.
Por fim, deixo a ideia de que todos os projetos de engenharia atuais devem ser pensados do ponto de vista do compartilhamento (economia compartilhada). Ou seja, como os donos podem gerar valor a partir do compartilhamento dos seus dispositivos, sistemas, soluções. É uma ideia muito poderosa. Think about it!