Como a fonte Calibri, da Microsoft, se tornou pivô de um escândalo político

Renato Santino12/07/2017 23h36

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Nas versões mais recentes do Word, a Microsoft adotou a fonte Calibri como padrão para os textos, substituindo clássicos como Times New Roman e Arial. O que a empresa provavelmente nunca esperava é que a sua fonte se transformaria no ponto central em um processo que pode derrubar o primeiro-ministro do Paquistão.

Os investigadores estão examinando os bens de Nawaz Sharif e sua família, alegando que sua filha e provável sucessora, Maryam Nawaz, falsificou documentos com o objetivo de forjar a posse de propriedades no exterior. E é aí que entra a fonte Calibri.

Os documentos, enviados por Nawaz em 2006, estavam todos escritos na fonte Calibri, segundo a perícia. A questão é que essa fonte só se tornou padrão do pacote Office, da Microsoft, a partir de 2007.

A prova é forte, mas não é cabal, uma vez que a Calibri já existia antes de 2007; nesta data, ela apenas se tornou padrão do Office. O site da Microsoft revela que ela já estava disponível separadamente para download em sua versão 1.0 em 2005. Além disso, o consultor Thomas Phinney também afirma que ela já estava inclusa em uma versão pré-lançamento do Windows em 2004.

Ou seja: existem argumentos que a defesa pode explorar para tentar justificar o uso da fonte antes de ela se tornar padrão no Windows. Contudo, os indícios são fortíssimos; o jornal paquistanês de língua inglesa Dawn conseguiu falar com Lucas De Groot, criador da Calibri, que pareceu cético da possibilidade de que ela tenha sido usada antes de 2006. “Por que alguém usaria uma fonte completamente desconhecida em um documento oficial de 2006?”, ele questiona.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital