Cientistas recriam voz de sacerdote egípcio morto há 3 mil anos

Através da impressão em 3D de um modelo da laringe do corpo mumificado, os pesquisadores recriaram como seria o som da voz do sacerdote que viveu durante o reinado de Ramsés XI, entre 1113 e 1085 aC
Renato Mota24/01/2020 16h18

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A voz do sacerdote egípcio Nesyamun poderá ser ouvida novamente, mais de 3 mil anos após a sua morte, graças à tecnologia. O corpo mumificado do sacerdote, que está atualmente no museu da cidade de Leeds, na Inglaterra, passou por uma tomografia computadorizada, e um modelo 3D do seu trato vocal foi criado.

Os pesquisadores utilizaram esse modelo no Vocal Tract Organ, um instrumento que fornece uma fonte sonora para a laringe artificial que é controlável pelo usuário. Assim, um som de vogal pode ser sintetizado, de maneira que se assemelha muito com vogais pronunciadas por pessoas hoje em dia.

Nesyamun viveu durante o reinado de Ramsés XI, que governou o Egito entre 1113 e 1085 aC. Ele era um sacerdote no templo de Amon, no complexo de Karnak, em Tebas (atual Luxor). Sua múmia chegou a ser desembrulhada em 1824, com trabalhos subsequentes revelando que ele estava na casa dos 50 anos quando morreu.

A hipótese inicial da sua morte foi estrangulamento, mas posteriormente os pesquisadores determinaram a causa real como uma reação alérgica, possivelmente resultado de uma picada de inseto. Ruim para ele, bom para os cientistas, já que Nesyamun não teve nenhum dano aos ossos em volta do pescoço.

“O que fizemos foi criar o som de Nesyamun como ele está em seu sarcófago”, disse o co-autor do estudo, o professor David Howard, chefe do departamento de engenharia eletrônica da Royal Holloway University de Londres. “Não é um som de seu discurso como tal, pois ele não está realmente falando”.

O processo de recriar a voz do egípcio teve suas dificuldades. Por causa da mumificação e do longo período de tempo, a língua de Nesyamun estava murcha e o palato mole estava ausente. A equipe teve que recriar esses elementos e encaixá-los na laringe recriada pela impressora 3D. Howard destaca, entretanto, que o som produzido não é o mesmo que o sacerdote teria em vida, mas o que aconteceria se o ar passasse pelas suas cordas vocais com ele deitado em seu caixão após a mumificação.

“Esse [som atual] nunca é um som que ele teria produzido na vida, mas a partir dele podemos criar sons que seriam produzidos durante sua vida”, afirma John Schofield, arqueólogo e coautor do estudo. A mesma abordagem pode ser aplicada a outros restos humanos preservados – como os corpos de pântanos da idade do ferro encontrados na Dinamarca.

Via The Guardian/Nature

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital