Cientistas criam ‘flecha envenenada’ para matar bactérias resistentes

Nova substância consegue perfurar as paredes celulares dos microrganismos ao mesmo tempo que ataca um elemento fundamental do seu DNA
Renato Mota08/06/2020 21h31

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A crescente resistência de bactérias aos antibióticos é um sério problema de saúde pública. A cada nova geração, os micróbios sofrem mutação e os medicamentos têm que acompanhar essa evolução – e a cada etapa ficamos mais perto da criação de uma superbactéria. Mas pesquisadores da Universidade de Princeton desenvolveram um composto que pode simultaneamente, perfurar as paredes bacterianas e destruir o folato dentro de suas células.

O professor de biologia molecular Zemer Gitai descreve a sustância, chamada SCH-79797 (e descrita em uma publicação da Cell) como uma “flecha envenenada” – uma arma que ataca simultaneamente de dentro e de fora pode derrubar até os oponentes mais fortes.

Infecções bacterianas se dividem em dois grupos: Gram-positivo e Gram-negativo. A principal diferença é que as bactérias Gram-negativas são blindadas com uma camada externa que as protege da maioria dos antibióticos. “Este é o primeiro antibiótico que pode atingir Gram-positivos e Gram-negativos sem resistência”, ao mesmo tempo que é seguro para humanos, afirma Gitai.

Para provar essa falta de resistência a equipe de pesquisadores utilizou ensaios e métodos diferentes, nenhum dos quais revelou uma partícula de resistência ao composto. Por fim, eles usaram força bruta: por 25 dias, os pesquisadores expuseram bactérias à droga repetidamente.

Como as bactérias levam cerca de 20 minutos por geração, os germes têm milhões de chances de desenvolver resistência – mas não o fizeram. Para verificar seus métodos, a equipe também utilizou outros antibióticos, que rapidamente acabaram tendo resistência por parte do microrganismo.

O SCH-79797 usa dois mecanismos distintos dentro de uma molécula. “A ‘flecha’ precisa ser afiada para que o veneno se infiltre, mas o veneno também deve matar por si próprio”, explica Benjamin Bratton, coautor do artigo. A flecha atinge a membrana externa – perfurando até a espessa armadura de bactérias Gram-negativas – enquanto o veneno destrói o folato, um elemento fundamental do RNA e do DNA da bactéria.

Via: Princeton University

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital