Imagine se médicos conseguissem programar nossas células para fazer tarefas diferentes daquelas em que elas são especialistas? Uma equipe de cientistas da Universidade de Boston deu um grande passo para fazer com que isso seja realidade. Num estudo publicado ontem no periódico Nature Biotechnology, eles mostraram como conseguiram dar ordens lógicas a células humanas, transformando-as em microrrobôs.

Essa não é a primeira vez que uma técnica dessas é posta em prática, segundo o Engadget: anteriormente, cientistas já haviam conseguido “programar” bactérias Escherichia coli, mas o processo para manipular células humanas é mais complicado. Mesmo assim, os pesquisadores conseguiram fazer células de rins executarem um total de 109 comandos diferentes.

Programando as células

Para fazer as células se comportarem da maneira como eles queriam, a equipe de cientistas liderada por Wilson Wong usou uma enzima chamada de DNA recombinase. Essa enzima é capaz de reconhecer dois “pedaços” de cógido de DNA, cortar tudo que estiver entre os dois e ligá-los. Com isso, os pesquisadores conseguiram “editar” o DNA das células da maneira como quisessem.

Com esse método, de acordo com a Science, os cientistas foram capazes de criar 113 diferentes circuitos lógicos para as células – deles, 109 foram testados com sucesso. Esses circuitos dão às células uma série de capacidades diferentes: por exemplo, elas podem se iluminar na presença (ou ausência) de determinada substância, para facilitar o diagnóstico de determinadas doenças.

Aplicações

No entanto, iluminar-se é apenas uma das possibilidades que essa técnica abre. Como a Wired aponta, os “circuitos genéticos” podem ser usados até mesmo para terapias contra o câncer. A empresa estadunidense Juno Therapeutics, por exemplo, vem testando o uso desse método para criar células imunológicas que sejam capazes de detectar e combater tumores com mais precisão. Isso porque, por meio dessa “programação”, é possível fazer com que as células “ataquem” na presença de determinadas proteínas que apenas os tumores liberam.

A Ginkgo Bioworks, por sua vez, tem um uso mais estético para a tecnologia. Ela vem testando esse método para criar uma levedura que se alimente de açúcar, mas que, em vez de produzir álcool como parte de sua digestão, produza moléculas aromáticas. Isso seria de grande valia para a empresa, que produz perfumes e fragrâncias.

Mas deve levar algum tempo para que essa técnica ganhe um uso mais amplo. Isso porque ainda há alguns problemas a se resolver. Algumas células, por exemplo, sofrem mutações ao se dividir, e essas mutações fazem com que suas modificações genéticas parem de funcionar. Além disso, algumas “instruções” do DNA das células aparecem mais de uma vez; por isso, simplesmente “desativar” um pedaço do DNA nem sempre funciona.