Chromebooks na sala de aula já são realidade em escola pública

A rede municipal de ensino fundamental de Barueri recebeu equipamentos que têm transformado a forma como crianças e adolescentes interagem com a tecnologia
Roseli Andrion05/09/2019 23h55, atualizada em 07/09/2019 15h00

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Pertencimento. Esse é o sentimento que a escola tem, ao longo das décadas, tentado despertar nos estudantes. Nem sempre é fácil, mas parece que as unidades de ensino municipais de Barueri têm conseguido avançar nesse quesito: seus 66 mil alunos e 3.500 professores hoje convivem em ambientes muito mais propícios a despertar essa sensação.

Tudo começou em 2017, quando a Secretaria de Educação da cidade decidiu criar um departamento de tecnologia da informação (TI) dedicado ao segmento educacional. “O ensino tem necessidades tecnológicas diferentes de outras áreas. Então, ter um departamento de TI dedicado a ele faz toda a diferença”, conta Ricardo Nascimento, coordenador de TI do órgão.

O projeto, que envolve 113 escolas municipais, transformou o ambiente escolar: as unidades receberam, no começo deste ano, redes Wi-Fi, Chromebooks, óculos de realidade virtual e sistemas de videoconferência. A ideia é aproximar os estudantes de fato da tecnologia — com o auxílio dos professores, claro.

Modernização do ensino

Por isso, uma das primeiras ações foi modernizar a noção tradicional do laboratório de informática. Até há pouco tempo, ele era uma sala sempre trancada nas escolas e raramente era visitado pelos alunos. “O ambiente do laboratório era ruim. Além de manter os estudantes sempre apartados dos equipamentos, ainda existia uma preocupação com a integridade do material: preferia-se manter tudo intacto a colocar os computadores em uso”, diz Nascimento.

Desde o início deste ano letivo, entretanto, os Chromebooks adquiridos pela prefeitura frequentam as salas de aula comuns nas escolas de ensino fundamental da rede de Barueri — e são usados em todas as disciplinas. O Olhar Digital visitou a Emeief Professor João Tiburcio Silva Filho para saber como isso tem ocorrido por lá.

A escola fica em uma comunidade localizada em um bairro periférico de Barueri, a Chácara Marcos, e lá ainda é comum encontrar alunos pouco motivados. “Muitos deles não entendem completamente a importância da educação formal nem têm afinidade com as metodologias tradicionais de ensino”, explica Reinaldo Ribeiro, diretor da unidade.

Nesse contexto, alguns estudantes não tinham nem vontade de fazer provas. “Eles diziam que já sabiam que iam mal”, conta o professor de matemática Edson Oliveira. “Hoje, um dos alunos que menos se identificava com a escola tem mais de 2 milhões de pontos na Khan Academy”, orgulha-se. Oliveira diz que, todos os meses, o mais bem colocado na plataforma é premiado com chocolates e um certificado. “Isso teve um efeito muito positivo, pois todos querem se destacar.”

Reprodução

Transformação notável

Desde a implantação do novo conceito, o cenário é outro: os professores, a coordenadora pedagógica e o diretor da Emeief Professor João Tiburcio Silva Filho relatam que a transformação na comunidade escolar é notável. A Secretaria de Educação de Barueri ainda não tem estatísticas para compartilhar, mas informa que já se percebem muitas mudanças.

Uma delas tem relação direta com o índice de faltas: ele diminuiu muito, pois os estudantes não querem deixar de ir à escola nos dias em que terão a possibilidade de interagir com as tecnologias. “Nem quando estão doentes eles querem faltar”, alegra-se Flávia Moreno, secretária de educação do município.

Quando chega o momento de receber os Chromebooks na sala de aula, os alunos ficam eufóricos. Os equipamentos são armazenados em um armário especial com rodinhas, que é levado até os estudantes. Cada carrinho desses comporta 40 computadores, que, no fim do dia, são carregados em conjunto, no próprio contêiner. Os alunos relatam que até melhoraram em algumas disciplinas depois que os dispositivos entraram em cena.

Beatris Gimenes Silva Pontes, de 12 anos, cursa o 6º ano e diz que os computadores são usados em diferentes matérias (“em história, português, artes, inglês…”), mas que ela melhorou bastante em matemática. “As plataformas Khan Academy e Mentes Notáveis têm vários jogos que auxiliam a aprendizagem”, relata.

Outro que conseguiu melhores resultados desde que o uso da tecnologia foi intensificado é Danilo Menezes Oliveira Barros, de 12 anos, também aluno do 6º ano. “Melhorei em Ciências”, comemora. “Fazer pesquisa assim é muito mais fácil, porque podemos buscar diretamente na internet: é só digitar o que queremos que o Google mostra para a gente.”

Participação dos professores

Para garantir o envolvimento dos professores no projeto, esses profissionais foram treinados na plataforma Google for Education e, agora, passam por capacitação contínua — a mudança de cultura é o aspecto principal desse processo e, para isso, a sensibilização dos participantes é essencial. A responsável pela preparação dos professores é a Colaborativa, uma empresa que ajuda instituições de ensino a promoverem a fluência digital no aprendizado.

Isso é importante porque são esses profissionais que vão guiar crianças e adolescentes no processo de envolvimento com a tecnologia — e o próprio Google tem a crença de que essa transformação digital na educação só vai acontecer a partir das pessoas, que usam a tecnologia como um meio, não como um fim. “Como a tecnologia evolui muito rapidamente, as pessoas têm de estar preparadas para ela. Nosso papel é acompanhá-las nesse processo”, avalia Beni Khun, CEO da Colaborativa.

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Ele explica que a chave do método é a personalização. “Cada indivíduo aprende de uma forma diferente. Então, apoiamos o professor em toda essa jornada de aprendizado”, explica. “A formação do profissional é apenas parte da transformação. Acompanhá-lo continuamente é essencial para o sucesso do projeto.”

E os resultados aparecem também entre os profissionais. A coordenadora pedagógica da escola, Patrícia Monteiro, diz que os professores agora interagem muito mais com os colegas — da própria unidade e de outras. “Até o nível das atividades curriculares e das práticas propostas aos alunos está mais elevado, porque eles percebem que fazem parte de uma rede mais ampla em que todos atuam em conjunto”, comenta.

Para a secretária de educação Flávia, o reconhecimento dos alunos tem sido muito gratificante. Ela diz que os estudantes a visitaram e se emocionaram ao conversar sobre o assunto. O motivo? A autoestima deles aumentou porque eles se sentem cuidados por quem ofereceu a eles a oportunidade de ter acesso a esses equipamentos. Uma experiência que, até então, só estava disponível na rede particular de ensino.

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Ela destaca que as conjunturas nesses dois ambientes ainda são muito diferentes e, por isso, o município tem investido para mudar esse cenário. “Nosso propósito é que a criança da escola pública também tenha acesso àquilo de mais novo que a sociedade tem a oferecer. Se a vida pode ser simbolizada na metáfora da corrida, todos têm de partir da mesma linha. Afinal, não é justo alguns partirem antes e todos terem de chegar juntos.”

Colaboração para o Olhar Digital

Roseli Andrion é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital