Chamadas de celular em voos são espionadas, revela Edward Snowden

Renato Santino13/12/2016 20h04, atualizada em 13/12/2016 20h10

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Quem disse que os vazamentos de documentos roubados por Edward Snowden haviam parado? O site The Intercept e o Le Monde, que desde o princípio trabalharam com o ex-funcionário da CIA para divulgação das informações, revelaram mais um escândalo: os governos dos EUA e do Reino Unido estavam monitorando o uso de chamadas telefônicas por celular feitas em voos.

Os documentos começam com uma charada: “O que o presidente do Paquistão, um contrabandista de charutos, um traficante de armas, um terrorista, e um membro de uma rede de proliferação nuclear têm em comum? Todos usaram seu celular GSM cotidiano durante um voo”.

Essa charada apareceu em documentos da NSA (a Agência de Segurança Nacional dos EUA) de 2010, indicando o princípio de uma nova técnica de espionagem. Um outro relatório mostrava que 50 mil pessoas já haviam usado o celular no avião para realizar chamadas até dezembro de 2008, e em fevereiro de 2009 esse número já havia dobrado para 100 mil. E, assim, surgiu a ideia de começar a monitorar o que era comunicado durante os voos equipados com capacidades GSM.

Já a CGHQ (equivalente à NSA do governo britânico) apresentou em 2012 um programa chamado “Southwinds”, que tinha como objetivo coletar toda atividade celular durante os voos, incluindo as comunicações de voz, os dados, os metadados e o conteúdo das chamadas feitas em aviões comerciais. O documento diz que o Reino Unido era capaz de monitorar o que era comunicado sobre as regiões cobertas pelos satélites da empresa de telecomunicações Inmarsat, atingindo Europa, Oriente Médio e África.

Entre as companhias aéreas que tiveram seus voos monitorados estão British Airways, Hong Kong Airways, Aeroflot, Etihad, Emirates, Singapore Airways, Turkish Airlines, Cathay Pacific, Lufthansa e Air France. Em 2012, eram 27 empresas que ofereciam a possibilidade de uso da rede GSM de telefonia em seus voos; hoje já são mais de 100, possibilitando uma ampliação das capacidades de espionagem.

A apresentação do CGHQ deixa claro que os dados eram monitorados quase em tempo real, sendo atualizados a cada dois minutos. Para espionagem de um telefone, só era necessário que o avião estivesse em uma altitude acima de 3.000 metros. Era neste momento que estações no solo poderiam interceptar o sinal enquanto ele transitava por um satélite. O fato de o celular estar ligado já entregava sua posição, e a interceptação poderia ser cruzada com a lista de passageiros, número do voo e código da empresa aérea para descobrir o nome do usuário do smartphone.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital