Quem nunca se perdeu no mar de fios que conectam os dispositivos à energia elétrica que atire a primeira pedra. Cada vez mais, a comunicação sem fio é uma realidade. Outro sistema que tem ganhado espaço é o carregamento sem fio — e que, no futuro, tem grandes chances de se tornar padrão.
O processo ocorre por indução eletromagnética e, por enquanto, são poucos os modelos que o oferecem. Esse método usa a corrente elétrica para produzir um campo magnético e, assim, criar a voltagem necessária para carregar o aparelho sem que seja necessário conectá-lo diretamente à rede de energia elétrica.
Muitos estão empolgados com a ideia de eliminar os fios em mais essa capacidade. A começar pelos fabricantes: um levantamento da empresa de pesquisa IHS Markit informa que mais de meio bilhão de dispositivos (smartphones, pequenos wearables, itens para casa e outros) com carregamento sem fio chegaram ao mercado em 2017.
Você já deve ter reparado que os celulares com estrutura de vidro têm se multiplicado. E isso é um sinal inequívoco de que muitos desenvolvedores já pensam em um mundo em que só haja espaço para os carregadores sem fio: o vidro é um dos materiais que permite que a energia seja transmitida ao smartphone para que ele seja carregado.
A grande vantagem dos carregadores sem fio — que, é preciso dizer, por enquanto ainda precisam ser conectados à tomada ou a um conjunto de baterias — é que eles podem ser deixados em lugares em que se passa bastante tempo, como o quarto ou o escritório, para serem usados mais facilmente.
Apesar de toda a praticidade que pode ser trazida pela tecnologia, ainda há arestas a aparar. Que o diga a Apple: a marca parecia pronta para lançar seu revolucionário AirPower (que carregaria três dispositivos ao mesmo tempo) e abandonou tudo. Aparentemente, a tecnologia ainda não está suficientemente madura para o que a dona do iPhone pretendia fazer — há relatos de que o AirPower apresentava superaquecimento e interferências.
O futuro é sem fio?
Isso não quer dizer, entretanto, que a tecnologia não tenha futuro. Basta lembrar que o hoje extremamente popular Wi-Fi foi inventado em 1997, apresentado comercialmente em 1999 e só ganhou dispositivos compatíveis em 2004. Ao Brasil, então, só chegou em 2008. Ou seja, sempre existe um tempo de maturação. E, às vezes, quem tenta fazer os primeiros aparelhos acaba por desistir pelos mais diversos motivos: falta de profissionais habilitados, dificuldade para driblar os desafios e assim por diante.
Já há, entretanto, empresas cuidando do desenvolvimento do carregamento sem fio a distância. Seria algo como o modem Wi-Fi que, hoje, faz a internet chegar a todos os pontos de uma casa (às vezes com o auxílio de um repetidor de sinal, é verdade). E o melhor: a ideia é que ele seja capaz de detectar os aparelhos que precisam de carga e passe a recarregá-los automaticamente.
Uma das empresas que mais aposta no conceito é a Energous. Ela criou o WattUp — que foi o primeiro conceito a receber aprovação da Comissão Federal de Comunicações (Federal Communications Commission – FCC) dos EUA — e recentemente fez uma parceria com a fabricante chinesa de smartphones Vivo.
O grande diferencial da proposta da Energous é justamente o alcance. O que se tem atualmente é o sistema Qi, que é usado na maioria dos celulares e, por usar indução, carrega os dispositivos apenas a pouco alcance. O WattUp, por usa vez, usa radiofrequência (na faixa entre 5,7 e 5,8GHz) — que sai de um aparelho semelhante a um roteador — e tem ângulo de funcionamento de cerca de 120°.
Com ele, é possível carregar até quatro itens simultaneamente em um raio de aproximadamente 5m. O equipamento fica em stand-by e só entra em ação se encontrar dispositivos que necessitem de recarga — e a energia enviada é dirigida especificamente ao aparelho que vai recebê-la.
É importante ter em mente que o desenvolvimento dessas possibilidades ainda está tomando rumo. Houve muitas tentativas em diferentes direções e a verdade é que ainda se busca a mais eficiente delas. Mesmo assim, já dá para sonhar com um futuro livre de fios emaranhados embaixo ou atrás dos equipamentos.