“Melhorar a relação das pessoas com seus celulares”. Esse é o objetivo do aplicativo Files Go, do Google, nas palavras do seu diretor de experiência de usuário, o brasileiro Koji Pereira. O aplicativo é um gerenciador de arquivos para Android que facilita em muito a vida de quem sempre recebe o aviso de que está ficando sem espaço de armazenamento.
Lançado em versão beta em novembro, o Files Go agora já está disponível em versão final para todos os usuários. A principal função dele é a de “limpar” a memória do celular, excluindo arquivos antigos, excessivamente grandes e pouco usados para abrir espaço para mais fotos, vídeos e informações. Mas ele também inclui algumas surpresas bem interessantes, todas as quais são fruto de muita pesquisa do Google e de muita experiência de Koji e da equipe do app.
Antes de trabalhar no Files Go, Koji já tinha passado por diversos projetos do Google, incluindo um muito amado por brasileiros: o Orkut. Koji era da equipe da rede social depois de ela ter sido comprada pela gigante das buscas. “Era legal porque até a minha mãe usava e comentava as mudanças”, conta. E é possível encontrar no Files Go a mesma tentativa de criar, com seus usuários, uma relação positiva e otimista – exemplificada pelo mascote simpático do aplicativo.
Um problema global
A ideia de criar o Files Go veio de um padrão que o Google percebeu entre os usuários da Índia: por lá, um em cada três usuários tem problemas com o armazenamento de seu celular. Faz sentido: por lá, muita gente ainda usa dispositivos de entrada, que costumam ter menos espaço de armazenamento – às vezes apenas 4 GB, ou até menos.
Por outro lado, conforme os celulares vão ficando mais poderosos, os arquivos que eles criam e enviam vão ficando cada vez maiores. E, com isso, as pessoas que ainda têm celulares menos potentes vão tendo cada vez mais problemas de espaço.
Nesse aspecto, segundo Koji, o Brasil e a Índia têm realidades muito semelhantes. Tanto aqui quanto lá, ainda há muitos usuários que têm dispositivos com pouco espaço de armazenamento. Nos dois países, o celular também é frequentemente a principal maneira pela qual as pessoas acessam a internet, e a dificuldade de acesso a redes fixas de alta velocidade também é comum aos dois países. De fato, por meio de uma pesquisa de campo, Koji percebeu que o problema de espaço também afetava muitos usuários por aqui.
Ficou evidente, no entanto, a necessidade de um aplicativo que facilitasse o processo de gerenciar arquivos e liberar espaço no celular. Afinal, não é exatamente simples usar o Android para apagar os dados temporários de aplicativos. Por isso, tornou-se evidente a necessidade de um aplicativo que facilitasse esse processo.
Processo
No início, o Files Go tinha um único grande botão de “Liberar espaço”. Esse botão fazia o que normalmente se faz quando o celular começa a ficar cheio: apagar fotos antigas, desinstalar apps usados com pouca frequência, limpar o cache do navegador, etc. No entanto, Koji diz que a equipe percebeu que os usuários não gostaram muito. “Os usuários queriam entender melhor o que acontecia, eles queriam mais transparência no processo”, diz.
Foi assim que a equipe chegou ao design que o aplicativo tem hoje, baseado em pequenos cartões contendo sugestões do que fazer. Cada cartão traz uma sugestão de grupos de arquivos para apagar (arquivos duplicados, memes em baixa resolução, arquivos grandes demais, etc). E quando o usuário opta por deletar um desses grupos, pode ver todos os arquivos que serão apagados (e desmarcar aqueles que ele preferir manter).
Outros recursos
O Files Go tem também outras funções além de liberar espaço. Ele também facilita o processo de localizar arquivos armazenados no celular, permitindo que o usuário filtre os arquivos por tipo (imagens, vídeos, etc.). Mas outro recurso para o qual Koji chama a atenção é a possibilidade de usar o app para enviar arquivos de um celular para outro que esteja próximo, mesmo que nenhum dos dois tenha sinal de internet, e sem usar redes Bluetooth.
Pode parecer magia, mas na verdade é um recurso chamado de Wi-Fi direta. O que ele faz é fazer com que um dos celulares funcione como uma espécie de “servidor” – o outro celular então se conecta a esse servidor diretamente, e recebe dele o arquivo que aquele “servidor” está enviando. É como se os dois celulares criassem, entre si, uma espécie de internet privada. E como a conexão é criptografada, não há risco de que os dados enviados dessa maneira sejam interceptados.
Inteligência artificial
Quase tudo que o Google faz hoje em dia tem inteligência artificial em alguma parte, e o Files Go não é diferente. Segundo Koji, o aplicativo usa por exemplo uma biblioteca de aprendizagem de máquina que o ajuda a reconhecer memes. É por meio dessa tecnologia que o app consegue detectar os gifs em baixa resolução que costumam ser compartilhados pelo WhatsApp – e que ao longo do tempo acabam ocupando um belo espaço na memória do celular.
O app também usa inteligência artificial para entender melhor como ele está sendo usado. Dados sobre o uso que é feito do Files Go são enviados à máquina, que então percebe quais sugestões foram aceitas pelo usuário e quais não foram bem recebidas. Com esses dados, ele conseguirá melhorar as próprias sugestões.
Dados desse tipo também chegam à equipe que gerencia o aplicativo, e por meio dele a equipe consegue decidir quais novos recursos implementar. “Conforme as pessoas forem usando, a gente vai entender melhor como elas usam”, diz Koji, e essa informação é um dos fatores que serão considerados na hora de criar novos recursos para o app.