Fiquei arrepiado ao ouvir recentemente que a causa mais provável do fim da humanidade seria um erro de biotecnologia. Quem disse isso foi um craque de inovação, o diretor geral do MIT Media Lab, Joi Ito, um dos estudiosos mais antenados do mundo no momento. Coincidentemente, na mesma semana, recebi de uma amiga que está conhecendo laboratórios de inovação pelo mundo, imagens de uma Synth, que quer dizer Syntetic Humanoids – robôs feitos à imagem e semelhança dos seres humanos, incrivelmente capazes e parecidos conosco. A foto mostrava, lado a lado, a robô e a cientista que a criou. Assustador! Não conseguia dizer quem era quem. Com aplicação de inteligência artificial, esses robôs serão capazes de expressar hiper empatia e compaixão. Segundo anunciado, poderão, em breve, atuar como companheiros, terapeutas, cuidadores, enfermeiros, vendedores e educadores. No Japão, a Erica é o primeiro robô a virar âncora de um telejornal ao lado de um apresentador humano. Além de ler notícias, a humanoide interage com o colega de bancada. Na China, a agência Xinhua criou um humanoide, que é um clone do também apresentador de telejornal, Zhang Zhao.
Tudo isso surge num momento em que eu já andava impressionado por ter sido muito bem atendido, há cerca de um mês, por um computador disfarçado de gente em um serviço de atendimento ao consumidor.
Acontecimentos tecnológicos, um atrás do outro, têm me feito gelar o sangue. Voltam o tempo todo à minha mente as cenas de Blade Runner – O Caçador de Androides, o fantástico filme dirigido por Ridley Scott, em 1982. Nele, uma Los Angeles cinzenta retratava cenas de um futuro sombrio para 2019, ano muito distante àquela época. Cenas de lutas e disputas entre humanos e clones humanos (os replicantes) marcaram a aventura. Sobravam poucos sobreviventes – de uma tragédia biotecnológica talvez – em meio a essas máquinas perfeitas, imortais, debaixo de um céu escuro e neblina, muita neblina, possivelmente atribuível às mudanças climáticas. À época tinha 22 anos de idade e já interessadíssimo em inovação, lembro-me de ter adorado o longa-metragem e de tê-lo assistido diversas vezes.
Agora, passados 38 anos, continuo tentando descobrir como a indústria do cinema e dos desenhos animados sempre foi tão certeira nas previsões de futuro que colocam em suas produções. É incrível como desde a série de animação Os Jetsons (jocosamente, os filhos do jato), de 1962, passando por inúmeras outras, como o Agente 86, além de filmes, muitos filmes, como De Volta para o Futuro e Jornada nas Estrelas, os diretores sempre acertaram em suas previsões e conseguiram introduzir em suas cenas dispositivos que 30, 40 anos depois, acabaram se tornando realidade. Assustado, volto a pensar nos possíveis motivos do fim da vida na Terra e nos humanoides. Fico chocado de ver que, enquanto o Presidente dos EUA discute com outros países a supremacia na tecnologia nuclear, outras tantas tecnologias ainda mais perigosas e destruidoras podem estar sendo desenvolvidas a todo o vapor embaixo do seu nariz.
Voltando aos visionários diretores de cinema, uma das explicações que encontrei para o alto índice de acerto desses filmes na previsão do futuro está no conceito de intérpretes. Segundo a metodologia de inovação DDI – Design Driven Innovation, criada pelo professor Roberto Verganti, do Politecnico de Milano, são chamados de intérpretes os intelectuais e pensadores ligados à arte, diretores de cinema, poetas, designers e demais pessoas capazes de usar sua sensibilidade para antever mudanças socioculturais. O método DDI tem como uma de suas etapas principais justamente a interação com pessoas antenadas, do mundo da arte e da cultura e capazes de perceber coisas antes que elas aconteçam. Os diretores dessas obras seriam intérpretes naturais e isto explicaria sua capacidade de configurar cenários e realidades do futuro.
Olhando-se, portanto, para o que o cinema vem nos anunciando ao longo dos últimos 30 anos, é bom estarmos preparados para fortes mudanças em nossa realidade. Ao que tudo indica, no que se refere ao futuro, será cada vez mais difícil acreditar no que dizem os governantes e mais interessante tentar ver o que nos mostra o cinema. Líderes como Trump, por exemplo, afirmando que as mudanças climáticas não existem e não passam de um movimento de grupos de interesse, corresponde ao que chamávamos no passado de comédia, enquanto o que antigamente era para nós aventura de cinema vai se tornando rapidamente realidade.