A Fundação Bill e Melinda Gates divulgou nesta semana sua carta anual, voltada para os estudantes de ensino fundamental e médio de todo o país. Em 2016, a fundação chama atenção para dois grandes problemas do mundo atual: falta de energia e desigualdade de gênero. “A pobreza não é apenas a falta de dinheiro. É a ausência dos recursos que permitem realizar o seu potencial. Os dois mais críticos são tempo e energia”, explica Gates na carta.
Atualmente, mais de um bilhão de pessoas no mundo vivem sem eletricidade. O valor é correspondente a 18% da população do mundo. “Se nós realmente queremos ajudar as famílias mais pobres do mundo, precisamos encontrar uma maneira de levar até eles uma energia barata e limpa. Barata, porque todo mundo deve ser capaz de pagar. Limpa porque não deve emitir qualquer dióxido de carbono, o que está impulsionando mudanças climáticas”, conta o fundador da Microsoft.
Segundo Gates, é preciso um “milagre” da tecnologia para completar a missão. “Quando eu digo ‘milagre’, não quero dizer algo que é impossível. Eu vi os milagres acontecem antes. O computador pessoal. A Internet. A vacina contra a poliomielite. Nenhum deles aconteceu por acaso. Eles são o resultado de pesquisa e desenvolvimento e a capacidade humana de inovar”, afirma, deixando bem claro que qualquer ideia – até as menos prováveis – pode ajudar a resolver o problema. “Você pode ter a solução”, explica.
Melinda Gates aproveitou a carta anual para defender a igualdade dos gêneros em todos os setores. De acordo com dados da fundação, globalmente, as mulheres gastam, em média, 4,5 horas em um trabalho não remunerado, mais do que o dobro de um homem. “A menos que as coisas mudem, as meninas hoje vão gastar centenas de milhares de horas a mais do que os rapazes em um trabalho não remunerado, simplesmente porque a sociedade assume que é a sua responsabilidade”, conta Gates.
“O enorme número de horas essas meninas gastam com essas tarefas distorce suas vidas inteiras. É quase impossível para quem tem a sorte de viver em países ricos entender como trabalho não remunerado domina as vidas de centenas de milhões de mulheres e meninas”, afirma. Segundo Melinda, essa diferença gera o custo de oportunidade, ou seja, muitas mulheres perdem a chance de realizar bons trabalhos porque estavam se dedicando às tarefas não remuneradas.
“Que metas incríveis você realizaria com uma hora extra todos os dias? Ou, no caso de meninas em muitos países pobres, cinco ou mais horas? Há muitas maneiras de responder a esta pergunta, mas é óbvio que muitas mulheres iriam gastar mais tempo com o trabalho remunerado, iniciar negócios, ou de outra forma contribuir para o bem-estar econômico das sociedades em todo o mundo”, conta Melinda.
Leia a carta na íntegra:
“Começamos a carta deste ano fazendo uma pergunta: se você pudesse ter um superpoder, qual seria?
Sonhar em ler mentes, ver através das paredes, ou ter uma força sobre-humana pode parecer bobagem, mas isso diz muito sobre o que realmente importa em sua vida.
Todos os dias no nosso trabalho, somos inspirados pelas pessoas que encontramos fazendo coisas extraordinárias para melhorar o mundo.
Todas elas têm aproveitado para um tipo diferente de superpoder que todos nós possuímos: o poder de fazer a diferença na vida dos outros.
Nós não estamos dizendo que todos precisam dedicar suas vidas aos pobres. Muita gente é ocupada o suficiente fazendo lição de casa, praticando esportes, fazendo amigos e perseguindo seus sonhos. Mas nós pensamos que você pode viver uma vida mais poderosa quando você dedicar um pouco do seu tempo e energia para algo muito maior do que você mesmo.
Encontre um problema que te interessa e aprenda mais sobre ele. Seja voluntário ou, se você puder, doe um pouco de dinheiro para uma causa. Faça o que fizer, não seja um espectador. Envolva-se. Você pode ter a oportunidade de fazer algo de maior impacto quando for mais velho. Mas por que não começar agora?
A nossa própria experiência de com a saúde, o desenvolvimento e a energia nas duas últimas décadas tem sido uma das partes mais gratificantes de nossas vidas. Ela transformou quem somos e continua a alimentar o nosso otimismo sobre o quanto as vidas das pessoas mais pobres vai melhorar nos próximos anos.
Sabemos que é uma experiência que vai mudar a sua vida também. Você vai ser como Clark Kent, não com um par de meias e uma capa, mas com superpoderes que você nunca soube que tinha”.