Algumas bactérias – especificamente as que vivem em corpos de água, desde pequenas poças até cavernas subaquáticas – são capazes de produzir eletricidade como um derivado de seus processos de respiração. A descoberta foi feita pelo Instituto de Ciências Microbiais da Universidade de Yale, que resumiu a novidade como se os organismos tivessem um “snorkel gigante”.

O ato de respirar é, evidentemente, diferente entre bactérias e outros seres vivos – mamíferos, por exemplo, têm pulmões que absorvem oxigênio e liberam gás carbônico. Neste caso específico de bactéria (as quais os cientistas chamam de “geobacter”, ou “geobactéria”, em tradução livre), elas contam com um fio de proporções nanométricas, ou seja, cerca de 100 mil vezes mais fino que um fio de cabelo humano, pelo qual elas dispensam elétrons milhares de vezes maiores que seus respectivos corpos.

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Geobactérias se amontoam para despejar eletricidade com “nanofilamentos” (os traços em vermelho). Imagem: Reprodução/Yangqi Gu and Vishok Srikanth/Yale

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As geobactérias “respiram” por meio da absorção de dejetos orgânicos presentes nos corpos aquáticos onde vivem, alimentando-se deles e liberando os elétrons de forma similar a qual nós liberamos gás carbônico. Graças a essa adaptação, esses organismos trazem uma das maiores capacidades respiratórias do mundo: “Você não consegue, por exemplo, exalar [gás carbônico] 300 metros à frente, certo?”, disse Nikhil Malvankar, um professor assistente do instituto ao site Live Science.

Com essa descoberta, Malkanvar e sua equipe usaram técnicas avançadas de observação e estimulação microscópica, desvendando uma “molécula secreta” presente em colônias de geobactérias que, uma vez sujeitas à exposição de eletricidade, são capazes de conduzi-la com até mil vezes mais eficácia do que em seus respectivos habitats naturais, e a distâncias incrivelmente longas.

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Pelo entendimento dos cientistas, adaptar essa capacidade de condução elétrica para os padrões humanos poderia fazer com que as geobactérias se tornassem baterias vivas: “[Nós] Acreditamos que essa descoberta poderá ser aplicada na criação de eletrônicos por meio das bactérias sob nossos pés”, disse Malkanvar.

Bactérias e eletrônicos

A aplicação de bactérias na condução elétrica de dispositivos humanos não é exatamente uma novidade. Em 2008, essas mesmas geobactérias foram utilizadas em um experimento da Marinha norte-americana, onde elas serviram de fonte de energia para uma boia meteorológica no rio Potomac, em Washington, por mais de nove meses sem sinal de enfraquecer. Entretanto, naquela ocasião, a carga era incrivelmente pequena: 36 miliwatts.

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Com a descoberta da equipe da Universidade de Yale, a expectativa é que seja possível manipular esses “snorkels gigantes” de colônias de geobactérias, tornando-as mais fortes e ainda mais condutivas. Ademais e, com sorte, inaugurar uma geração de artigos bioeletrônicos, mais amigáveis ao meio ambiente e também mais baratos e simples de serem confeccionados.

Fonte: Live Science