Grace Hopper foi, nos anos 1940, uma pioneira da análise de sistemas que trabalhou para a Marinha dos Estados Unidos e criou linguagens para computadores usadas por décadas. Hopper também costumava dizer que “humanos são alérgicos a mudanças”, mas que ela estava disposta a lutar contra isso e trazer muitas outras mulheres para trabalhar com tecnologia. Bem, hoje vemos que os esforços de Grace Hopper e tantas outras realmente fizeram (e fazem) a diferença.

Podemos não ser maioria quando se observa o número de vagas ocupadas nos cursos de exatas, ciências, biomedicina, programação ou mesmo no mercado de trabalho. Mas o espaço feminino está em crescimento – e, felizmente, estamos também atuando em questões relevantes para a sociedade. Em relação às startups que atuam no campo do governo promovendo melhorias para os cidadãos – as chamadas GovTechs – as mulheres estão definitivamente deixando marcas históricas.

Em um relatório realizado no final de 2018 pelo site GovInsider, 68 mulheres receberam destaque pelas suas respectivas atuações transformando realidades de comunidades, cidades e Estados a partir do uso da tecnologia. E isso acontece em diversas partes do mundo – nos países asiáticos, passando pela Europa e América.

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Muitas das mulheres lembradas pelo relatório estão se dedicando a mudar modelos e questionar o status quo em diferentes instituições, sejam bancos públicos, ministérios, embaixadas, órgãos de diversas naturezas. Uma delas, Francesca Bria, é considerada uma “super-heroína do Govtech” e já se tornou bastante conhecida na Europa e fora dela por seus esforços.

Olhar abrangente

Francesca é uma tecnóloga italiana e hoje presta assessoria em estratégia digital, tecnologia e política de informação para a cidade de Barcelona, lugar que se tornou um celeiro de inovação e um dos hubs de destaque quando se fala em GovTech. Mas, além de atuar diariamente com a cidade catalã, ela também oferece sua expertise por meio do Decode Project, uma iniciativa que reúne a União Europeia para discutir sobre a soberania de dados dos cidadãos.

Francesca Bria não para por aí: na verdade ela também tem assessorado a cidade de Roma e toda a região do Lácio, em seu país-natal, quanto às ações para tornar cidades mais abertas à adoção de práticas digitais. Ela também é ativa em vários movimentos populares que defendem o acesso aberto, o conhecimento comum e as tecnologias descentralizadas.

Sistemas e leis para todo o mundo

Ela não está sozinha – e podemos citar mais um ótimo exemplo de quem não está preocupada com a imagem que se faz das mulheres na tecnologia, decidindo agir globalmente e pensar em dias mais eficientes.

Anita Hazenberg é quem lidera o Centro de Inovação da Interpol, conectando polícias em 194 países em todo o mundo. O centro é formado por quatro laboratórios que operam sob uma abordagem dupla (de inovação estratégica e inovação aplicada). Sua orientação é baseada em experimentar e testar conceitos e ferramentas de policiamento com o objetivo de orientar discussões, moderar a colaboração internacional e desenvolver soluções de segurança para o futuro.

Um dos projetos encabeçados por Hazenberg foi o Radar de Inovação e Tecnologia da Interpol, que funciona quase como um guia, fornecendo uma visão geral das tecnologias emergentes, englobando vários exemplos de como o setor pode beneficiar a comunidade na aplicação das leis.

Assim com as mulheres citadas no relatório, eu me orgulho hoje também de buscar promover a pauta da inovação aqui no Brasil. O BrazilLAB – primeiro hub que conecta startups com o poder público – já está indo para o seu terceiro ano de trabalho e opera com mais de 50 startups em diferentes áreas (saúde, educação, inclusão social) pensando em soluções para as cidades brasileiras.

Acredito fortemente que a sensibilidade feminina junto com o poder das novas tecnologias pode gerar soluções concretas para os problemas mais complexos vividos atualmente pela nossa sociedade. E é ótimo saber que existem mulheres que estão ocupando esses espaços e servindo de exemplo para estabelecermos uma nova mentalidade global – o que faria Grace Hopper e todas as pioneiras se orgulharem muito de todas nós.