Desde o ano passado, vejo muitos sites publicando testes do aplicativo TestM – Smartphone Condition Check & Quality Report (ou TestM Hardware). Alguns deles são pagos, outros aparentemente não, o problema é que pouco se fala sobre a quantidade de informações que o app exige ter para entregar o que promete.

A ideia do TestM é genial: oferecer um relatório sobre as condições do hardware do smartphone e funcionar como um selo de qualidade na troca e na venda de celulares usados. O serviço oferece uma bateria de testes, do funcionamento do acelerômetro ao estado do carregamento da bateria. Além disso, o app agrega o endereço de diversas assistências técnicas nas proximidades dos usuários e sugere o custo médio para o conserto dos problemas encontrados nos componentes internos do aparelho.

A bem da verdade é que, se analisados separadamente, estes serviços não são exclusivos, mas o que realmente chama a atenção é que estão todos reunidos em apenas um aplicativo. E isso é muito atraente.

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Esse é o tutorial de início do TestM – Smartphone Condition Check & Quality Report

Acontece que, depois de fazer o download do TestM e abrir o aplicativo, uma luz vermelha vai lentamente se acendendo no nosso subconsciente a cada pedido de permissão de acesso. São pelo menos cinco exigências que requerem a real atenção dos usuários: localização, tirar fotos e gravar vídeos, fazer chamadas telefônicas, gravar áudio e acessar fotos, mídia e arquivos no dispositivo. Você pode ver todas as capturas de tela do teste do Google Pixel 3 aqui.

Além disso, o aplicativo coleta alguns dados pessoais dos usuários, tais como acesso à conta do Facebook (permissão: email), Google Analytics e AppsFlyer (cookies e uso de dados), Flurry Analytics (cookies, uso de dados e “vários tipos de dados como especificado nas políticas de privacidade do serviço) e contato com o usuário.

Antes do pedido de permissão, no entanto, uma mensagem aparece com a seguinte declaração: “As permissões que seguem são necessárias para testar o seu celular e serão utilizadas somente durante o procedimento do teste”. Contudo, depois de reunir os dados do aparelho em um relatório, o serviço oferece a opção de enviar o documento para um possível comprador ou, até mesmo, compartilhar o resultado nas redes sociais. Acontece que isso é realmente perigoso. Além disso, o serviço não vale realmente a pena.

TestM: avaliações generalistas e pobres

Utilizei o aplicativo TestM em três smartphones diferentes: Google Pixel 3, Samsung Galaxy S8 e Xiaomi Redmi Note 4. Com apenas uma exceção, que explico na sequência, todos os três modelos apresentaram o mesmo resultado: bom!

Apesar da ideia do aplicativo ser genial, os testes são bastantes simplórios. Para testar o alto-falante, por exemplo, toca uma gravação falando três números, os quais você precisará ouvir e digitar em uma segunda tela. Você pode repetir essa ação, caso o número digitado não corresponda ao que foi falado. Logo, não podemos considerar essa ação um teste para medir a qualidade do áudio.

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Os teste não possuem nenhum embasamento técnico que justifique a utilização deste aplicativo

Além disso, para o teste das câmeras, é preciso posicionar a lente na frente do rosto dos usuários, tanto na câmera traseira quanto na frontal. Para onde vão essas imagens depois?

Se você acompanha minha trajetória, provavelmente, sabe que o vidro da tela do meu Galaxy S8 está quebrado há meses. Logo, seria bastante lógico para mim querer vender o dispositivo e poder contar com um relatório que identifique o atual status do aparelho. Porém, apesar da tela estar bastante danificada, o resultado do teste foi igual ao do Pixel 3. E isso é realmente péssimo para um serviço que promete servir como uma certificação de qualidade.

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O vidro da tela do Galaxy S8 está quebrado e é bem ruim de usar este canto da tela, mesmo no teste tive que forçar o reconhecimento do toque

É claro que, no meu caso, não vou mentir para um possível comprador do aparelho falando que a tela está em perfeitas condições. Porém, existe quem possa fazer isso.

Outra questão é que, se você pular etapas do “teste completo”, que faz até 20 análises de componentes de hardware, o aparelho será avaliado para baixo, ou seja, perderá pontos. Por exemplo, o S8 está sem cartão SIM, e o teste apontou isso como um problema. O teste de verificação do Bluetooth também deixa a desejar, visto que, mesmo não havendo um dispositivo próximo para pareamento, é considerado “bom”, sendo que o aplicativo solicita que o usuário esteja dentro de uma área com aparelhos compatíveis com a tecnologia.

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Recursos não utilizados no smartphone ou ignorados durante o teste, desqualificam o aparelho

TestM: um grande streaming de anúncios

Não bastasse isso, a cada teste de hardware, uma propaganda é aberta. E essa estratégia possui duas finalidades de monetização do serviço: ou os desenvolvedores ganham em cima do espaço para anúncios ou com a compra da versão Pro do aplicativo. Essa última, aliás, eu não aconselho, pois a versão gratuita não entrega algo que valha realmente o investimento.

E não me leve a mal, eu entendo a necessidade das propagandas em aplicativos, porém, quando um serviço serve apenas como uma espécie de streaming de anúncios, aí o valor dele diminui.

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São muitos anúncios gerados durante o teste

TestM: a banalidade das informações do smartphone

É claro que as informações sobre o seu smartphone, tais como memória RAM, processador ou versão do sistema operacional, podem ser encontradas através de uma pesquisa rápida em qualquer motor de busca. Porém, existe um dado que é exclusivo do seu aparelho, o número do IMEI. Esta informação é considerada o documento de identificação do celular, pois só o seu aparelho tem esse número, que pode ser utilizado para diversos fins, como bloquear o aparelho direto na operadora em caso de perda ou roubo.

No Brasil, país em que são comercializados muitos smartphones piratas e frutos de roubo, o número de IMEI virou produto deste comércio ilegal. Isso acontece porque é possível transformar um smartphone com IMEI bloqueado, em um celular funcional em questão de poucos minutos, utilizando uma máquina desenvolvida para a mudança de IMEI e, claro, um número identificador válido.

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A empresa convida os usuários a compartilhar publicamente o IMEI dos aparelhos

Contudo, poucas pessoas sabem disso e, agindo de boa fé, compartilham esta informação publicamente. Logo, cabe à indústria alertar os usuários neste sentido. Porém, agindo na contramão da informação, o TestM sugere que as pessoas compartilhem este tipo de informação com outras, sem sequer alertá-las dos perigos de enviar o número do IMEI para terceiros.

Com os avanços tecnológicos, nossos smartphones passam a ter uma importância muito grande para sairmos por aí compartilhando as informações contidas neles. O que de pior poderia acontecer, caso o seu IMEI fosse roubado? Bom, o aparelho pararia de funcionar e se transformaria em um peso de papel.

O TestM afirma que faz a verificação do IMEI para garantir que o mesmo não é roubado, porém, existem outras formas de fazer isso, inclusive, através do site da própria Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

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O sistema de testes não é confiável e praticamente tudo é considerado “bom”

TestM: não recomendado

Essa é a descrição do aplicativo na Google Play Store: “O TestM é um aplicativo de hardware de diagnóstico completo disponível para seu smartphone e dispositivos inteligentes. Use o TestM para verificar as especificações do seu smartphone e criar certificados exatos para que você possa comprar, vender, e reparar o que você precisa e nada mais. Envite o relatório ao site de classificados ou ao Mercado Livre e venda seu telefone ainda hoje.”

Três pontos chamam a minha atenção aqui: “aplicativo de hardware de diagnóstico completo”, “criar certificados exatos” e “‘envie’ o relatório ao site de classificados ou ao Mercado Livre”. Os dois primeiros por serem uma completa mentira, pois o app não faz um diagnóstico completo da aparelho ou cria certificados exatos, realizei três testes e o diagnóstico é generalista. O último é uma ode à irresponsabilidade, pois não se deve compartilhar o número de IMEI do celular em páginas públicas.

Contudo, o que mais me chama a atenção é a quantidade de permissões exigidas, incluindo o uso da impressão digital dos usuários, um dado que fica armazenado no celular por padrão e não é salvo em servidores por uma questão de segurança. No Manifesto do Aplicativo, podemos ver todas as permissões exigidas, confira:

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Por fim, preciso dizer que o que o serviço entrega não justifica oferecer acesso a todas as informações exigidas. Minha opinião sobre o TestM – Smartphone Condition Check & Quality Report é simples: não utilize!

Artigo atualizado dia 24 de junho de 2019, às 08h45min: confira a declaração da equipe de desenvolvedores do TestM, enviada ao Olhar Digital:

Obrigado por entrar em contato com o TestM – líder global em saúde e diagnóstico de dispositivos móveis. Conseguimos essa posição devido ao trabalho árduo e total conformidade com as regras e regulamentações globais da loja de aplicativos, incluindo Google e Apple.

1. Não armazenamos nenhuma informação, exceto os resultados dos próprios testes reais que foram realizados, bem como o número IMEI no dispositivo. Além desses dois fatores, não armazenamos informações adicionais em nossos servidores.

2. Não tiramos uma foto, mas usamos software de reconhecimento facial para não armazenar imagens em nossos servidores.

3. Nós não temos nenhuma informação pessoal, isso vale para o reconhecimento de impressões digitais, a única informação que temos em nossos servidores é se o teste foi bem sucedido ou não.

4. O número IMEI está apenas confirmando a validação do relatório, está sob o regulamento global do Google, incluindo os mercados brasileiros.

5. Com relação ao teste de tela, verificamos os componentes digitalizados do telefone e não a superfície do telefone, portanto, em alguns casos, o teste é bem-sucedido porque esse componente específico estava perfeitamente correto. Para nossos parceiros comerciais, alguns deles incluídos no mercado brasileiro, temos uma gama muito mais ampla de soluções como líder global, este teste também é capaz de verificar a superfície do telefone, mas infelizmente essa não é a versão que você baixou.

6. O objetivo dos relatórios é fornecer a você uma fonte confiável do estado em que seu telefone está atualmente. Você pode usar esses relatórios nos dois sentidos, se quiser vender seu dispositivo atual ou se desejar comprar um dispositivo de segunda mão.

Esses são os únicos dados que armazenamos, pois também são dados públicos que qualquer pessoa pode acessar ou usar em benefício próprio.

Nós, como empresa, estamos interessados ​​em promover nosso produto nos mercados brasileiros, como a empresa líder no campo do diagnóstico confiável de dispositivos para smartphones.