Após 15 anos, grafeno começa a cumprir as promessas ‘quase mágicas’

Isolado e caracterizado em 2004, o material é caracterizado como o futuro de várias tecnologias, mas ainda está engatinhando
Renato Santino07/10/2019 21h30, atualizada em 07/10/2019 21h50

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O grafeno é uma das grandes promessas da indústria tecnológica. O material à base de carbono há anos é apontado como revolucionário, graças a uma combinação de características que incluem a leveza, flexibilidade, condutividade e resistência, capaz de dar propriedades quase mágicas a objetos de todos os tipos. Essa revolução teve início há 15 anos, quando, no ano de 2004, os pesquisadores Andre Geim e Konstantin Novoselov conseguiram redescobrir, isolar e caracterizar o material, que lhes renderia o prêmio Nobel de física de 2010.

De lá para cá, no entanto, o grafeno ainda não conseguiu alcançar seu potencial, sendo utilizado em algumas aplicações esporádicas. Isso não significa que o material não seja tão capaz quanto inicialmente se imaginava, mas sim que cumprir todas as suas promessas é algo que leva tempo.

Em artigo publicado na revista Nature Nanotechnology, o Graphene Flagship, projeto lançado em 2013 com investimento da Comissão Europeia que já tem 150 parceiros em 23 países, a perspectiva atual é de que o mundo deve começar a sentir os verdadeiros avanços proporcionados pelo grafeno a partir da próxima década, como aponta o site SciTech Europa.

No curto prazo, algumas aplicações mais próximas da realidade já podem ser verificadas no mercado de materiais. Já vemos roupas de grafeno, como, por exemplo, esta jaqueta da Vollebak, que promete armazenar energia para esquentar o usuário de forma ativa, em vez de apenas impedir que o calor do corpo seja dissipado para o ambiente. O grafeno também poderia ser usado em nanossensores em embalagens de comida, que poderia analisar a qualidade do alimento, permitindo detectar agrotóxicos.

A questão da energia é uma das mais importantes para os pesquisadores de grafeno. Não à toa, recorrentemente o grafeno é apontado como o futuro das baterias, que hoje são o grande gargalo da tecnologia móvel, como substitutos da tecnologia de íon-lítio. Os componentes de grafeno seriam recarregados muito mais rápido do que os convencionais e armazenariam mais energia. Especula-se que a Samsung já esteja trabalhando em um smartphone com bateria de grafeno, e que ele poderia chegar ao mercado em algum momento entre 2020 e 2021; a iniciativa da coreana surgiu após o desastre do Galaxy Note 7, que entrava em combustão devido às características do íon-lítio.

O Graphene Flagship aponta que é no médio prazo, no entanto, que os impactos mais profundos do grafeno poderão ser sentidos. O material deve ser chave para o setor energético; em 2020, será instalado uma central fotovoltaica para geração de energia solar utilizando o grafeno, que pretende servir como demonstração a eficiência do material nesse quesito, contribuindo para a questão da sustentabilidade, que é uma bandeira assumida pela União Europeia nos últimos anos.

Em um futuro um pouco mais distante, daqui a uns 10 ou 15 anos, a organização espera que os saltos sejam ainda mais drásticos e sentidos no que tange à optoeletrônica, proporcionando ganhos de desempenho em magnitudes muito maiores do que vemos atualmente.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital