José Vicente Macedo Filho e Ana Lúcia Minuzzi são biomédicos em Goiânia (GO). Eles administram o laboratório da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) da cidade — que participa do Programa Nacional de Triagem Neonatal.

Durante os atendimentos na unidade — que, somente em 2018, fez 450 mil exames em amostras de 90 mil gestantes —, os profissionais passaram a se preocupar com a demora na entrega de resultados às pacientes. Isso porque todo processo dependia da logística dos Correios.

Esse laboratório atende, em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), todo o estado de Goiás. “Para algumas cidades do interior, o processo podia demorar meses. Essa ineficiência prejudica a qualidade do pré-natal como um todo e, consequentemente, a saúde da mãe e do bebê”, diz Ana Lúcia.

Em casos em que há alguma condição que possa afetar as vidas da mãe e do bebê, isso é um grande complicador. E se as grávidas forem adolescentes ou tiverem mais de 30 anos de idade, os riscos podem ser grandes, já que nessas faixas etárias há mais chances de agravantes. Ter exames em mãos rapidamente é, então, crucial.

Caminho mais curto

Foi aí que o casal teve uma ideia: usar a tecnologia para simplificar esse relacionamento. Ana Lúcia lembra que, inicialmente, criaram uma plataforma online. “Só que, infelizmente, nem todo mundo tem computador”, destaca. “Notamos, entretanto, que a grande maioria das gestantes atendidas tem celular. Então, concluímos que um app poderia ser a resposta.”

Para desenvolver a ferramenta, eles recorreram à Poli Júnior, a empresa júnior da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Lá, um grupo de cinco estudantes de engenharia elétrica criou o aplicativo Teste da Mamãe, que ajudou a tornar a entrega dos resultados desses exames mais ágil.

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Com isso, o tempo de espera diminuiu em pelo menos dez dias. “Existia um gargalo na entrega desses exames, entre a saída do laboratório e a chegada às pacientes, em razão da logística necessária”, diz Gabriel dos Anjos, que cursa o 3º ano de engenharia elétrica e é o líder técnico de projetos da equipe.

Ele explica que a redução no tempo necessário para a obtenção dos resultados de exames tornou o processo mais eficiente. “Com o app, a eficácia aumentou, já que o problema principal era justamente essa demora”, informa Anjos.

Extras e diferenciais

Um dos diferenciais mais importantes da ferramenta é o fato de a gestante ter, sempre com ela, todos os exames realizados no decorrer do pré-natal. “Se ela for para uma outra cidade, por exemplo, e precisar passar por atendimento médico, pode mostrá-los ao profissional que a receber”, ressalta Ana Lúcia.

Além de resolver o problema relatado por Macedo Filho e Ana Lúcia, os desenvolvedores da solução decidiram acrescentar alguns extras a ela. Entre os adicionais está um calendário, que a gestante pode atualizar com informações sobre como se sente a cada dia. Tudo isso é, então, enviado ao médico que a acompanha.

Anjos conta, ainda, que os desenvolvedores incluíram inteligência artificial no app. A paciente pode conversar com um chatbot sobre a gestação e tirar as dúvidas mais comuns diretamente no sistema. “Ele pode orientá-la em algumas situações ou indicar a necessidade de visitar o médico em outras”, detalha.

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O Teste da Mamãe foi desenvolvido pelos estudantes em seis meses, está disponível para o sistema Android e já teve mais de 2 mil downloads. “É uma ferramenta que traz valor para a gestante”, acredita Anjos. “Já pensamos até na possibilidade de expandir seu uso para todo o Brasil.”