35 anos atrás a Microsoft, até então mais conhecida pelo sistema operacional usado no IBM PC e compatíveis, o MS-DOS, lançou um produto chamado Windows. Seu objetivo era facilitar o uso do computador graças a um conceito e ferramenta revolucionários: a inteface gráfica e o mouse. Em vez de memorizar e digitar comandos complexos, bastava apontar para opções na tela.
Não foi um sucesso imediato, mas ao longo de vários anos e múltiplas versões o sistema foi crescendo e conquistando espaço, até dominar completamente a computação pessoal. Não faltam alternativas, como o Linux e mac OS, mas para muitas pessoas o Windows é sinônimo de “PC”, e é inconvebível que um possa existir sem o outro.
Neste artigo vamos contar um pouco desta longa jornada, relembrando as versões passadas do Windows e seus principais destaques. Vale notar que vamos falar apenas das versões para computadores domésticos. Existe toda uma outra linha do tempo para o Windows NT, voltado para o mercado corporativo, além do Windows Server, para servidores. Isso sem falar nos sistemas operacionais para dispositivos móveis, como o Windows CE e Windows Phone.
Windows 1.0 (1985)
Lançado em 20 de novembro de 1985, o Windows 1.0 foi o começo de tudo. O software era uma interface gráfica (e não um sistema operacional) que rodava sobre o MS-DOS, e não tinha um “desktop” como conhecemos hoje: o principal elemento da interface era um gerenciador de arquivos. Vinha com apps como o Paint, calculadora, agenda, editor de texto (o Write) um jogo simples, o Reversi.
Era possível ver vários aplicativos na tela ao mesmo tempo, divindindo-a meio a meio como no Android, algo revolucionário na época. Os apps abertos eram representados por ícones no rodapé da tela, o que lembra uma versão rudimentar da barra de tarefas do Windows 10.
A primeira versão do Windows não foi popular. Ela foi apenas uma das muitas interfaces gráficas para o PC que surgiram após o lançamento do Macintosh, da Apple. Uma das principais críticas era que o sistema era “pesado”, exigindo no mínimo um PC XT com dois drives de disquetes e 192 kB (sim, quilobytes!) para rodar, com 256 ou 512 kB sendo o recomendado, além de um mouse e uma placa de vídeo com modo gráfico.
Windows 2.0 (1987)
Esta foi a primeira versão do Windows onde a janela de um aplicativo podia ser sobreposta às outras, algo que para nós parece trivial. Também foi nela que termos relacionados ao gerenciamento de janelas como “Minimizar” e “Maximizar” fizeram sua estréia, e que muitos comandos ganharam atalhos de teclado, já que uma das críticas ao Windows 1.0 era que ele dependia demais do mouse.
O Windows 2.0 também foi a primeira versão capaz de tirar proveito do poder de processamento das CPUS Intel 286 e 386, sendo que no 386 era capaz de executar múltiplos programas MS-DOS ao mesmo tempo, cada um em uma sessão “virtual” do MS-DOS.
Windows 3.x (1990)
O Windows 3.0 foi a primeira versão do sistema a ser um sucesso de crítica e público, com elogios à sua capacidade de multitarefa e facilidade de uso. Com inovações como o Gerenciador de Programas (responsável pelo desktop) e File Explorer (gerenciador de arquivos), ele estabeleceu o visual padrão do Windows peos próximos cinco anos.
Foi nele que surgiu o clássico Paciência, um dos jogos mais populares do mundo, e que os PCs deram os primeiros passos rumo à multimídia, com uma extensão chamada WIndows 3.0 with Multimedia Extensions que adicionava suporte a gravação e reprodução de som, dispositivos MIDI e joysticks analógicos.
Em 1992 surgiu o Windows 3.1, a primeira versão a se tornar popular aqui no Brasil, graças ao fim de uma reserva de mercado que limitava a importação de hardware e software. Foi nele que surgiram as fontes TrueType, que tornaram o sistema uma opção viável para “Desktop Publishing” (DTP, diagramação digital de livros, jornais e revistas) e coisas que consideramos corriqueiras, como a capacidade de arrastar um arquivo para o ícone de um programa para que ele seja aberto.
Windows 95 (1995)
Apoiado por uma campanha de marketing bilionária, que incluiu o licenciamento da música “Start Me Up”, dos Rolling Stones, e um vídeo com os atores Jennifer Anniston e Matthew Perry, de Friends, o Windows 95 chegou fazendo muito barulho. No mundo todo usuários fizeram fila nas portas das lojas no dia do lançamento para conseguir uma cópia do software que prometia tornar os PCs ainda mais fáceis de usar.
Foi nele que o Menu Iniciar e a Barra de Tarefas fizeram sua estréia, conceitos tão diferentes na época que toda uma indústria de livros e cursos surgiu para “treinar” os usuários no novo sistema. Sim, ter um “curso de Windows 95” no currículo já foi uma vantagem!
O Windows 95 prometia facilitar o upgrade do computador graças à tecnologia Plug & Play: bastava plugar uma placa de expansão (como placa de vídeo, som, modem, etc) e instalar um driver para começar a usá-la, sem ter que se preocupar em configurar IRQs e endereços de memória manualmente. Nem sempre dava certo, mas era melhor do que antes.
Também foi a primeira versão do Windows “pronta para a internet” e redes em geral, com uma pilha TCP/IP integrada como parte do sistema operacional. O protocolo é, até hoje, a espinha dorsal de nossas redes de comunicação. Por fim, foi no Windows 95 que a hegemonia do MS-DOS como principal sistema operacional para computadores pessoais começou a diminuir.
Versões Windows de aplicativos como editores de texto, de imagem e planilhas já existiam há tempo, mas o melhor suporte a multimídia fez com que os desenvolvedores de jogos, que ainda estavam agarrados ao MS-DOS, começassem a migrar para o sistema. O responsável por isso foi o DirectX, um conjunto de interfaces de programação que tornou muito mais fácil lidar com gráficos, sons e joysticks.
Windows 98 (1998)
O foco principal do Windows 98 era a Internet. O Internet Explorer se tornou um componente do sistema operacional (o que rendeu um processo à Microsoft) e até mesmo o bom e velho desktop foi “conectado”: um recurso chamado Active Desktop permitia mostrar sobre o papel de parede informações e widgets vindas de sites da web, atualizadas sempre que o computador fosse conectado à internet.
Ele foi também a primeira versão do Windows com suporte nativo a USB, drives de DVD e ao barramento AGP, usado para placas de vídeo aceleradoras 3D, que estavam se popularizando na época.
Windows Me (2000)
O Windows Millenium Edition foi um “tapa buraco” entre o Windows 98 e o Windows XP, e ficou apenas um ano no mercado. Foi a última versão do Windows que ainda rodava sobre o MS-DOS, e tinha como principal atrativo um melhor suporte à criação e consumo de conteúdo, com utilitários com o Windows Movie Maker, Windows DVD Player e Windows Media Player integrados ao sistema.
Entretanto, foi visto por muitos como um upgrade desnecessário, pois trazia pouca coisa que já não estava disponível ou podia ser adicionada ao Windows 98. Além disso, ganhou má fama por problemas com desempenho e estabilidade. Em junho deste ano, foi nomeado como o “pior sistema operacional de todos os tempos” em um ranking da revista PC World.
Windows XP (2001)
Depois de 16 anos, o Windows finalmente se tornou um sistema operacional “de verdade”. O Windows XP não dependia mais do velho MS-DOS por debaixo dos panos e era baseado no Windows NT, criado para o mundo corporativo. Com isso a Microsoft uniu os dois mercados sob um único sistema.
A interface gráfica foi renovada, ganhando mais cores e efeitos e abandonando o visual “cinzento” adotado desde o Windows 3.0. O papel de parede padrão (chamado Bliss), com montes verdes sob um céu azul, se tornou uma das imagens mais famosas do mundo.
O sistema operacional ganhou mais desempenho e estabilidade (embora as infames “telas azuis” ainda fossem comuns), e suporte a novas tecnologias como USB 2.0, Firewire 800 e ClearType, para melhorar a legibilidade das fontes nos então novos monitores LCD.
O recurso de “troca rápida de usuários” popularizou a prática de cada usuário do computador ter sua própria área de trabalho e preferências, tornando o computador, mesmo que compartilhado, mais “pessoal”.
Foi no XP que a Microsoft começou a integrar mais recursos de segurança ao sistema operacional, como a Central de Segurança do Windows XP Service Pack 2, que facilitava a configuração de recursos como o firewall do sistema e alertava caso não houvesse proteção antivírus instalada.
Windows Vista (2007)
Uma das versões mais detestadas do Windows (junto com o Me), o Vista nasceu de um projeto interno da Microsoft chamado Longhorn, uma “revolução” no Windows que incorporaria várias tecnologias avançadas ao sistema operacional. Entretanto, um processo de desenvolvimento conturbado fez com que a Microsoft perdesse o foco, com recursos sendo adicionados de forma desorganizada e sem uma preocupação com o produto final.
Portanto, em 2004 a empresa apertou o reset, paralisou o projeto Longhorn e reiniciou o desenvolvimento, adotando uma metodologia que focava na alta qualidade de código e modularidade. Recursos do Longhorn considerados maduros o suficiente foram mantidos, enquanto outros foram adiados para futuras versões do Windows.
O principal foco do Vista foi a segurança, após vários incidentes com Worms e vírus que afetaram milhares de usuários do Windows XP ao longo dos anos. Recursos como o UAC (User Acess Control, a janela que pede permissão ao usuário antes de um aplicativo modificar partes do sistema) nasceram desta preocupação.
A interface foi novamente remodelada, com mais efeitos e transparências, um estilo visual que foi chamado de “Aero”. Recursos como a busca instantânea, reconhecimento de voz, o Windows Defender (um anti-malware) e um utilitário de backup e restauração de dados foram integrados ao sistema, e o Windows Update foi simplificado.
Entretanto, todos estes recursos exigem mais hardware, e o Vista rapidamente ganhou fama de ser um sistema lento e pesado. Mudanças no sistema de drivers introduziram instabilidade no funcionamento de vários componentes do hardware, e os usuários não se acostumaram com recursos como o UAC, que exigia confirmação para realizar ações que antes eram automáticas.
Windows 7 (2009)
O Windows 7 adicionou melhor suporte a recursos comuns a muitos dos computadores modernos, como processadores com múltiplos núcleos, unidades SSD e múltiplas placas de vídeo. Além disso, a estabilidade e o desempenho melhoraram significativamente em relação ao Windows Vista.
Agora era possível prender apps à barra de tarefas, e os ícones podiam ter atalhos (“jump lists”) para tarefas comuns dentro de um app. O gerenciamento de janelas também ganhou novidades: um recurso útil que surgiu foi a possibilidade de “colar” janelas à direita ou esquerda da tela, facilitando rodar dois apps lado a lado, com cada um ocupando metade dela. Algo que, curiosamente, era padrão no Windows 1.0.
O sistema foi bem recebido e geralmente visto como um bom upgrade em relação ao seu antecessor. Curiosamente, ele ficou ainda mais popular depois que o Windows 8 foi lançado, por motivos que vamos explicar a seguir
Windows 8 (2012)
Em 2012, o visual e comportamento padrão do Windows estavam bem estabelecidos. Apesar de evoluções ao longo dos anos, o “jeitão” do sistema era basicamente o mesmo desde o Windows 95: barra de tarefas no rodapé da tela, relógio no canto interior direito, menu iniciar no canto inferior esquerdo e apps rodando em janelas que podiam ser posicionadas e sobrepostas à vontade.
E então a Microsoft, uma empresa notoriamente avessa a grandes mudanças, fez o impensável no Windows 8: mudou completamente toda a interface do sistema de uma vez só. Inspirada pela popularidade de smartphones e tablets, ela decidiu trocar o Menu Iniciar pela “Tela Iniciar”.
O desktop foi substituído por blocos coloridos, de vários tamanhos e divididos em categorias, representando os apps. Alguns destes blocos podiam ser dinâmicos, trazendo informações constantemente atualizadas como notícias, o nome música que está tocando no Media Player ou a previsão do tempo.
O Windows 8 trouxe uma interface completamente nova, otimizada para PCs com telas de toque. Imagem: Kleineganz, via Pixabay
O design era parte de uma linguagem visual chamada Metro, uma evolução da usada no Windows Phone, com mais espaço entre os elementos da tela, títulos grandes e menus simplificados, com cores primárias sendo usadas para dar destaque. A ênfase era em aplicativos rodando em tela cheia, reduzindo a “poluição visual”.
O sistema ganhou uma loja de aplicativos, e surgiram duas classes de apps, os “tradicionais”, que adotavam o visual e convenções de uso dos sistemas passados, e os modernos, que adotavam a nova linguagem. Apenas os modernos estariam disponíveis na loja.
Segundo a Microsoft, uma justificativa para a mudança foi a necessidade de tornar o Windows mais fácil de usar em PCs com telas sensíveis ao toque, que estavam começando a se popularizar. O velho desktop ainda estava disponível, mas escondido como um “aplicativo” dentro da Tela Iniciar.
Os usuários, claro, detestaram a idéia. Além de ter que aprender a lidar com uma interface completamente nova, os dois “mundos” entravam constantemente em choque, e não era raro uma mesma ação ter resultados completamente diferentes dependendo do app que você estava usando.
Tarefas simples em um lado eram complexas ou impossíveis no outro, e por aí vai. Um exemplo era a configuração do sistema: metade das coisas tinha que ser feita no “velho” painel de controle do Windows 7, e a outra metade no novo app Configurações.
A Microsoft inicialmente bateu o pé, dizendo que a nova interface era o futuro e que os usuários teriam que se acostumar. Rapidamente, dezenas de utilitários surgiram para desabilitar a nova interface e fazer o sistema se comportar de uma forma mais familiar.
A pressão foi se acumulando, e no Windows 8.1 a empresa finalmente cedeu e deu ao usuário a opção de escolher qual seria a interface padrão do sistema, a “nova” ou a clássica.
Windows 10 (2015)
Finamente chegamos ao Windows 10. O principal destaque desta versão foi a reversão da interface para o tradicional paradigma desktop do Windows 7, com Barra de Tarefas e Menu Iniciar. Recursos do Windows 8 como os apps modernos e a loja de aplicativos persistem, mas de forma muito mais integrada à interface tradicional, e muito mais familiar aos usuários de longa data.
Para tirar o “gosto ruim” da boca dos usuários e incentivar a migração a Microsoft fez algo inédito: ofereceu o sistema, durante um ano, como um upgrade gratuito para qualquer usuário que já tivesse uma cópia legalizada do Windows 7 ou 8 no computador. Mesmo após o fim deste período, ainda é possível migrar gratuitamente uma cópia do Windows 7 para o Windows 10.
O sistema chama a atenção pois está em constante evolução: a Microsoft lança semestralmente um pacote de atualizações que, além de corrigir bugs, adiciona novos recursos ou modifica os antigos, o que faz com que o Windows 10 que você usa hoje seja muito diferente do que foi lançado há cinco anos.
Além disso, estas atualizações são gratuitas, entregues via Windows Update. De certa forma, o Windows passou a se comportar como o mac OS, que anualmente ganha uma nova versão, disponível a todos os usuários. Basta clicar em “atualizar” e esperar o download.
A diferença é que o mac OS ganha uma nova versão ou codinome a cada ano (como Yosemite, Catalina ou Big Sur), enquanto as novas versões do Windows continuam sendo, como um todo, o “Windows 10”.
Não sabemos o que o futuro reserva para os nossos computadores pessoais. Talvez eles sejam aparelhos com duas telas, como o tablet Surface Neo e seu Windows 10x. Ou então PCs dobráveis, como o Lenovo Thinkpad X1 Fold. Quem sabe portáteis baseados em processadores ARM, como o Surface Pro X. Mas pode apostar: provavelmente o Windows ou seus descendentes estarão, de alguma forma, rodando neles