Ontem o Google deu um passo malandro ao soltar um teclado para iOS. Disponível por ora apenas para quem tem conta na App Store americana, a novidade está no meu iPhone desde as primeiras horas após o lançamento, e a minha impressão até agora é justamente essa descrita na primeira linha to texto: o Google é muito malandro.
Não que o chamado Gboard seja ruim. Na verdade, ele tem se mostrado o melhor teclado que eu já testei no iPhone – incluindo o que vem no iOS. Só que a existência dele num aparelho da Apple cria um problema ideológico para a empresa comandada por Tim Cook… vou chegar lá daqui a pouco.
Por que ele é muito bom? O teclado faz uma ponte direta com o buscador, o que facilita a comunicação. Qualquer extensão à conversa deixa de estar a um aplicativo de distância, você simplesmente aciona o Google e está tudo certo. Seja para achar endereço de restaurante, uma notícia… tudo que puder ser encontrado pelo Google está no seu teclado.
Além disso, o Gboard é uma máquina de GIFs, o que é muito útil no Messenger – embora o app do Facebook ofereça suporte a GIFs, nada como a amplitude do Google nessas horas. Sem contar que há também uma ligação direta com os emojis, então não é preciso manter o teclado Emoji ativo, já que com o pressionar de um botão o usuário encontra a ilustração que quiser – aliás, ao digitar coisas como “haha”, o Gboard sugere emojis equivalentes, o que é bem conveniente.
Tudo isso tem um preço, entretanto. E é aí que entra a malandragem do Google. A Apple vem há anos batendo na tecla de que a proteção dos dados dos usuários é parte importantíssima do seu negócio. A empresa vive dizendo que não quer saber o que os clientes fazem com seus produtos, tanto que recentemente comprou uma briga homérica com o FBI para não ser obrigada a hackear um iPhone usado por terroristas.
Aí chega o Google com um produto que essencialmente permite que a empresa saiba tudo o que você digita no iPhone ou iPad. Teclado é algo tão enraizado num sistema operacional que ele está presente em praticamente todos os aplicativos. Basta o app permitir (ou demandar) alguma entrada de texto e lá estará o Google, passando por cima de todo o discurso sobre privacidade da Apple.
Ainda não está claro como a gigante de buscas pretende ganhar dinheiro com o Gboard, mas é provável que ela explore essas informações vendendo publicidade ainda mais direcionada. Não seria nenhuma novidade, claro, mas é bom ter em mente que a empresa não lançaria um teclado tão bem feito só porque quer que as pessoas sejam mais felizes na digitação.
Em breve o Gboard deve chegar à loja brasileira, em português, e eu sugiro que os curiosos baixem ao menos para testá-lo. Se você não se importa tanto com esse nível de coleta de dados, provavelmente terá uma boa experiência.